tag:blogger.com,1999:blog-39172967455806746652024-02-19T16:21:42.787-08:00Coisas do Mundo, Minha NêgaUm espaço para falar de boa música (o nome do Blog é uma homenagem a um dos mais lindos sambas do Mestre Paulinho da Viola - aliás, é a preferida do próprio), futebol-arte, vinhos, charutos, política, sinuca, meio ambiente, belas mulheres, cidadania, boemia, solidariedade, filmes, malandragem (a boa!) viagens, poesias, teatro, tangos, boleros, tragédias, amores, desamores e dores de cotovelo...Coisas do Mundo, Minha Nêgahttp://www.blogger.com/profile/10176436942034049161noreply@blogger.comBlogger261125tag:blogger.com,1999:blog-3917296745580674665.post-32300486878956681062016-06-22T12:38:00.000-07:002016-06-22T12:40:32.562-07:00La Mano de Dios - 30 anos do eterno jogo de Maradona diante dos ingleses <div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgz6wV-kNuDygXT5E-eYw1Shg1623L3j-KG0cHKKxsztFajQdAQna7g6_w_MphszGZIYfhsQvisjTzJnS-Mn0Ldj5x8szv0AsWWgC8GLJEqV4Q51gD8yZyPs7zuq70xC9IYkQT97A50g2o/s1600/GOL-MARADONA.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="296" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgz6wV-kNuDygXT5E-eYw1Shg1623L3j-KG0cHKKxsztFajQdAQna7g6_w_MphszGZIYfhsQvisjTzJnS-Mn0Ldj5x8szv0AsWWgC8GLJEqV4Q51gD8yZyPs7zuq70xC9IYkQT97A50g2o/s640/GOL-MARADONA.jpg" width="640" /></a></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; mso-line-height-alt: 10.0pt; vertical-align: baseline;">
<strong><span style="border: none windowtext 1.0pt; font-size: 14.0pt; font-weight: normal; mso-bidi-font-weight: bold; mso-border-alt: none windowtext 0cm; padding: 0cm;"><br /></span></strong></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; mso-line-height-alt: 10.0pt; vertical-align: baseline;">
<strong><span style="border: none windowtext 1.0pt; font-size: 14.0pt; font-weight: normal; mso-bidi-font-weight: bold; mso-border-alt: none windowtext 0cm; padding: 0cm;">Você pode não gostar de Diego Armando Maradona. Pode até não gostar das
suas atitudes como cidadão ou das suas visões sobre a política mundial. Pode
também rejeitá-lo por ser argentino – como se isso fosse um defeito. Ou até odiá-lo
por ter gozado os brasileiros depois de tomarem água “batizada” na Copa de 90.
Mas você o respeita. E como respeita! Ainda
mais se você foi testemunha ocular do memorável jogo da Copa do Mundo realizado
em 22 de junho de 1986, no México, quando o camisa 10 de mai estatura e
habilidade de um monarca deixou pelo chão uma tropa de súditos da Rainha marcando
o gol mais bonito da história do futebol. Antes, porém, profanou contra o trono
ao marcar o gol com “la mano de Dios”. Isso tudo logo depois de ver o seu povo
humilhado pela armada britânica na trágica aventura das Malvinas. Aqui, um
relato Eduardo Sacheri - </span></strong><span style="background: white; font-size: 14.0pt;">autor do livro homônimo que deu origem ao filme “O Segredo
dos Seus Olhos” – sobre a epopeia de Diego e da Argentina: <o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; mso-line-height-alt: 10.0pt; vertical-align: baseline;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 18.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; mso-line-height-alt: 10.0pt; vertical-align: baseline;">
<span style="color: #404040; font-family: "helvetica" , "sans-serif"; font-size: 14.0pt;">“(...) porque embora
nada nessa jogada mudará a realidade, pouco importa, porque lá estarão eles, em
suas casas, em suas ruas, em seus pubs, querendo comer os televisores de pura
raiva, de pura impotência, porque o sujeito saiu correndo olhando para o
árbitro de soslaio, enquanto esse caia no truque e apontava o centro do campo
(...)”. <o:p></o:p></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt; outline: 0px; vertical-align: baseline;">
<i><br /></i></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; mso-line-height-alt: 10.0pt; vertical-align: baseline;">
<strong><span style="border: none 1.0pt; color: #404040; font-family: "inherit" , "serif"; font-size: 14.0pt; padding: 0cm;"><i>Vocês terão que me desculpar</i></span></strong></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; mso-line-height-alt: 10.0pt; vertical-align: baseline;">
<i><b><span style="border: none 1.0pt; color: #404040; font-family: "inherit" , "serif"; font-size: 14.0pt; padding: 0cm;">
<strong>Por
Eduardo Sacheri</strong><br />
</span></b><span style="color: #404040; font-family: "helvetica" , "sans-serif"; font-size: 14.0pt;"><br />
Vocês terão que me desculpar. Sei que um homem que pretende ser cidadão de bem
deve se comportar segundo certas normas, aceitar certos preceitos, adequar seu
modo de ser a determinadas estipulações aceitas por todos. Sejamos mais
explícitos. Se quer ser um sujeito coerente, deve medir sua conduta e a dos
seus semelhantes, sempre com o mesmo critério. Não pode haver exceções, do
contrário bastardeia seu juízo ético, sua consciência crítica, seu critério
legítimo.<o:p></o:p></span></i></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; mso-line-height-alt: 10.0pt; vertical-align: baseline;">
<span style="color: #404040; font-family: "helvetica" , "sans-serif"; font-size: 14.0pt;"><i><br /></i></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 18pt; outline: 0px; vertical-align: baseline;">
<span style="color: #404040; font-family: "helvetica" , "sans-serif"; font-size: 14.0pt;"><i>Sei
que não devo andar pela vida reprovando os seus rivais e justificando os amigos
somente por serem rivais e amigos. Tampouco sou tão ingênuo para supor que
posso dissimular meus afetos e paixões, que os humanos possuem a idoneidade
suficiente para sacrificar o que sentem no altar da imparcialidade impoluta.
Digamos que eu vou por aí, tentando não me desviar do caminho correto, e que os
amores e os ódios não alterem irremediavelmente a lógica.<o:p></o:p></i></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 18pt; outline: 0px; vertical-align: baseline;">
<span style="color: #404040; font-family: "helvetica" , "sans-serif"; font-size: 14.0pt;"><i>Mas
vocês terão que me desculpar, senhores. Há um sujeito com quem eu não posso. E
olha que eu tento. Insisto em dizer a mim mesmo: não pode haver exceções, não
deve haver. E a desculpa que quero de vocês é ainda maior, porque o sujeito de
quem falo não é um bem feitor da humanidade, nem um santo varão, nem um valente
guerreiro responsável por consolidar a integridade da minha pátria. Não, nada
disso. O sujeito tem uma atividade muito menos importante, muito menos
transcendente, muito mais profana. Vou adiantar a vocês que o sujeito é um
esportista. Imaginem só, senhores. Já escrevi duzentas e cinquenta e duas palavras
sobre os critérios éticos e suas limitações, e tudo isso por um simples
cavalheiro que ganha a vida chutando uma bola.<o:p></o:p></i></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 18pt; outline: 0px; vertical-align: baseline;">
<span style="color: #404040; font-family: "helvetica" , "sans-serif"; font-size: 14.0pt;"><i>Vocês
poderão dizer que isso torna a minha atitude ainda mais reprovável. Talvez
tenham razão. Talvez por isso iniciei estas linhas me desculpando.<o:p></o:p></i></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 18pt; outline: 0px; vertical-align: baseline;">
<span style="color: #404040; font-family: "helvetica" , "sans-serif"; font-size: 14.0pt;"><i>Não
obstante, e apesar de tenho bem clara essa situação, não posso mudar minha
atitude. Não posso me sentir capaz de julgá-lo com o mesmo critério com o que
julgo o resto dos seres humanos. Eu sei que ele não é um pobre garoto saturado
de virtudes. El tem muitos defeitos, talvez tantos defeitos como quem escreve
estas linhas, ou como os que mais têm. Para este caso, dá no mesmo, pois apesar
de tudo, senhores, continuo sendo incapaz de julgá-lo. Meu discernimento se
detém diante dele, e o dispensa.<o:p></o:p></i></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 18pt; outline: 0px; vertical-align: baseline;">
<span style="color: #404040; font-family: "helvetica" , "sans-serif"; font-size: 14.0pt;"><i>Não
é um capricho, um cuidado exagerado. Não é um simples desejo. É algo um pouco
mais profundo, se me permitem qualificá-lo desse modo. Serei mais explícito: eu
o desculpo porque sinto que lhe devo algo. Lhe devo algo e sei que não tenho
como pagar. Ou talvez esta seja a peculiar moeda que eu encontrei para
pagar-lhe. Digamos que minha dívida moral se resigna ao hábito de evitar sempre
qualquer eventual reprovação.<o:p></o:p></i></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 18pt; outline: 0px; vertical-align: baseline;">
<span style="color: #404040; font-family: "helvetica" , "sans-serif"; font-size: 14.0pt;"><i>Cuidado,
pois ele não sabe disso. Meu pagamento é absolutamente anônimo, como anônima é
a dívida que conservo. Digamos que ele não sabe que lhe devo, e ignora os
ingentes esforços que faço uma e outra vez para pagar.<o:p></o:p></i></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 18pt; outline: 0px; vertical-align: baseline;">
<span style="color: #404040; font-family: "helvetica" , "sans-serif"; font-size: 14.0pt;"><i>Por
sorte, ou por desgraça, a oportunidade de exercitar este hábito se apresenta
frequentemente. É que falar dele, entre os argentinos, é quase um esporte
nacional. Para elevá-lo até a estratosfera, ou para condená-lo à fogueira
perpétua dos infernos. Nós argentinos, ao que parece, gostamos de convocar seu
nome e sua memória. É aí que eu tento ser mais sério, de opinar com certo
distanciamento, mas não consigo. O tamanho da minha dívida se impõe sobre mim.
E quando me convidam para falar, prefiro esquivar o caso, mudar de tema, ceder
minha vez de opinar na ágora do café da tarde. Não se trata tampouco de me
colocar no bando dos eternos bajuladores, nada disso. Evito tanto os elogios
superlativos como os dardos envenenados e traiçoeiros. Além do mais, já vi, com
o tempo, como mais de um do bando dos inquisidores se mudava ao dos que lhe aplaudiam,
e vice-versa, como se fosse o mais natural do mundo. Por certo, ambos bandos me
parecem absolutamente detestáveis.<o:p></o:p></i></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 18pt; outline: 0px; vertical-align: baseline;">
<span style="color: #404040; font-family: "helvetica" , "sans-serif"; font-size: 14.0pt;"><i>Por
isso eu fico calado, ou mudo de tema. E quando, às vezes, algum amigo não me
permite, porque me encurrala com uma pergunta direta, que invade o ambiente e
leva especificamente o meu nome, eu tomo ar, faço que penso e digo alguma
bobagem, ao estilo “ih, não sei, teria que pensá-lo”, ou talvez arrisco um “sei
lá, são tantas coisas para pensar”. É que tenho pudores demais, e evito me
expor como faço por aqui. Sou incapaz de condenar os meus amigos ao tórrido
suplício de escutar meus argumentos e minhas justificativas para eles.<o:p></o:p></i></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 18pt; outline: 0px; vertical-align: baseline;">
<span style="color: #404040; font-family: "helvetica" , "sans-serif"; font-size: 14.0pt;"><i>Para
começar, tenho que dizer que a culpa de tudo isso é do tempo. Isso mesmo, o
tempo. O tempo que se empenha em transcorrer, quando às vezes deveria
permanecer se congelar. O tempo que sempre nos faz a sacanagem de destruir os
momentos perfeitos, imaculados, inesquecíveis, completos. Porque se o tempo
parasse ali, imortalizando os seres e as coisas em seu ponto justo, nos livraria
dos desencantos, das corrupções, das ínfimas traições tão próprias dos mortais.
E, na verdade, é por esse caráter tão defeituoso do tempo que eu me comporto
como agora. Como quem busca uma forma de curar, com meus modestos alcances,
essas barbaridades injustas que o tempo nos faz sofrer. Em cada ocasião que
mencionam seu nome, em cada oportunidade na qual me convidam para adorá-lo ou
difamá-lo, eu abandono este presente absolutamente profano, e com a memória que
o ser humano conserva para os fatos essenciais, regresso àquele dia, ao dia
inesquecível em que me vi obrigado a selar este pacto que até hoje mantinha em
segredo. Minha memória é o passaporte para voltar no tempo ao lugar cristalino
do qual não deveria ter se movido, porque e o momento mais exato, o que merecia
se deter para sempre, pelo menos para o futebol, para ele, e para mim.<o:p></o:p></i></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 18pt; outline: 0px; vertical-align: baseline;">
<span style="color: #404040; font-family: "helvetica" , "sans-serif"; font-size: 14.0pt;"><i>Porque
a vida é assim, conspirando vez ou outra para produzir momentos como esse.
Instantes depois, nada volta a ser como era. Porque não pode. Porque tudo mudou
demais. Porque algo entrou, por nossas peles, por nossos olhos, algo do qual
nunca vamos conseguir nos livrar. Aquela manhã foi como qualquer outra. O
meio-dia também. Começa a tarde, aparentemente, como tantas mais. Uma bola e
vinte e dois marmanjos. E outros milhões de pessoas roendo as unhas de tensão
diante da tevê, espalhados entre os pontos mais distantes do planeta.<o:p></o:p></i></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 18pt; outline: 0px; vertical-align: baseline;">
<span style="color: #404040; font-family: "helvetica" , "sans-serif"; font-size: 14.0pt;"><i>Mas
calma, que essa tarde é diferente. Não é mais um jogo. Melhor dizendo: não é só
mais um jogo. Há algo mais. Há muita raiva, e muita dor, e muita frustração
acumulada em todas essas pessoas que olham pelo televisor. São emoções que não
nasceram pelo futebol. Nasceram no outro lado. Num lugar muito mais terrível,
muito mais hostil, muito mais irrevogável. Mas para nós, os daqui, não resta
outra senão responder num campo de futebol, porque não temos outro lugar,
porque somos poucos, porque estamos sozinhos, porque somos pobres. Mais aí está
o campo de futebol, onde é nós ou eles. E mesmo que seja a nossa vez de
triunfar, a dor não vai desaparecer, nem a humilhação vai terminar. Mas são
eles ganham… ah, se eles ganham de novo, a humilhação vai ser ainda maior, mais
dolorosa, mais intolerável. Teremos que olhar um para o outro, sofrendo em
silêncio. “Percebem que nem aqui, nem mesmo aqui nós pudemos vencer”. Aí estão
os outros caras. Os onze nossos e os onze deles. É futebol, mas é muito mais
que futebol. Porque quatro anos é pouco tempo, não dá tempo de fechar as
feridas e aliviar a dor, ou conter a raiva. Por isso não é só futebol.<o:p></o:p></i></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 18pt; outline: 0px; vertical-align: baseline;">
<span style="color: #404040; font-family: "helvetica" , "sans-serif"; font-size: 14.0pt;"><i><br /></i></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 18pt; outline: 0px; vertical-align: baseline;">
<a href="https://www.youtube.com/watch?v=8LqppgMuqq8" target="_blank">Víctor Hugo Morales relata el gol de Maradona a la selección de Inglaterra (1986)</a></div>
<div id="watch-headline-title" style="background: rgb(255, 255, 255); border: 0px; display: table; font-family: Roboto, arial, sans-serif; font-size: 13px; margin: 0px; padding: 0px; table-layout: fixed; width: 824px;">
<h1 class="watch-title-container" style="background: transparent; border: 0px; display: table-cell; font-size: 20px; font-weight: normal; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: top; width: 824px; word-wrap: break-word;">
<span class="watch-title" dir="ltr" id="eow-title" style="background: transparent; border: 0px; margin: 0px; padding: 0px;" title="Maradona - Gol del siglo (HD)"><a href="https://www.youtube.com/watch?v=jOz2uGMTA2w" target="_blank">Maradona - Gol del siglo (HD)</a><br /></span></h1>
</div>
<div style="margin: 0cm 0cm 18pt; outline: 0px; vertical-align: baseline;">
<div id="watch-headline-title" style="background: rgb(255, 255, 255); border: 0px; display: table; font-family: Roboto, arial, sans-serif; font-size: 13px; margin: 0px; padding: 0px; table-layout: fixed; width: 824px;">
<h1 class="watch-title-container" style="background: transparent; border: 0px; display: table-cell; font-size: 20px; font-weight: normal; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: top; width: 824px; word-wrap: break-word;">
<span class="watch-title" dir="ltr" id="eow-title" style="background: transparent; border: 0px; margin: 0px; padding: 0px;" title="Gol de Maradona a los ingleses relatado por Victor Hugo Morales"><a href="https://www.youtube.com/watch?v=Wekcez2ubNw" target="_blank">Gol de Maradona a los ingleses relatado por Victor Hugo Morales</a></span></h1>
</div>
</div>
<div style="margin: 0cm 0cm 18pt; outline: 0px; vertical-align: baseline;">
<br /></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 18pt; outline: 0px; vertical-align: baseline;">
<i style="color: #404040; font-family: helvetica, sans-serif; font-size: 14pt;">E
com semelhantes antecedentes de tarde tormentosa, com semelhante prólogo de
tragédia, aparece esse sujeito e se instala para sempre no panteão dos nossos
heróis. Porque se impõe diante dos contrários, para humilhá-los. Porque é capaz
de roubá-los. Porque os afana diante dos seus olhos. E ainda que isso seja
pouco, porque está trocando este pequeno afano por outro afano muito maior,
pelo infinitamente mais doloroso e ultrajante. Porque embora nada nessa jogada
mudará a realidade, pouco importa, porque lá estarão eles, em suas casas, em
suas ruas, em seus pubs, querendo comer os televisores de pura raiva, de pura
impotência, porque o sujeito saiu correndo olhando para o árbitro de soslaio,
enquanto esse caia no truque e apontava o centro do campo.</i></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 18pt; outline: 0px; vertical-align: baseline;">
<span style="color: #404040; font-family: "helvetica" , "sans-serif"; font-size: 14.0pt;"><i>Somente
aí, já se havia feito história. Já parecia suficiente. Porque roubamos algo
àqueles que nos afanaram primeiro. E eu sei que o roubo que sofremos dói muito
mais, e ainda assim posso tripudiar, porque isso lhes dói igual. Mas teve mais.
Quando todos já nos dizíamos, “é suficiente, me dou por satisfeito”, teve mais.
Porque o sujeito, além de malandro, é um artista. É muito mais que os demais.<o:p></o:p></i></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 18pt; outline: 0px; vertical-align: baseline;">
<span style="color: #404040; font-family: "helvetica" , "sans-serif"; font-size: 14.0pt;"><i>Ele
é capaz de arrancar desde o seu lado campo, para que não reste dúvidas de que o
que está por fazer jamais foi feito antes. Ele vai de azul escuro, mas vai com
a bandeira, a leva numa das mãos, embora ninguém a veja. E assim começa a esparramá-los
para sempre. Um drible, outro, e ele vai liquidando um por um, gingando no
compasso de uma canção que eles, pobres idiotas, não entendem. Não sentem a
música, mas sim um certo sabor amargo, algo que avisa a eles que o fim está
próximo. E o sujeito continua avançando, para que eles continuem não
acreditando, para que não se esqueçam nunca. Para que lá longe, as pessoas nos
pubs joguem longe a caneca de cerveja ou qualquer outra coisa que tenham nas
mãos. Para que se terminem todos com a boca aberta e cara de otário, pensando
que não, que aquilo não vai, não pode suceder, que alguém vai interromper tudo
e evitar que aquele moreninho vestido de azul e de argentino não vai entrar na
área com a bola mansinha à sua mercê, que esse alguém vai fazer algo, antes que
ele dê o corte no goleiro e empurre a bola com aquela facilidade humilhante,
que algo por favor tem que acontecer para pôr ordem na história, e que as
coisas sejam como Deus e a rainha mandam, porque o futebol tem que ser como a
vida, onde os que têm que ganhar ganham, e os que sempre têm que perder perdem.
Incrédulos, um pedindo ao outro que o desperte daquele pesadelo, mas não tem
jeito, porque nem mesmo quando o sujeito lhes oferece uma fração de segundo a
mais, quando busca uma última finta para favorecer o seu perfil de canhoto, nem
mesmo aí poderão evitar entrar para a história como os humilhados, os onze
ingleses esparramados e desgraçados, os milhões de ingleses olhando pela tevê
sem querer acreditar no que sabem que é verdade para sempre, porque lá vai a
bola, morrer na rede por toda a eternidade, e o sujeito vai correr e se abraçar
com todos, e vai levantar as mãos e os olhos para o céu. E faz bem em olhar
para o céu, porque não sei se ele sabe, mas lá estão todos, todos os que não
podem vê-lo pela tevê nem roer as unhas.<o:p></o:p></i></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 18pt; outline: 0px; vertical-align: baseline;">
<span style="color: #404040; font-family: "helvetica" , "sans-serif"; font-size: 14.0pt;"><i>Porque
o afano estava bem, mas era pouco. Porque o afano deles era grande demais.
Faltava humilhá-los dentro das regras deles. Imortalizar o lance, para que, em
cada ocasião em que esse gol voltasse a ser mostrado, uma e outra vez e para
sempre, em cada lugar do mundo, eles voltassem a ver uma e mil vezes, até o
cansaço, as reações pasmadas, eles tentando cortar e chegando tarde, ficando
sentados, vendo por baixo, submergidos definitivamente pela derrota, a derrota
pequena e futebolística, e absoluta, e eterna, e inesquecível. Portanto,
senhores, eu lamento, mas não me encham o saco com isso de ter que julgar a
esse sujeito como se supõe que devo julgar os demais mortais. Porque eu lhe
devo esses dois gols contra a Inglaterra. E o único modo que tenho de agradecer
é deixá-lo em paz com suas coisas. Porque já que o tempo cometeu a estupidez de
seguir transcorrendo, já que preferiu seguir acumulando um montão de momentos
vulgares junto com aquele instante perfeito, e optou por deixar que os ingleses
tivessem os outros dias de suas vidas para tentar esquecer aquele, ao menos eu
devo ter a honestidade de recordá-lo para a vida toda. Eu conservo o dever da
memória.<o:p></o:p></i></span></div>
<br />
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt; outline: 0px; vertical-align: baseline;">
<span style="font-weight: inherit; outline: 0px;"><span style="border: 1pt none; color: #404040; font-size: 14pt; padding: 0cm;">Tradução: Victor Farinelli</span></span><span style="color: #404040; font-family: "helvetica" , "sans-serif"; font-size: 14.0pt;"><o:p></o:p></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt; outline: 0px; vertical-align: baseline;">
<span style="font-weight: inherit; outline: 0px;"><span style="border: 1pt none; color: #404040; font-size: 14pt; padding: 0cm;"><br /></span></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt; outline: 0px; vertical-align: baseline;">
<span style="font-weight: inherit; outline: 0px;"><span style="border: 1pt none; color: #404040; font-size: 14pt; padding: 0cm;"><br /></span></span></div>
Coisas do Mundo, Minha Nêgahttp://www.blogger.com/profile/10176436942034049161noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3917296745580674665.post-53838772892556925552016-06-21T22:10:00.002-07:002016-06-21T22:10:44.138-07:00Na Luta do Século, em 1974, Muhammad Ali (Cassius Clay) venceu George Foreman<a href="http://acervo.oglobo.globo.com/em-destaque/na-luta-do-seculo-em-1974-muhammad-ali-cassius-clay-venceu-george-foreman-14404806" target="_blank">Gustavo Villela - O GLOBO</a><br />
<br />
<span style="background-color: white; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 16px;"><i>Duelo dos peso-pesados americanos em estádio com 100 mil pessoas no Zaire foi visto por milhões na TV e virou filme, livro e teatro. Evento teve até B.B. King e James Brown</i></span><br />
<span style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; border: 0px; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 16px; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; text-rendering: optimizeLegibility; vertical-align: baseline;"><br /></span>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiLGfmIE3Kl20QH2B2Z-MfMk4Yz-g7PJPMj0DLVIz_eA-rbDBeeTAEQOzfem-4M4eUMc-gSSGGrkE4GAQfLYChQVCONsTazI7RlO4SBo-Tyf7dOhR4DjUzm8Tw2szrhNqplP3_bsYbwEco/s1600/Muhammad-Ali-George-Foreman-8.jpeg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiLGfmIE3Kl20QH2B2Z-MfMk4Yz-g7PJPMj0DLVIz_eA-rbDBeeTAEQOzfem-4M4eUMc-gSSGGrkE4GAQfLYChQVCONsTazI7RlO4SBo-Tyf7dOhR4DjUzm8Tw2szrhNqplP3_bsYbwEco/s400/Muhammad-Ali-George-Foreman-8.jpeg" width="400" /></a></div>
<span style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; border: 0px; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 16px; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; text-rendering: optimizeLegibility; vertical-align: baseline;"><br /></span>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhv2zapxzmMQrFFWaJhcIgOcPUIpOwcivJe2o09YELDsVcr1i9kUsRavfYORXfnlRmuXln_pthBzHBDPy21q-XcTEm-Rby0uml_48QsNXex-1CmzUVBETgYo1gPF0Fq1LMHhdzD66-f8EM/s1600/Muhammad-Ali-George-Foreman-8.jpeg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhv2zapxzmMQrFFWaJhcIgOcPUIpOwcivJe2o09YELDsVcr1i9kUsRavfYORXfnlRmuXln_pthBzHBDPy21q-XcTEm-Rby0uml_48QsNXex-1CmzUVBETgYo1gPF0Fq1LMHhdzD66-f8EM/s1600/Muhammad-Ali-George-Foreman-8.jpeg" /></a></div>
<span style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; border: 0px; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 16px; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; text-rendering: optimizeLegibility; vertical-align: baseline;"><br style="-webkit-font-smoothing: antialiased; text-rendering: optimizeLegibility;" /></span><br />
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Imortalizada em documentários, livros e até no teatro, a Luta do Século entre os pesos-pesados americanos Muhammad Ali (Cassius Clay) e George Foreman foi realizada na madrugada do dia 30 de outubro de 1974. Num estádio lotado por 100 mil pessoas, os dois mitos do boxe se enfrentaram em Kinshasa, a capital do Zaire (atual República Democrática do Congo), na África Central. No início do combate, o desafiante Ali apenas se defendeu do agressivo Foreman, que partiu com tudo para o ataque. No oitavo round, Ali começou a desferir uma sequência de golpes de direita e esquerda, todos no rosto de Foreman, e faltando só dois segundos para o gongo soar, ele acertou violento gancho de direta no queixo do rival. Foreman foi à lona em queda livre, sem conseguir se levantar, na sua primeira derrota em 40 lutas.</div>
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Acompanhado pela TV por milhões de espectadores ao redor do planeta, o nocaute histórico, que completou 40 anos, revelou a técnica e a inteligência de Ali. No início do combate, Ali conseguiu se esquivar dos golpes do adversário, usar as cordas e absorver socos de Foreman. O lutador esperou a hora certa para dar o golpe mortal e recuperar o título de campeão mundial, que lhe havia sido tomado por ter se negado a lutar na Guerra do Vietnã. A recusa tinha uma justificativa: ia contra os princípios de sua religião, a muçulmana, que adotara após conquistar pela primeira vez o título. Foreman ganhou o título em 1972, quando derrotou o então campeão Joe Frazier, este uma das testemunhas da luta na África.</div>
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O sempre falastrão Ali, aos 32 anos, suportou os ataques do silencioso campeão Foreman, mais jovem, numa luta em que pesou também o clima emocional. Talvez tenha sido a mais cerebral da história do boxe: Ali apanhou à espera do ataque perfeito num momento em que Foreman, mais novo e mais forte, se cansasse ou se desconcentrasse. Para promover o Mundial de pesos-pesados, foi realizado paralelamente até um festival de música, o concerto de soul Zaire' 74. Ele reuniu mitos como B.B. King e James Brown, num evento produzido também em Kinshasa pelo empresário esportivo Don King.</div>
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A luta épica inspirou um documentário que ganhou o Oscar de sua categoria em 1996: "Quando éramos reis", de Leon Gast. Muito antes disso, recebeu um relato apaixonado de Norman Mailer, em "A luta", escrito em 1975. Só para o duelo em si, Mailer reservou três dos 19 capítulos do livro, 32 páginas assombrosas, que acompanham o combate em close e em slow-motion, como num documentário. Nos anos 70, a crônica-reportagem de Mailer foi publicada no país pela Civilização Brasileira e, no fim da década de 90, mereceu um lançamento pela Companhia das Letras, com tradução, posfácio e notas de Cláudio Weber Abramo.</div>
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A estrela de Ali, nascido a 17 de janeiro de 1942 em Louisville, no estado de Kentucky, começou a brilhar no boxe uma década antes da Luta do Século. "Eu odeio esse urso velho, grande e feio." O desafio de Cassius Marcellus Clay ao ex-presidiário e campeão dos pesos-pesados Sonny Liston já indicava as provocações que se tornaram marca registrada da era do boxe espetáculo. Aos 22 anos, em 25 de fevereiro de 1964, Clay desafiava um oponente experiente, maior e mais forte, mas menos ágil e menos inteligente. A maioria dos quase 9 mil espectadores duvidava que Clay passasse do primeiro round e se espantou quando o veloz e fulminante soco do desafiante derrubou Liston no sexto round. Liston era o franco favorito por sete contra um na bolsa de apostas, e o vitorioso Clay foi à forra: "Agora comam suas palavras. Ajoelhem-se diante de mim".</div>
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<b><a href="http://acervo.oglobo.globo.com/fotogalerias/ali-foreman-nos-ringues-no-cinema-14424575" target="_blank">FOTOGALERIA </a></b></div>
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Em outubro de 1960, quando estreou como profissional, Clay acabara de conquistar a medalha de ouro nas Olimpíadas de Roma. Em 61 lutas profissionais, perdeu apenas cinco, tendo vencido 37 por nocaute. No mesmo ano do primeiro título mundial, Clay anunciou sua conversão ao islamismo e mudou o nome para Muhammad Ali. Três anos depois, em 1967, foi proibido de lutar e teve seus títulos anulados por se recusar a servir o Exército. A Suprema Corte anulou as punições em 1970, mas Ali perdeu a primeira tentativa de reconquistar a faixa para Joe Frazier e dobrou-se ante Ken Norton, em 73. Em 1974, arrasou Frazier e recuperou o título contra George Foreman. O tricampeão mundial (1964-74-78) Muhammad Ali acabou encontrando seu maior adversário no Mal de Parkinson, doença que se manifestou desde 1982, talvez agravada pelos sucessivos golpes sofridos ao longo da carreira.</div>
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Duas décadas depois da derrota para Ali, Foreman deu a volta por cima e reconquistou o tão sonhado cinturão dos pesos-pesados. Hoje conhecido pelos jovens mais como o símbolo de uma marca de churrasqueiras com seu nome, o boxeador apareceu para o mundo do esporte nas Olimpíadas do México, em 1968, onde se sagrou campeão. Após ganhar o título mundial derrotando Frazier em 1973, para depois perdê-lo para Ali no ano seguinte, em Kinshasa, em 1977 ele parou com o boxe e decidiu se dedicar às atividades de pastor em Houston, no Texas. Dez anos mais tarde, pobre, por ter perdido todo o dinheiro ganho nos ringues em projetos de sua igreja, ele voltou ao boxe. Em 1994, Foreman venceu Michael Moorer para se tornar, aos 45 anos, o mais velho campeão mundial da história. Desde 1997, quando novamente parou, trabalha como pastor e garoto-propaganda.</div>
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De todas as conquistas, Foreman escolhe a medalha de ouro olímpica de 1968 como a maior. Na época, aos 19 anos, ele foi contestado por outros atletas olímpicos negros americanos por não ter aderido aos protestos do Black Power (que exigia igualdade de direitos entre negros e brancos nos Estados Unidos). “O ouro olímpico foi a conquista mais importante. Não estava lá para fazer política”, afirmou em visita ao Brasil. Como pastor e pai de dez filhos, ele cita seu exemplo de menino pobre.</div>
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— Digo aos jovens do Brasil que nunca desistam de seus sonhos, mesmo que se envolvam com drogas ou sejam presos. Mas nunca desistam. Caí, mas continuei a sonhar. Você pode ascender da pobreza para ser alguém — disse.</div>
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Depois de uma batalha de 32 anos contra a doença de Parkinson, Muhammad Ali morreu, aos 74 anos, na noite desta sexta-feira nos Estados Unidos (madrugada de sábado no Brasil).</div>
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Coisas do Mundo, Minha Nêgahttp://www.blogger.com/profile/10176436942034049161noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3917296745580674665.post-25132106129011112992016-05-10T22:03:00.002-07:002016-05-10T22:09:47.536-07:00O triunfo da razão cínica <div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjtSD23rzFXjf1-kVLbWWL0kvYW-Txr2nR7wg8XuN4nWfLJmnCUsZrP_HAOZZhv44cHo09mT3e_PsxfY4p36DXRdCiVbEHeChAYsRlit5mT8Lcw79GyZwfDWacxi3xsaYqNit7v17zJBrg/s1600/1jan2007---presidente-luiz-inacio-lula-da-silva-ao-lado-da-primeira-dama-marisa-leticia-do-vice-presidente-jose-alencar-e-sua-esposa-mariza-gomes-discursa-para-a-populacao-que-assiste-a-cerimonia-1360093609915_956x500.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="208" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjtSD23rzFXjf1-kVLbWWL0kvYW-Txr2nR7wg8XuN4nWfLJmnCUsZrP_HAOZZhv44cHo09mT3e_PsxfY4p36DXRdCiVbEHeChAYsRlit5mT8Lcw79GyZwfDWacxi3xsaYqNit7v17zJBrg/s400/1jan2007---presidente-luiz-inacio-lula-da-silva-ao-lado-da-primeira-dama-marisa-leticia-do-vice-presidente-jose-alencar-e-sua-esposa-mariza-gomes-discursa-para-a-populacao-que-assiste-a-cerimonia-1360093609915_956x500.jpg" width="400" /></a></div>
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Prestes a deixar o poder, o PT vive dias de esgotamento. De projeto, político e moral. Um partido que nasceu nos últimos anos da Ditadura iniciada em 64, e que foi alçado por representantes progressistas da Igreja Católica, com ajuda dos milicos de plantão, como o novo partido dos trabalhadores – em detrimento do velho PCB e dos aventureiros do PCdoB, que viveram na clandestinidade até 1985, se vê agora sucumbido pelo fisiologismo e pela corrupção entranhada nas veias para manter o seu projeto de poder a qualquer custo. </div>
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<br /></div>
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A “esperança que vencia o medo” já mostrava, no início de 2003, que todo aquele discurso da ética na política havia ficado no passado. Alianças espúrias com uma direita atrasada, loteamentos da máquina pública e corrupção. O começo do fim. Fundador do partido, o jornalista e cientista político <b>Cesar Benjamin </b>apontou, em artigo publicado pela <i>Caros Amigos</i> (por incrível que possa parecer) nos primeiros meses de PT no poder, a mudança de rota da agremiação que na verdade mostrava uma sede de poder pelo poder. </div>
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<br /></div>
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“O que nos afasta do PT não são posições adotadas nessa ou naquela questão. São valores e princípios. É esse ilimitado pragmatismo de quem, uma vez no poder, não pode correr risco nenhum, nem mesmo o risco de dizer a verdade. No lugar da verdade, marketing, dissimulação e engodo, uma enorme operação de deseducação política do povo brasileiro”, escreveu. </div>
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<br /></div>
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Como era de esperar, <b>Benjamin</b> foi taxado de tudo quanto foi adjetivo pela tigrada mais subserviente. Não desistiu e continuou mostrando os descaminhos da turma comandada por Lula. Sem a pretensão de ser apocalíptico, mas iluminando as ideias de que caminhávamos para o fundo do poço. O triunfo da razão cínica. Bravo, Benjamin. </div>
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<b><i><br /></i></b></div>
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<b><i>O TRIUNFO DA RAZÃO CÍNICA</i></b></div>
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<b><i>César Benjamin</i></b></div>
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<i><br /></i></div>
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<i><br /></i></div>
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<i>A crise do PT é a mais profunda crise da esquerda brasileira. para o bem e para o mal, foi o PT a vanguarda política da nossa esquerda nos últimos vinte anos.</i></div>
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<i><br /></i></div>
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<i>O Partido dos Trabalhadores está morrendo. Nele não resta mais nenhum espírito transformador, nenhuma autenticidade, nenhum impulso vital. Não tem princípios a defender. Não tem mais referências sobre coisa alguma, pois suas posições históricas - sobre a previdência, os transgênicos, a política econômica, o FMI ou qualquer outro assunto - estão sempre prontas a ser sacrificadas no balcão em que se fazem as negociações do momento.</i></div>
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<i><br /></i></div>
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<i>O PT não tem, nem pretende mais ter, projeto de sociedade. Tem apenas projeto de poder. Essa volúpia desenfreada, sem ideal, cria o ambiente propício ao cinismo e à corrupção crescentes, a que estamos assistindo, pois a melhor maneira de se manter em cima é copiar os poderosos e se aliar a eles. Hoje, o militante de que o PT precisa, o que é valorizado pela direção, é o carreirista obcecado pelo sucesso rápido e a trajetória meteórica, disposto a dizer amém, pronto a desmentir amanhã, por qualquer pretexto, aquilo que defendia até hoje.</i></div>
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<i><br /></i></div>
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<i>Os que construíram o partido e não se corromperam nele não têm mais lugar. Tornaram-se um estorvo. São enxovalhados. Estão sendo substituídos por filiados pela Internet e por gente arrebanhada pelos esquemas políticos tradicionais. Esquemas caros, como se sabe, pois esvaziados da militância voluntária que impulsionou o partido quando ele era jovem. Para financiar essa operação e esse novo modo de ser, é cada vez mais tênue, no andar de cima, a separação entre política e negócios. Candidatos a deputado, até ontem meros assalariados, falam abertamente em levantar 10 ou 20 milhões de reais para suas campanhas, sabe-se lá de que forma. Candidatos a cargos mais altos aventuram-se em todos os tabuleiros. São as regras do jogo. Não há mais pudor. Todos caminham nus pelos salões.</i></div>
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<i><br /></i></div>
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<i>Valores esquecidos </i></div>
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<i><br /></i></div>
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<i>O PT tornou-se uma via de ascensão individual para a afluência material e o poder. Multiplicam-se as pessoas que se tornam subitamente importantes e que se sentem, assim, sem ter história nem biografia, sem ter passado nem futuro. Pobres de espírito, sempre ocupados nas articulações do momento - para a próxima convenção, a próxima nomeação ou a próxima eleição -, não lêem um livro, não se dedicam a conhecer bem assunto nenhum, não são solidários às dificuldades do povo brasileiro, não pretendem ser fiéis a uma idéia de nação. Suas lealdades se esgotam nos limites do grupo de interesse a que estão vinculados. Valores como humildade, perseverança e ideal estão definitivamente fora de moda. Tudo agora é cálculo. Liberado para florescer, o oportunismo tem pressa. Tempo é poder. Tempo é dinheiro. A crise do PT é a mais profunda crise da esquerda brasileira. Para o bem e para o mal, foi o PT a vanguarda política da nossa esquerda nos últimos vinte anos, e dentro dele foi vanguarda a Articulação. Além de perseguir com coerência uma estratégia política e controlar com competência os principais aparatos de poder, ela propunha a toda a esquerda uma forma de luta estratégica, que, uma vez vitoriosa, seria capaz de abrir um período novo de ação política em nosso país: a eleição de Lula à presidência. Participávamos de múltiplas iniciativas militantes no cotidiano, e a cada quatro anos renovávamos nossa esperança em uma possibilidade especial, a de colocar Lula lá.</i></div>
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<i><br /></i></div>
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<i>Durou menos de um ano a transição de um auge a uma crise. Hoje, a Articulação tem um poder que a esquerda nunca teve, mas não é vanguarda de mais nada, nem para o bem nem para o mal. É, simplesmente, outra coisa: um grupo que ocupa posições de mando em um Estado corrompido e conservador, forte para premiar e punir, fraco para transformar. Adaptado a ele, usa essas posições para negociar tudo com todos. Falar de um "governo em disputa" era um erro há nove meses. Hoje é apenas cumplicidade com o charlatanismo.</i></div>
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<i><br /></i></div>
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<i>A cooptação do PT pelo sistema de poder é a mais vergonhosa de todas, pois vem desassociada de qualquer ganho real para a base social que ele deveria representar. Ao contrário, ele aceitou ser o algoz dessa base: a contar do início do governo Lula, teremos 1 milhão de novos desempregados em fevereiro de 2004, e os rendimentos do trabalho estão em queda livre. A previdência pública foi desmontada, e anuncia-se para breve o acerto de contas com a legislação trabalhista. Comparativamente a isso, a socialdemocracia européia teve uma trajetória brilhante.</i></div>
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<i><br /></i></div>
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<i>Nenhum de nós pede que Lula faça uma revolução. Nenhum desconhece o cenário, nacional e internacional, que nos cerca. Pedimos apenas decência, espírito republicano e compromisso com um capitalismo regulado. Basta isso para que sejamos chamados de radicais, num país em que política e indecência sempre foram mais ou menos a mesma coisa, em que o Estado sempre foi um espaço de negociatas e em que, em vez de capitalismo, prevalece a bandalha. Insistimos nessas três coisas, porque por menos do que elas a própria atividade política já não vale a pena. Por menos, é melhor ir para casa.</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
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<i>O que nos afasta do PT não são posições adotadas nessa ou naquela questão. São valores e princípios. É esse ilimitado pragmatismo de quem, uma vez no poder, não pode correr risco nenhum, nem mesmo o risco de dizer a verdade. No lugar da verdade, marketing, dissimulação e engodo, uma enorme operação de deseducação política do povo brasileiro. No lugar de uma ação coletiva, de baixo para cima, um líder que desmobiliza e que, como todo medíocre, começa a se considerar semideus. No lugar de um projeto, espertezas, um discurso para cada interlocutor. No lugar de diálogo, ameaças, chantagens, nomeações, demissões. No lugar da luta de idéias, movimentos sempre nas sombras. É o triunfo da razão cínica.</i></div>
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<i><br /></i></div>
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<i><b>Herança duradoura </b></i></div>
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<i><br /></i></div>
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<i>O chefe disso chama-se Luís Inácio Lula da Silva. Sua principal herança, para a esquerda brasileira, não será formada a partir de acertos e erros aqui e acolá, naturais na trajetória de qualquer pessoa. Sua herança mais duradoura será construída pela sistemática sinalização de valores negativos, que ele ajudou a difundir amplamente nos últimos anos. Isso é que é imperdoável. Arrogante com os "de baixo" e subserviente aos "de cima", desqualifica-se, pois o que se espera de um líder popular é exatamente o contrário: que seja humilde com os de baixo e firme com os de cima. Aos pobres, "seus filhos", pede infinita paciência, enquanto atende com presteza aos reclamos dos ricos, os financiadores de campanhas. Desemprega 1 milhão de brasileiros e anuncia- se como aquele que resgata a auto-estima do Brasil. Considera-se corajoso porque tira direitos de enfermeiras, professores e barnabés, conduz serviços essenciais ao colapso, enquanto se dispõe a pagar pontualmente mais de 150 bilhões de reais em juros aos rentistas só neste ano. É o novo líder dos trezentos picaretas que denunciava. Logo lhes entregará mais ministérios.</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
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<i>Seu governo passará, mas sua liderança deixará na esquerda um extenso e duradouro legado: milhares de pessoas despreparadas e sem valores, que aprenderam no PT que fazer política é gerenciar interesses. Esses ficarão ainda por muito tempo, na forma de uma geração de gente perdida, que nunca lutou e foi derrotada. É isso que dói.</i></div>
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<i><b><br /></b></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><b>* César Benjamin é autor de A Opção Brasileira (Contraponto Editora, 1998, nona edição) e escreve uma análise mensal de conjuntura econômica brasileira </b></i></div>
Coisas do Mundo, Minha Nêgahttp://www.blogger.com/profile/10176436942034049161noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3917296745580674665.post-2652935621377938172016-05-04T22:26:00.002-07:002016-05-04T22:52:04.407-07:00Teixeira Heizer: A morte do último romântico do jornalismo esportivo <div style="background-color: white; border: 0px; color: #444444; font-family: Merriweather, Georgia, serif; font-size: 16px; font-stretch: inherit; line-height: 24px; margin-bottom: 1.5rem; outline: 0px; padding: 0px; text-align: right; vertical-align: baseline;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhepEzJZUSz_SH-H4CDiDpPdB9HbUNCmFsHb_Lamf2vv1sxRnBl3wOmnX38Wk6lSM7uRhyqqRBqFOGUTVElwUHmEYQ44RBHy46jxEFnwqsDvy7vmIBxCE8kWIJqLYFR_lBY-VQSiA4igSs/s1600/heizer.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="175" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhepEzJZUSz_SH-H4CDiDpPdB9HbUNCmFsHb_Lamf2vv1sxRnBl3wOmnX38Wk6lSM7uRhyqqRBqFOGUTVElwUHmEYQ44RBHy46jxEFnwqsDvy7vmIBxCE8kWIJqLYFR_lBY-VQSiA4igSs/s400/heizer.jpg" width="400" /></a></div>
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<a href="http://www.marceloauler.com.br/teixeira-heizer-nos-deixa-o-jornalismo-esta-acabando-aos-poucos/" target="_blank">Texto de Marcelo Auler</a></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Perdoem-me os coleguinhas mais novos, que estão nesta estrada há alguns anos, ou acabam de começar. Não sabemos, com todas as mudanças que a internet provocou e com os novos meios de informação por celulares, tablet, computadores, etc, qual o destino da velha e boa função de reportar. Hoje, repassar notícia e informação, qualquer cidadão repassa. Fazer reportagem, jornalismo de qualidade, já não se vê com tanta frequência como eu presenciei desde que comecei na carreira, em 1974, na Rádio Globo.</div>
</div>
<div style="background-color: white; border: 0px; color: #444444; font-family: Merriweather, Georgia, serif; font-size: 16px; font-stretch: inherit; line-height: 24px; margin-bottom: 1.5rem; outline: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">
<div style="text-align: justify;">
Mas, pouco a pouco, estamos vendo os grande profissionais que marcaram o jornalismo, com seus exemplos e o lidar com a profissão no dia-a-dia. De memória, lembro-me de José Luiz Alcântara, Carlos Lemos, e mais recentemente, o fotografo Luiz Carlos David, o qual, mais do que além de um excelente repórter fotográfico era um g<em style="border: 0px; font-family: inherit; font-stretch: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">entleman, </em>além de comprometido com a categoria: foi um dos fundadores e, se não me engano, o primeiro presidente da Associação de Repórteres Fotográficos e Cinematográficos do do Rio (AFORC-RJ).</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Ontem à tarde o jornalismo esportivo em especial, mas o jornalismo como um todo, perdeu um grande mestre de muitas gerações. Na certidão, por estas loucuras da vida, chamava-se <b>Hitler Teixeira Heizer</b>. Mas, por motivos óbvios, escondeu o primeiro nome assinando H.Teixeira Heizer. Morreu aos 83 anos e deixou uma legião de amigos e, principalmente, “alunos”, da vida prática do jornalismo, das salas das faculdades de comunicação onde lecionou ou mesmo do Instituto São Marco, em Piratininga, região oceânica de Niterói (RJ).</div>
</div>
<div style="background-color: white; border: 0px; font-family: merriweather, georgia, serif; font-size: 16px; font-stretch: inherit; line-height: 24px; margin-bottom: 1.5rem; outline: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #444444;">No São Marcos, por exemplo, ele deu a formação básica de educação e de cidadania à hoje jornalista </span><a href="https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10154084875348604&set=rpd.700948603&type=3&theater" style="border-image-outset: initial; border-image-repeat: initial; border-image-slice: initial; border-image-source: initial; border-image-width: initial; border: 0px; font-family: inherit; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; text-decoration: none; vertical-align: baseline;"><span style="color: black;">Clarissa Thomé</span></a><span style="color: #444444;">, da sucursal carioca do </span><em style="border-image-outset: initial; border-image-repeat: initial; border-image-slice: initial; border-image-source: initial; border-image-width: initial; border: 0px; color: #444444; font-family: inherit; font-stretch: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">Estado de S. Paulo, c</em><span style="color: #444444;">omo ela descreve em um depoimento no Facebook. Transcrevo um pequeno trecho do depoimento de Clarissa acrescido de comentários que ela me fez.</span></div>
</div>
<blockquote style="background-color: white; border-color: rgb(234, 234, 234) rgb(234, 234, 234) rgb(234, 234, 234) rgb(221, 51, 51); border-image-source: none; border-style: solid; border-width: 1px 1px 1px 3px; color: #444444; font-family: Merriweather, Georgia, serif; font-size: 16px; font-stretch: inherit; font-style: italic; line-height: 24px; margin: 0px 0px 20px; outline: 0px; padding: 20px 20px 5px; quotes: "" ""; vertical-align: baseline;">
<div style="border: 0px; font-family: inherit; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: 1.5; margin-bottom: 1.5rem; outline: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">
<div style="text-align: center;">
<strong style="border: 0px; font-family: inherit; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">“Tenho uma gratidão enorme por ele ter construído uma escola em que nos sentíamos acolhidas, antes de tudo. Por formar cidadãos (quem não lembra das passeatas na lagoa ou do debate sobre parlamentarismo/<wbr></wbr>presidencialismo/<wbr></wbr>monarquia? Até os Orleans e Bragança apareceram). Havia período de campanha eleitoral, as chapas defendiam suas plataformas. Cada aluno tinha um título de eleitor, que deveria ser guardado. A cada ano ganhávamos um carimbinho para mostrar que tínhamos votado. I</strong><strong style="border: 0px; font-family: inherit; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">sso em uma época em que o presidente do país era escolhido por eleição indireta</strong>. <strong style="border: 0px; font-family: inherit; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">Ele nos dava autonomia – menos quando a gente queria fazer greve. Aí ele ligava pra nossa mãe pra reclamar…”</strong></div>
</div>
</blockquote>
<div style="background-color: white; border: 0px; color: #444444; font-family: Merriweather, Georgia, serif; font-size: 16px; font-stretch: inherit; line-height: 24px; margin-bottom: 1.5rem; outline: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">
<span id="more-3699" style="border: 0px; font-family: inherit; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;"></span></div>
<div style="background-color: white; border: 0px; color: #444444; font-family: Merriweather, Georgia, serif; font-size: 16px; font-stretch: inherit; line-height: 24px; margin-bottom: 1.5rem; outline: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">
<div style="text-align: justify;">
Como jamais cobri esporte – uma falha – e não tendo trabalhado em uma mesma redação com Teixeira Heizar, o conheci e convivi e bares e reuniões de jornalistas, notadamente no Sindicato e na ABI, quando estes conseguiam atrair os profissionais da categoria. Mas, conhecendo a importância dele no jornalismo, corri atrás de quem poderia me falar a respeito, José Trajano que, além das muitas qualidades, tem uma que divido com ele: torcedor do América Futebol Clube. É dele que trago este depoimento sobre a figura do Teixeira. Curiosamente, ele falou mais do cidadão do que do jornalista em si:</div>
</div>
<div class="wp-caption alignleft" id="attachment_3701" style="background-color: white; border: 1px solid rgb(204, 204, 204); color: #444444; display: inline; float: left; font-family: Merriweather, Georgia, serif; font-size: 16px; font-stretch: inherit; line-height: 24px; margin: 0px 1.5rem 1.5rem 0px; max-width: 100%; outline: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline; width: 473px;">
<a href="http://www.marceloauler.com.br/wp-content/uploads/2016/05/jos%C3%A9-Trajano.jpg" style="border: 0px; color: #dd3333; font-family: inherit; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; text-decoration: none; vertical-align: baseline;"><img alt="José Trajano" class="size-full wp-image-3701" src="http://www.marceloauler.com.br/wp-content/uploads/2016/05/jos%C3%A9-Trajano.jpg" height="380" style="border: 0px; display: block; height: auto; margin: 5.67188px auto 0px; max-width: 98%;" width="463" /></a><br />
<div class="wp-caption-text" style="border: 0px; font-family: inherit; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: 1.5; margin-bottom: 0.8075rem; margin-top: 0.8075rem; outline: 0px; padding: 0px; text-align: center; vertical-align: baseline;">
José Trajano</div>
</div>
<div style="background-color: white; border: 0px; color: #444444; font-family: Merriweather, Georgia, serif; font-size: 16px; font-stretch: inherit; line-height: 24px; margin-bottom: 1.5rem; outline: 0px; padding: 0px; text-align: right; vertical-align: baseline;">
<div style="text-align: left;">
“<em style="border: 0px; font-family: inherit; font-stretch: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">O Teixeira iniciou a carreira dele como locutor de futebol, repórter de rádio. Tinha uma voz linda, maravilhosa. Não só a voz maravilhosa, como tinha um porte muito bonito. O Teixeira era um galã. O Teixeira conquistou grandes corações, por exemplo, ele foi namorado da grande atriz Glauce Rocha. Isso eu até gostaria de ter aprendido com ele.</em></div>
</div>
<div style="background-color: white; border: 0px; color: #444444; font-family: Merriweather, Georgia, serif; font-size: 16px; font-stretch: inherit; line-height: 24px; margin-bottom: 1.5rem; outline: 0px; padding: 0px; text-align: right; vertical-align: baseline;">
<div style="text-align: justify;">
<em style="border: 0px; font-family: inherit; font-stretch: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">O início dele foi no rádio. No Rio de Janeiro</em> (Teixeira nasceu em 16 de dezembro de 1932, no Rio de Janeiro). <em style="border: 0px; font-family: inherit; font-stretch: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">Ele sempre foi muito ligado ao Fluminense. As grandes amizades dele eram aqueles jogadores antigos, como o Tele Santana. Ele sempre viveu em torno do Fluminense. Mas a voz e o nome eram inconfundíveis: aquele nome “Teixeira Heizer”.</em></div>
</div>
<div style="background-color: white; border: 0px; color: #444444; font-family: Merriweather, Georgia, serif; font-size: 16px; font-stretch: inherit; line-height: 24px; margin-bottom: 1.5rem; outline: 0px; padding: 0px; text-align: right; vertical-align: baseline;">
<div style="text-align: justify;">
<em style="border: 0px; font-family: inherit; font-stretch: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">Com o tempo ele entrou na escrita. Lembro que ele marcou muito como o coordenador de esportes da grande sucursal do </em>Estadão<em style="border: 0px; font-family: inherit; font-stretch: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">, no Rio de Janeiro. Época em que a sucursal era dirigida pelo Villas Boas Correa. Era uma sucursal e tanto”.</em></div>
</div>
<div style="background-color: white; border: 0px; color: #444444; font-family: Merriweather, Georgia, serif; font-size: 16px; font-stretch: inherit; line-height: 24px; margin-bottom: 1.5rem; outline: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">
<div style="text-align: justify;">
Teixeira passou pelos jornais <em style="border: 0px; font-family: inherit; font-stretch: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">Diário da Noite, Diário de Notícias, Última Hora, O Dia</em>, as revistas<em style="border: 0px; font-family: inherit; font-stretch: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">Placar, Veja</em> e a sucursal de <em style="border: 0px; font-family: inherit; font-stretch: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">O Estado de S. Paulo</em>. Recebeu o crachá 001, da <em style="border: 0px; font-family: inherit; font-stretch: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">Rede Globo</em>, em 1964, onde também coordenou a cobertura esportiva. Atualmente era comentarista do <em style="border: 0px; font-family: inherit; font-stretch: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">Sport TV</em>. Retirou do site do <em style="border: 0px; font-family: inherit; font-stretch: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">Sport TV </em>o registro:</div>
</div>
<blockquote style="background-color: white; border-color: rgb(234, 234, 234) rgb(234, 234, 234) rgb(234, 234, 234) rgb(221, 51, 51); border-image-source: none; border-style: solid; border-width: 1px 1px 1px 3px; color: #444444; font-family: Merriweather, Georgia, serif; font-size: 16px; font-stretch: inherit; font-style: italic; line-height: 24px; margin: 0px 0px 20px; outline: 0px; padding: 20px 20px 5px; quotes: "" ""; vertical-align: baseline;">
<div style="border: 0px; font-family: inherit; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: 1.5; margin-bottom: 1.5rem; outline: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">
<div style="text-align: center;">
<strong style="border: 0px; font-family: inherit; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">“A primeira partida de futebol transmitida pela Globo foi planejada por Heizer em 1965. O jogo realizado no Maracanã entre a seleção brasileira e a União Soviética foi gravado em filmes, enviado para a emissora e montado rapidamente. O jornalista narrou por cima das imagens editadas e o evento foi exibido pouco depois do seu início”</strong>.</div>
</div>
</blockquote>
<div style="background-color: white; border: 0px; color: #444444; font-family: Merriweather, Georgia, serif; font-size: 16px; font-stretch: inherit; line-height: 24px; margin-bottom: 1.5rem; outline: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">
<div style="text-align: justify;">
<em style="border: 0px; font-family: inherit; font-stretch: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">“Ele se caracterizou muito pela lealdade,</em> continua Trajano<em style="border: 0px; font-family: inherit; font-stretch: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">. Era um cara que sempre manteve a equipe muito unida, brigando pela turma. Sempre um cara muito querido. Talvez por ser até mais velho do que a maioria dos que trabalhavam com ele, passou a ser a referência de um cara leal, um sujeito que podia passar boas coisas para os outros. Então, sempre foi tido assim como uma espécie de um mestre.</em></div>
</div>
<div class="wp-caption alignright" id="attachment_3702" style="background-color: white; border: 1px solid rgb(204, 204, 204); color: #444444; display: inline; float: right; font-family: Merriweather, Georgia, serif; font-size: 16px; font-stretch: inherit; line-height: 24px; margin: 0px 0px 1.5rem 1.5rem; max-width: 100%; outline: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline; width: 584px;">
<a href="http://www.marceloauler.com.br/wp-content/uploads/2016/05/bilhete-do-teixeira-Heizer.jpg" style="border: 0px; color: #dd3333; font-family: inherit; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; text-decoration: none; vertical-align: baseline;"><img alt="Clarissa Thomé: "Teixeira Heizer bem que tentava manter o calendário de aulas. Mas a gente resistia um pouquinho"." class=" wp-image-3702" src="http://www.marceloauler.com.br/wp-content/uploads/2016/05/bilhete-do-teixeira-Heizer.jpg" height="544" style="border: 0px; display: block; height: auto; margin: 7px auto 0px; max-width: 98%;" width="574" /></a><br />
<div class="wp-caption-text" style="border: 0px; font-family: inherit; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: 1.5; margin-bottom: 0.8075rem; margin-top: 0.8075rem; outline: 0px; padding: 0px; text-align: center; vertical-align: baseline;">
Clarissa Thomé: “Teixeira Heizer bem que tentava manter o calendário de aulas. Mas a gente resistia um pouquinho”.</div>
</div>
<div style="background-color: white; border: 0px; color: #444444; font-family: Merriweather, Georgia, serif; font-size: 16px; font-stretch: inherit; line-height: 24px; margin-bottom: 1.5rem; outline: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">
<div style="text-align: justify;">
<em style="border: 0px; font-family: inherit; font-stretch: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">Quando se falava do Teixeira, falava-se de boca cheia, com orgulho; ‘O Teixeira vem aí'; ‘O Teixeira está chegando'; ‘Vamos encontrar o Teixeira'; Teixeira vai lançar um livro’. Ele sempre foi uma referência de boa coisa. Como amigo.</em></div>
</div>
<div style="background-color: white; border: 0px; color: #444444; font-family: Merriweather, Georgia, serif; font-size: 16px; font-stretch: inherit; line-height: 24px; margin-bottom: 1.5rem; outline: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">
<div style="text-align: justify;">
<em style="border: 0px; font-family: inherit; font-stretch: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">Em Niterói, a mulher dele, Alidéia (</em>Alidéia Xavier Heizer, mãe dos dois filhos dele, Marcus Heizer, que morreu aos 43 anos, em 2004, e Alda, que hoje cuida da mãe. Teve ainda seis netos e dois bisnetos<em style="border: 0px; font-family: inherit; font-stretch: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">) tinha uma escola – </em>Instituto São Marcos -<em style="border: 0px; font-family: inherit; font-stretch: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;"> em Piratininga, região oceânica de Niterói. O nome era uma homenagem ao filho, ainda vivo.</em></div>
</div>
<div style="background-color: white; border: 0px; color: #444444; font-family: Merriweather, Georgia, serif; font-size: 16px; font-stretch: inherit; line-height: 24px; margin-bottom: 1.5rem; outline: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">
<div style="text-align: justify;">
<em style="border: 0px; font-family: inherit; font-stretch: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">A escola era da mulher, mas teve uma época em que estava em crise e ele foi ajudar a tomar conta (</em>foi desta época o bilhete ao lado, que a Clarissa Thomé citou)<em style="border: 0px; font-family: inherit; font-stretch: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">.</em></div>
</div>
<div style="background-color: white; border: 0px; color: #444444; font-family: Merriweather, Georgia, serif; font-size: 16px; font-stretch: inherit; line-height: 24px; margin-bottom: 1.5rem; outline: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">
<div style="text-align: justify;">
Quando a crise bateu,Teixeira Heizer se viu obrigado a repassar a escola. Como lembra Clarissa, a escola dividia-se em dois terrenos e ele poderia muito bem vende-la para o mercado imobiliário. Teria feito um bom pé de meia. Mas, preferiu manter o sonho de formar jovens e vendeu-a para um Grupo Educacional. Na época, despediu-se dos alunos com o bilhete que Clarissa guarda até hoje e reproduzimos abaixo. Voltamos ao Trajano:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
<div class="wp-caption alignleft" id="attachment_3703" style="background-color: white; border: 1px solid rgb(204, 204, 204); color: #444444; display: inline; float: left; font-family: Merriweather, Georgia, serif; font-size: 16px; font-stretch: inherit; line-height: 24px; margin: 0px 1.5rem 1.5rem 0px; max-width: 100%; outline: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline; width: 553px;">
<a href="http://www.marceloauler.com.br/wp-content/uploads/2016/05/bilhete-de-despedida-do-Teixeira-Heizer.jpg" style="border: 0px; color: #dd3333; font-family: inherit; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; text-decoration: none; vertical-align: baseline;"><img alt="No bilhete de despedida aos alunos a expectativa de que "o sonho não terminou". Reprodução cedida pela Clarissa Thomé." class=" wp-image-3703" src="http://www.marceloauler.com.br/wp-content/uploads/2016/05/bilhete-de-despedida-do-Teixeira-Heizer-1024x351.jpg" height="186" style="border: 0px; display: block; height: auto; margin: 6.625px auto 0px; max-width: 98%;" width="543" /></a><br />
<div class="wp-caption-text" style="border: 0px; font-family: inherit; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: 1.5; margin-bottom: 0.8075rem; margin-top: 0.8075rem; outline: 0px; padding: 0px; text-align: center; vertical-align: baseline;">
No bilhete de despedida aos alunos a expectativa de que “o sonho não terminou”. Reprodução cedida pela Clarissa Thomé.</div>
</div>
<div style="background-color: white; border: 0px; color: #444444; font-family: Merriweather, Georgia, serif; font-size: 16px; font-stretch: inherit; line-height: 24px; margin-bottom: 1.5rem; outline: 0px; padding: 0px; text-align: right; vertical-align: baseline;">
<em style="border: 0px; font-family: inherit; font-stretch: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;"><br /></em></div>
<div style="background-color: white; border: 0px; color: #444444; font-family: Merriweather, Georgia, serif; font-size: 16px; font-stretch: inherit; line-height: 24px; margin-bottom: 1.5rem; outline: 0px; padding: 0px; text-align: right; vertical-align: baseline;">
<em style="border: 0px; font-family: inherit; font-stretch: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><br /></em>
<em style="border: 0px; font-family: inherit; font-stretch: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><br /></em>
<em style="border: 0px; font-family: inherit; font-stretch: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><br /></em>
<em style="border: 0px; font-family: inherit; font-stretch: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><br /></em>
<em style="border: 0px; font-family: inherit; font-stretch: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><br /></em>
<em style="border: 0px; font-family: inherit; font-stretch: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><br /></em>
<em style="border: 0px; font-family: inherit; font-stretch: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><br /></em>
<em style="border: 0px; font-family: inherit; font-stretch: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><br /></em>
<em style="border: 0px; font-family: inherit; font-stretch: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><br /></em>
</div>
<div style="background-color: white; border: 0px; color: #444444; font-family: Merriweather, Georgia, serif; font-size: 16px; font-stretch: inherit; line-height: 24px; margin-bottom: 1.5rem; outline: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">
<div style="text-align: justify;">
<em style="border: 0px; font-family: inherit; font-stretch: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;"><em style="border: 0px; font-family: inherit; font-stretch: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;"><em style="border: 0px; font-family: inherit; font-stretch: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;"> Ele comprou um sítio. Esta é uma história boa. Ele me ajudou na campanha do Darci Ribeiro para governador (1986). Ele, o Álvaro Caldas, faziam parte do meu grupo na campanha do Darci (PDT) para governador. Ele então recebeu a gente para um churrasco. Estávamos em campanha, andando pelo estado inteiro. Ele recebeu a gente para um churrasco no sítio, nas imediações de Friburgo (cidade serrana do Rio de Janeiro), dormimos inclusive lá.</em></em></em></div>
<div style="text-align: justify;">
<em style="border: 0px; font-family: inherit; font-stretch: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;"><br /></em></div>
<div style="text-align: justify;">
<em style="border: 0px; font-family: inherit; font-stretch: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">O sítio tinha uma característica engraçada porque ele deu o nome, se não estou enganado, de Julio de Mesquita Neto, em homenagem à indenização que recebeu do </em>Estadão<em style="border: 0px; font-family: inherit; font-stretch: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">, ao ser demitido. Com o dinheiro da indenização do </em>Estadão, (Teixeira trabalhou 23 anos na sucursal de O Estado de S.Paulo no Rio<em style="border: 0px; font-family: inherit; font-stretch: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">) ele fez isso de sacanagem. Com dinheiro da indenização do </em>Estadão, <em style="border: 0px; font-family: inherit; font-stretch: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">mas era uma coisa jocosa, se ele não tivesse recebido esta grana do Estadão, não teria comprado o sítio.</em></div>
</div>
<div style="background-color: white; border: 0px; color: #444444; font-family: Merriweather, Georgia, serif; font-size: 16px; font-stretch: inherit; line-height: 24px; margin-bottom: 1.5rem; outline: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">
<div style="text-align: justify;">
<em style="border: 0px; font-family: inherit; font-stretch: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">Na campanha do Darci, em 1986, teve outro fato curioso. Há muitos anos que ele não era locutor, narrador. Ele tinha aposentado este seu lado. Nós ganhamos um direito de resposta, não sei a troco de quê. Um direito de resposta contra o Moreira Franco (PMDB). Para ser exibido no horário eleitoral. Foi em cima do laço. Tinha que ser uma coisa ao vivo. Não era gravado. Caçamos o Teixeira, levamos ele para a então TVE, o colocamos em uma cabine e ficamos esperando a hora de entrar ao vivo: ‘um, dois, três, vai Teixeira!’. Ele leu, com um vozeirão trêmulo, porque não fazia isso há muitos anos e era muito delicado. Saímos dali e fomos festejar no Lamas (</em>Café e Bar Lamas, no Flamengo, Rio de Janeiro). <em style="border: 0px; font-family: inherit; font-stretch: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">Ele era habitué do Lamas</em>.</div>
</div>
<div class="wp-caption alignleft" id="attachment_3707" style="background-color: white; border: 1px solid rgb(204, 204, 204); color: #444444; display: inline; float: left; font-family: Merriweather, Georgia, serif; font-size: 16px; font-stretch: inherit; line-height: 24px; margin: 0px 1.5rem 1.5rem 0px; max-width: 100%; outline: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline; width: 328px;">
<a href="http://www.marceloauler.com.br/wp-content/uploads/2016/05/teixeira_heizer_e-A-outra-hist%C3%B3ria-de-cada-um.jpg" style="border: 0px; color: #dd3333; font-family: inherit; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; text-decoration: none; vertical-align: baseline;"><img alt="Teixeira Heizer lançou se ultimo livro no Rio, em 5 de abril e dois dias depois teve a parada cardíaca." class=" wp-image-3707" src="http://www.marceloauler.com.br/wp-content/uploads/2016/05/teixeira_heizer_e-A-outra-hist%C3%B3ria-de-cada-um.jpg" height="454" style="border: 0px; display: block; height: auto; margin: 3.92188px auto 0px; max-width: 98%;" width="318" /></a><br />
<div class="wp-caption-text" style="border: 0px; font-family: inherit; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: 1.5; margin-bottom: 0.8075rem; margin-top: 0.8075rem; outline: 0px; padding: 0px; text-align: center; vertical-align: baseline;">
Teixeira Heizer lançou se ultimo livro no Rio, em 5 de abril e dois dias depois teve a parada cardíaca.</div>
</div>
<div style="background-color: white; border: 0px; color: #444444; font-family: Merriweather, Georgia, serif; font-size: 16px; font-stretch: inherit; line-height: 24px; margin-bottom: 1.5rem; outline: 0px; padding: 0px; text-align: right; vertical-align: baseline;">
<em style="border: 0px; font-family: inherit; font-stretch: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">Quando ele fez 80 anos, ele reuniu os amigos e eu fui lá… ele era muito boêmio, gostava de tomar cointreau. Ele reuniu os amigos na churrascaria Majórica, aquela que pegou fogo e está lá ainda (</em>no bairro do Flamengo). <em style="border: 0px; font-family: inherit; font-stretch: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">Foi ali os 80 anos dele. Me lembro que estavam lá o Afonsinho, jogador. Estava o Álvaro Caldas….</em></div>
<div style="background-color: white; border: 0px; color: #444444; font-family: Merriweather, Georgia, serif; font-size: 16px; font-stretch: inherit; line-height: 24px; margin-bottom: 1.5rem; outline: 0px; padding: 0px; text-align: right; vertical-align: baseline;">
<em style="border: 0px; font-family: inherit; font-stretch: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">A última coisa dele foi o lançamento do livro. Ele lançou o livro no Rio, no início de abril, e dois dias depois ele teve o problema do coração. Ele tem um livro O </em>Jogo Bruto das Copas do Mund<em style="border: 0px; font-family: inherit; font-stretch: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">o. Apresentação do Villas Boas Correa. Ele me fez até uma dedicatória.</em> ‘Para José Trajano, irmão de tantas redações e muitos bares,um buquê de histórias, algumas épicas, outras trágicas, das Copas que tanto nos emocionaram. Verão de 2005′.</div>
<div style="background-color: white; border: 0px; color: #444444; font-family: Merriweather, Georgia, serif; font-size: 16px; font-stretch: inherit; line-height: 24px; margin-bottom: 1.5rem; outline: 0px; padding: 0px; text-align: right; vertical-align: baseline;">
<div style="text-align: justify;">
Teixeira Heizer escreveu três livros, o citado por Trajano e “<i>Maracanazo – Tragédias e Epopeias de um Estádio com Alma”</i>, lançado em 2010, em que conta suas memórias sobre a final da Copa do Mundo de 1950; e o mais recente <i>A Outra História de Cada Um</i>, lançado em 5 de abril de 2016, dois dias antes de sofrer um ataque cardíaco. Neste livro ele conta pequenas histórias de personagens com quem conviveu, de Apolônio de Carvalho a Zizinho. </div>
<div style="text-align: justify;">
<strong style="border: 0px; font-family: inherit; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; text-align: right; vertical-align: baseline;"><br /></strong></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="border: 0px; font-family: inherit; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; text-align: right; vertical-align: baseline;">Teixeira Heizer, vítima de um infarto, foi enterrado no cemitério Parque da Colina, em Piratininga, Niterói.</span><br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEib1A5f4ryCnedQCYNzDMIrWWLXrUaHw9hdS4qX8eYEYaj6Q9xtssQ6BMdU4k4y3PD0rdBL0jbWLDBeBw8E3fEbaiT5DxjE6qdfRTyxyIkx1IXw41UVtdz8EFSQg2eVo1gdTQIfGeWX9EA/s1600/teixeira-Heixer-pelo-Tijola%25C3%25A7o.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEib1A5f4ryCnedQCYNzDMIrWWLXrUaHw9hdS4qX8eYEYaj6Q9xtssQ6BMdU4k4y3PD0rdBL0jbWLDBeBw8E3fEbaiT5DxjE6qdfRTyxyIkx1IXw41UVtdz8EFSQg2eVo1gdTQIfGeWX9EA/s1600/teixeira-Heixer-pelo-Tijola%25C3%25A7o.jpg" /></a></div>
<span style="border: 0px; font-family: inherit; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; text-align: right; vertical-align: baseline;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<strong style="border: 0px; font-family: inherit; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; text-align: right; vertical-align: baseline;"><br /></strong></div>
<div style="text-align: justify;">
<strong style="border: 0px; font-family: inherit; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; text-align: right; vertical-align: baseline;">Texto publicado no Blog do jornalista Marcelo Auler Repórter - <a href="http://www.marceloauler.com.br/">http://www.marceloauler.com.br</a></strong></div>
</div>
Coisas do Mundo, Minha Nêgahttp://www.blogger.com/profile/10176436942034049161noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3917296745580674665.post-84979977615373843602016-04-25T14:03:00.001-07:002016-04-25T14:11:43.123-07:00Um Faro de gênios<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiIfjjQ2oayt0VsJ_ftuLyvOhDOaXO04Ob3-bWINNCnRJE0L3I6e2s1jKSbygmd9YYdve4K4EXpJLuDO5pxMGeU6jF4ujeV2kxOmz6cs1SYzdHFIZiOyChP8Y46EXywnP3iuY6AVxMLdZE/s1600/download+%25281%2529.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="168" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiIfjjQ2oayt0VsJ_ftuLyvOhDOaXO04Ob3-bWINNCnRJE0L3I6e2s1jKSbygmd9YYdve4K4EXpJLuDO5pxMGeU6jF4ujeV2kxOmz6cs1SYzdHFIZiOyChP8Y46EXywnP3iuY6AVxMLdZE/s400/download+%25281%2529.jpg" width="400" /></a></div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<span style="text-align: justify;">O Brasil ficou mais pobre nesta segunda-feira, 25 de abril de 2016. </span><b style="text-align: justify;">Fernando Faro</b><span style="text-align: justify;">, o Baixo, produtor e diretor de TV de peculiar talento deixou-nos aos 88 anos. Parte o homem e fica uma vasta obra de grandes serviços prestados à música popular brasileira. Os maiores nomes do cancioneiro popular passaram por suas mãos e muitos devem o sucesso ao sergipano de baixa estatura, mas de enorme coração. Ainda me lembro do último encontro que tive com o mestre: camarim do HSBC, em novembro de 2014, após o show de 50 anos do também mestre Paulinho da Viola – aliás, Paulinho foi o responsável, em programa de Faro nos 70, de trazer ao mundo “<i>As Rosas não Falam”</i> quando na oportunidade entrevistou o gênio Cartola. Já bem frágil, mas com o velho sorriso tímido no rosto, Faro posou para fotos com Beatriz e Cecília, filhas do Paulinho (eu mesmo as tirei), cumprimentou a todos e talvez pela última vez reverenciou o amigo que conheceu ainda quando Paulinho era o menino da Portela. Deixo com vocês uma entrevista muito bonita do mestre concedida à repórter Roseli Figuro para a Revista de Comunicação da USP, no ano de 2001. Aqui, ele fala de seus trabalhos e lembra os grandes amigos Cassiano Gabus Mendes, Vinícius de Moraes e Baden Powell. Conta como nasceu a idéia do tipo de entrevista que fazia com os músicos e cantores que se apresentavam no programa Ensaio. Mostra-se um grande conhecedor do teatro, da literatura, da música e das artes plásticas, sempre buscando trazê-las para a televisão. Era um otimista ao defender a importância da TV pública e apontar o jornalismo como perspectiva para a TV aberta. Para sempre, Fernando Faro. </span><br />
<br />
<b>POR UMA TV DE VANGUARDA </b><br />
<b><br /></b>
<i>Arrojado, criativa, vanguardista são adjetivos bem pertinentes a Fernando Faro, homem que há quatro décadas faz televisão no Brasil </i><br />
<i><br /></i>
<i><br /></i>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh7iq0f8KEqf-nsp0ZNM5NxCDoz2ne-x57p2q6tzCeJzLqe-uwDnACpEr8AV5rK055qEy8Ggm3AmiyNRtd8wrnGmk3wJcxSeQ3Be4exRPjG4NkU3F2LUP6S-cMIpH6lCL53eAI3i3hiXk8/s1600/download.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="243" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh7iq0f8KEqf-nsp0ZNM5NxCDoz2ne-x57p2q6tzCeJzLqe-uwDnACpEr8AV5rK055qEy8Ggm3AmiyNRtd8wrnGmk3wJcxSeQ3Be4exRPjG4NkU3F2LUP6S-cMIpH6lCL53eAI3i3hiXk8/s400/download.jpg" width="400" /></a></div>
<i><br /></i>
<br />
O diretor e produtor de TV Fernando Faro, entrevistado de Comunicação & Educação, é fonte constante de criatividade, desejando as leis de mercado e insistindo em trazer para a televisão uma programação de qualidade. Ao longo de quatro décadas, esteve à frente, junto com importantes nomes da TV brasileira, de programas históricos como TV de Vanguarda, Móbile, MPB Especial, Teatro 2, Feira de Música, Ensaio, shows e festivais. Como criador e responsável pelo programa Ensaio trouxe para a TV o melhor da música popular brasileira. São cerca de 400 programas entre o início na TV Tupi e, desde 1989, na TV Cultura, agora resgatados com o lançamento, pelo Sesc, do álbum: A música brasileira deste século por seus autores e intérpretes. Faro fala emocionado dos grandes amigos Vinícius de Moraes, Cassiano Gabus Mendes e Baden Powell. É um otimista e aponta o jornalismo como futuro da TV aberta.<br />
<b><br /></b>
<b>Por Roseli Figuro</b><br />
<br />
<b>Revista Comunicação & Educação:</b> Queria que você contasse a sua trajetória desde a Tupi, onde você fez coisas importantes, e que nos dissesse se antes da Tupi você trabalhou em algum outro veículo de comunicação.<br />
<br />
<b>Faro:</b> Quando parei no terceiro ano de Direito na USP, fui trabalhar num jornal, comecei como repórter.<br />
<br />
<b>RCE: </b>Saiu da Faculdade de Direito e foi trabalhar em um jornal?<br />
<br />
<b>Faro:</b> É. Trabalhei no jornal A Noite, depois no recém fundado Jornal de São Paulo. Era o jornal do Ademar de Barros. Trabalhava com gente fantástica: Geraldo Ferraz, companheiro de Pagu, a Patrícia Galvão, também colaboradora do jornal, Jorge Marques, Péricles Eugênio da Silva Ramos. No Jornal de São Paulo nós criamos o Suplemento Literário, foi uma experiência maravilhosa. Depois, trabalhei no jornal O Tempo. Quando fechou, fui para a Rádio Cultura. Na rádio, fazia um programa que trazia obras de artistas desconhecidos do público. Do rádio, fui trabalhar na TV Paulista. Ficava na ma das Palmeiras. Lá, mandaram-me para o jornal da TV, porque na parte artística não tinham vagas. Um dia encontrei o Costa Lima, o Costinha, responsável pelo pessoal, aproveitei a oportunidade e disse a ele que aquele trabalho não era o meu forte, que queria ir para outra função. Mas ele, com aquela mania de chamar todo mundo de figura, disse-me: "É, figura, esse é o seu negócio sim. Nós precisamos de você aí." Então, acabei ficando por dois anos. Passei a editor chefe do jornal. Depois desse tempo, cheguei para o Luizinho, ele era uma espécie de gerente, e disse que não aguentava mais. Aquele não era o meu caminho. Ele insistiu: "Você não pode sair, Faro"; mas, no dia seguinte, nos encontramos e ele perguntou se queria mesmo sair e deu-me uma cartinha para eu levar para o Cassiano (Cassiano Gabus Mendes). Marquei na TV Tupi e levei a carta. Quando encontrei o Cassiano, ele começou a conversa assim: "Já me falaram de você. É o seguinte, você vai fazer, a título de experiência, o TV de Vanguarda". Este era um programa de teleteatro, adaptação de peças teatrais e de literatura para a televisão. Foi idealizado pelo próprio Cassiano e pelo Fernando Barbosa Lima, ainda em 1952. Então, fiz uma adaptação de um trecho de O Tempo e o Vento, de Érico Veríssimo. As pessoas gostaram. Consegui um contrato de três meses. Não tinha um mês no cargo e pediram-me para fazer Rádio Tupi e TV Tupi.<br />
<br />
<b>RCE:</b> Isso era sessenta e...<br />
<br />
<b>Faro:</b> 1964.<br />
<br />
RCE: <b>Você trabalhava com muita gente boa. </b><br />
<b><br /></b>
<b>Faro: </b>É. Outro dia encontrei com a Vivinha (Eva Wha) e lembramos com saudades alguns trabalhos que fizemos juntos. Tive a oportunidade de trabalhar com ela quando o Cassiano pediu para eu o substituir: "Baixo, você faz o Alô Doçura pra mim?' E fiz. Foi divertido. Foram alguns programas apenas. Depois do TV de Vanguarda fiz um programa chamado Móbile. Era um programa cuja idéia partiu dos móbiles de Calder. O Móbile também percorreu um caminho difícil. Trouxe obras de André Gide, Thomas Mann, Goethe, Bejart, Kakfa. Adaptava as obras desses artistas para a televisão. Procurava dar uma visão geral das artes. Depois disso, lá na Tupi mesmo, trabalhei com propaganda. Passei também por todas as agências de propaganda de São Paulo. Ganhei experiência.<br />
<br />
<b>RCE:</b> Você falou que era ingênuo. Por que ingênuo?<br />
<br />
<b>Faro: </b>Porque isso de querer civilizar o mundo é uma coisa quixotesca. Mas acho que valeu muito, porque eu fazia uma coisa vertical, era uma proposta de formação vertical. E essas coisas que fiz foram depois horizontalizadas em novelas, como, por exemplo, Beto Rockfeller.<br />
<br />
<b>RCE: </b>Gostaria que você falasse um pouco mais a respeito dessa experiência inicial, quando você trouxe coisas do teatro, da literatura, da dança, do cinema para a televisão que, nos anos sessenta, tinha um outro alcance, atendia a um outro público.<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgJANLfDOj22GKMvcV6pR6sLb1hGw7UX8Nk4uc5SJRVeVPQGm7kw-wcGCRXiEUf_NoV1rCuSwSdVUMq-a-oKv9O2FqP9j2ep6b0E_mYVJbf1kONWIaDppFX1rVVBB3vYH6jOX7Qqr5aIB4/s1600/images+%25281%2529.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="289" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgJANLfDOj22GKMvcV6pR6sLb1hGw7UX8Nk4uc5SJRVeVPQGm7kw-wcGCRXiEUf_NoV1rCuSwSdVUMq-a-oKv9O2FqP9j2ep6b0E_mYVJbf1kONWIaDppFX1rVVBB3vYH6jOX7Qqr5aIB4/s400/images+%25281%2529.jpg" width="400" /></a></div>
<br />
<b><br /></b>
<b>Faro: </b>Levava para o Móbile convidados muito especiais. Levei várias vezes o pessoal do Movimento Concreto', o Augusto e o Haroldo de Campos, o Décio Pignatari. Esse programa procurava desmistificar o artista entrevistado. Por exemplo, uma entrevista na televisão tem toda aquela preparação, a montagem do espetáculo, perde-se a espontaneidade. Então, sempre procurava um meio de quebrar isso. O Décio Pignatari ia ao programa e levava a revista do Movimento Concreto. Eu escolhia um trecho e dizia para ele ler e falar sobre aquilo. Um dia, o Décio chegou, tirei a revista dele e o empurrei para a cena - claro que deixei umas referências para que ele não se perdesse de todo, nem eu. Comecei o programa, fazia perguntas e ele respondia, quando ele olhava de um lado, lá estava a luzinha vermelha da câmera, de outro lado, lá estava a outra câmera. Então, ele ficava assim meio perdido, e esse perdido foi para mim um grande momento de informação.<br />
<br />
<b>RCE: </b>Essa experiência toda em busca de uma linguagem resultou na forma do Ensaio?<br />
<br />
<b>Faro: </b>Sempre houve essa preocupação. Quando cheguei na televisão, sempre procurei trazer coisas das vanguardas artísticas, procurando uma linguagem de vanguarda para a televisão. Tem um ditado que diz que "a água toma a forma do vaso que a contém". Então, acho que a pintura, a literatura etc. são expressões que podem vir para a televisão, porque vão tomar sua forma própria. O Jorge Amado, por exemplo, com a Gabriela, passou a ser um sucesso literário muito maior, sua obra foi revitalizada depois que apareceu na televisão.<br />
<br />
<b>RCE: </b>Qual é a espeficidade da televisão? O que é da televisão?<br />
<br />
<b>Faro:</b> Costumo dizer que televisão é e sempre foi um veículo de baixa definição. O comportamento do espectador é diferente do espectador de cinema, por exemplo. Na televisão se tem uma imagem de baixa definição, o telespectador está assistindo e atende ao telefone, ou vai ao banheiro, volta, conversa com alguém. Não fica como se estivesse diante de uma coisa de alta definição, absorvido por ela, exigido por inteiro.<br />
<br />
<b>RCE:</b> Na Tupi você teve um percurso importante desde o TV de Vanguarda. Como foi a sua trajetória até chegar ao trabalho que você tem hoje na TV Cultura?<br />
<br />
<b>Faro: </b>Na Tupi, durante um período, passei a ser diretor musical, acho que era 1969. Fiz vários festivais, a Feira de Mú- sica, um programa que acho importante que tenha feito. Era uma feira de música mesmo. O Paulinho da Viola lançou Foi um rio que passou em minha vida neste programa; Toquinho fez Que Maravilha com Jorge Ben (Jorge Ben Jor) e lançou na Feira de Música; Jorge Ben fez Cadê Teresa e foi lá para lançar; Sérgio Cabra1 escreveu sobre o Cartola e foi ler na Feira. Rogério Duprat ia lá para reger uma orquestra ... Como diretor musical fiz todos os festivais da Tupi, os universitários e os de música popular.<br />
<br />
<b>RCE: </b>O primeiro festival de música popular foi pela Tupi ?<br />
<br />
<b>Faro</b>: Não, o primeiro festival foi na Excelsior, foi o que consagrou Arrastão, de Edu Lobo, na voz de Elis Regina. Depois os outros aconteceram na Record. Foi um tempo fantástico para a televisão. A Tupi foi na esteira disso, fazendo o festival universitário e os de música popular. Ainda quando estava na Tupi, como diretor musical, comecei a fazer o Ensaio, o Cassiano tinha acabado de sair da emissora.<br />
<br />
<b>RCE: </b>Foi você quem criou o Ensaio, na Tupi?<br />
<br />
<b>Faro:</b> É, na Tupi, em 69. Lembro que um dos primeiros foi com a Gal Costa, na seqüência, foram Zé Rodrigues, Robertinho do Acordeon. Depois fui fazer na TV Cultura um negócio chamado MPB Especial, porque na Tupi já tinha o Ensaio. Nesse tempo de Cultura fiz outras coisas, fiz teatro, o Teatro 2, era a adaptação do teatro para televisão. Um de muita repercussão foi a adaptação de O processo, de Kafka.<br />
<br />
<b>RCE:</b> O Ensaio, que nasceu na Tupi, já tinha esse formato?<br />
<br />
<b>Faro: </b>Exatamente a mesma coisa.<br />
<br />
<b>RCE: </b>Quer dizer que você começou com este formato de entrevista empurrando o Décio Pignatari, lá no Móbile?<br />
<br />
<b>Faro</b>: Empurrando o Décio, no Móbile? Não, porque depois disso fiz um programa também chamado Colagem. Éramos o Avancini, o Abujamra e eu. Foi muito divertido. RCE: De onde veio a idéia desse tipo de entrevista que você realiza no Ensaio? Faro: Essa idéia de entrevista nasceu no tempo em que era jornalista na TV Paulista, e andei atrás de uns bandidos, uns dois, Promessinha e Jorginho.<br />
<br />
<b>RCE: </b>Você andou atrás do Pomessinha ?<br />
<br />
<b>Faro: </b>Andei. Mas o Nélson Gato conseguiu entrevistá-lo antes de mim. Quando o Jorginho foi preso, avisaram-me. Então, fui até a prisão, era lá onde é hoje o Deic. Não podia entrar na cela, peguei o microfone, dei para ele, e eu ficava do lado de fora da cela, fazendo as perguntas e ele ficava lá dentro respondendo. Quando fazia meus programas na TV, aquela imagem do Jorginho sempre me vinha à cabeça. Foi daí que tirei a idéia da forma de entrevista do Ensaio.<br />
<br />
<b>RCE:</b> A linguagem do Ensaio ainda hoje é revolucionária para a televisão. Você consegue tirar de quem vai ao programa o que revela de fato a obra e o ser do artista, você consegue fazer a pessoa se soltar?<br />
<b><br /></b>
<b>Faro:</b> Fiz uma vez um programa com o João Bosco. Ele começou cantando uma música do Eduardo das Neves: "Lua, manda a tua luz prateada despertar ...." Cheguei para o João e disse: "João, vem cá, você sabe que isso é muito bonito?' Aí o João respondeu que essa pergunta o fazia lembrar a mão do pai dele, tocando violão com os amigos, na varanda da casa onde passou sua infância, fazia-o ver o pai, ouvir o violão dele. Por isso digo que no Ensaio não se faz apenas uma entrevista, se faz uma análise ....<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiYRPzIAbncjPNq98GWCQWvR49B0L5yJnjQZL4_4FjeTC8pjaewB6nRe2QBQmm-7gOT-fsQG-AteMz3iEvpo4NyAXFmkBwpFqMcqM70t7p065u0E8Do5D9ltL9lbylf9L0x2czgV94TF48/s1600/10749548_10204849123608418_2076865799_n.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="300" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiYRPzIAbncjPNq98GWCQWvR49B0L5yJnjQZL4_4FjeTC8pjaewB6nRe2QBQmm-7gOT-fsQG-AteMz3iEvpo4NyAXFmkBwpFqMcqM70t7p065u0E8Do5D9ltL9lbylf9L0x2czgV94TF48/s400/10749548_10204849123608418_2076865799_n.jpg" width="400" /></a></div>
<br />
<br />
<b>RCE: </b>Quantos Ensaios você já fez? Ensaio.<br />
<br />
<b>Faro:</b> Ah, uns 400.<br />
<br />
<b>RCE:</b> Onde estão ?<br />
<br />
<b>Faro:</b> Os primeiros, na Tupi. Por enquanto. Digo por enquanto, porque de mês a mês chega alguém dizendo que aqueles programas não têm mais condições, não se aproveita nem o som, nada.<br />
<br />
<b>RCE:</b> E os que estão na Cultura ?<br />
<br />
<b>Faro: </b>Estão lá. Revendo pedaços, réstias de um Ensaio chamado A Bênção Clementina!, com a Clementina de Jesus, recordei momentos maravilhosos da música popular brasileira. A Clementina cantando e mexendo um caldeirão com feijoada, com todo o pessoal da velha guarda ... Tem tudo isso registrado ...<br />
<br />
<b>RCE</b>: É difícil passar essa sua vontade de criar e manter uma linguagem nova para a entrevista para a equipe técnica? Como é isso?<br />
<br />
<b>Faro:</b> Não. Fiz esses programas com todo mundo, fiz com o Pipoca, com o Irineu de Castro. Qualquer profissional que estivesse lá, cortando, não tinha erro, porque o erro estava bom.<br />
<br />
<b>RCE: </b>Além do Ensaio, o que mais você tem feito?<br />
<br />
<b>Faro</b>: Fui professor da Unicamp, Universidade Estadual de Campinas, durante alguns anos e depois passei para as Faculdades Integradas São Marcos, em São Paulo, onde estou até hoje. A par disso, fiz a produção de discos e shows. Neste tipo de trabalho acabei ficando muito amigo do Vinícius de Moraes. Nós nos falávamos todos os dias, éramos muito amigos. Quando ele já estava doente, organizamos um show. Foi o último show dele. Ele estava meio chateado e no ensaio, passando o texto, disse a ele: "Não é assim que eu quero, põe a voz na garganta e diz passando o texto ..." Era assim ..., brincávamos um com o outro. Chegou o dia do show e como sempre, o Vinícius estava atrasado. A casa estava lotada e o Toquinho preocupado. Disse a ele que sem o Vinícius o show não começava, o público podia chiar, mas sem ele não começávamos. Foi quando o Vinícius chegou, soltamos o som: "poeta, poetinha camarada...". Vinícius sentou-se no banquinho e começou a cantar: "Se todos fossem iguais a você...", ele me chamou, pegou minha mão, colocou-a colada ao seu rosto e ficou assim a música toda. Fiquei em frangalhos ... isso significa muito para mim, éramos grandes amigos.<br />
<br />
<b>RCE: </b>Você estava falando que a televisão é um veículo de outros veículos. Do ponto de vista da verticalidade, você buscou trazer muitos veículos para dentro da televisão?<br />
<br />
<b>Faro:</b> Procurei fazer isso, principalmente no TV de Vanguarda. Em um dos Últimos programas, adaptei uma história que se chamava Triângulo. Era a história de um triângulo amoroso, contada sob diferentes pontos de vista. Na época, estava com muitas idéias novas na cabeça, est va lendo coisas do nouveau roman francês, e enfim, o primeiro ato da história era contado a partir do ponto de vista da mulher; o segundo ato era a mesma história do ponto de vista do marido; e o terceiro, a mesma história do ponto de vista do amante. Parece que o diretor comercial da TV não gostou muito e foi aí que o Cassiano pediu para eu fazer um outro programa. "Faz um programa no sábado, às 23h30min. Faça o que você quiser. Um certo dia esse diretor comercial passou por mim e perguntou como era mesmo o nome do novo programa que estava fazendo, disse a ele que era Móbile, ele elogiou o programa e então fiquei fazendo por um bom tempo. Isso me faz lembrar uma outra passagem muito importante para mim. Você sabia que um pouco antes de o Cassiano morrer, briguei com ele? Pelo seguinte: eu estava na Globo, no Rio de Janeiro, e disseram-me que o Cassiano tinha tido um problema no coração e estava internado em São Paulo. Larguei tudo, tomei o primeiro avião para São Paulo e fui para o hospital. Chegando lá, não me deixaram entrar. Disseram-me que o Cassiano não queria receber ninguém. Então disse a eles que eu era amigo do Cassiano, que estava lá para qualquer coisa, se ele precisasse de uma perna, eu estava dando uma, se ele precisasse de um braço, dava um dos meus! Mas não me deixaram subir. Fiquei muito irritado e então deixei o recado: "Fala para o Cassiano que o Faro mandou-o a puta que o pariu." Voltei para o Rio. Depois encontrei o Cassiano, já bem melhor, e ele disse que havia recebido meu recado, mas não sabia que era eu na portaria. Ele estava entubado. Se soubesse, disse que arrancava tudo e ia encontrar-se comigo. O Cassiano era assim!<br />
<br />
<b>RCE: </b>Sei que você está mexendo com produção de CDs, está organizando festivais. Fale um pouco destes trabalhos. Você foi se dedicando mais à música. Como é que foi isso?<br />
<br />
<b>Faro: </b>A medida que o tempo passa, dedico-me mais à música. Gosto muito de teatro, tem coisas que gostaria de fazer, mas a música foi ocupando mais espaços. Tem até uma história engraçada. Quando fazia a Hora de Bossa, o pessoal da TV dizia para eu fazer um programa mais gingado. Diziam que os artistas que levava não tinham voz nenhuma. Ficavam implicando porque eu não chamava o Sílvio Caldas para cantar, ou o Orlando Silva. Não conseguiam compreender que música era aquela que cantavam. Eles estavam referindo-se a Baden Powell, a Vinicius de Moraes e a muitos outros artistas importantes.<br />
<br />
<b>RCE:</b> Você está lançando um CD póstumo do Baden Powell ?<br />
<br />
<b>Faro:</b> É. Gravei os dois últimos CDs dele. Tenho muitas lembranças. Gostava muito dele, um grande homem. Um grande amigo e, para mim, o maior nome do violão brasileiro, mais do que isto: com a morte dele, morreu o último grande músico brasileiro. Violonistas até temos, mas como o Baden não. Perto dele os outros são quase datilógrafos. Baden conseguia aquela coisa mágica. Assim também era o canto da Clementina de Jesus.<br />
<br />
<b>RCE: </b>E hoje, quem são os grandes nomes da música ?<br />
<br />
<b>Faro:</b> Tem uma coisa interessante: a nossa música sempre ganhou muito com o pessoal que vem do Norte. O Rio também colabora muito. Hoje temos muita coisa boa. Tem esse pessoal do Mangue Beach, Lenine, enfim muita gente.<br />
<br />
<b>RCE:</b> Para o mercado fonográfico só existem pagode-axé-brega-sertanejo. O que está acontecendo?<br />
<br />
<b>Faro:</b> Tudo isso faz parte. No horizonte da música brasileira cabe o axé, cabe o pagode, cabe a música caipira, cabe a música sertaneja, cabe o bumba-meu-boi. Temos que conviver com isso, aceitar isso tudo. Não apenas aceitar, mas até aplaudir, porque são alentos. Tem inclusive essa moda de se buscar na África nomes para identificar a música. Essas coisas são mais para fazer papel, porque tudo isso é mesmo brasileiro.<br />
<br />
<b>RCE:</b> Desse caldo todo, o que você identifica como música brasileira ?<br />
<br />
<b>Faro: </b>Houve um tempo em que, no Brasil, a influência americana foi muito maior. As versões foram também uma fase da música brasileira. Tudo que se canta aqui, na nossa língua, é brasileiro, não é mais o que era. Passou por aqui, foi aproveitado, já é outra coisa: é brasileiro.<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
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<br />
<b>RCE:</b> O que é importante na televisão hoje ?<br />
<br />
<b>Faro: </b>Você quer falar, por exemplo, do futebol, essas coisas? (risos)<br />
<br />
<b>RCE:</b> Não. O que você acha das telenovelas? Estão piores do que eram? Este é um gênero que já teve seus grandes momentos?<br />
<br />
<b>Faro: </b>Lembro-me de telenovela no tempo do Beto Rockfeller, também de uma outra novela que teve na Globo chamada Que Rei Sou Eu?. Por acaso, ambas do Cassiano. Dizem que Beto Rockfeller é do Bráulio Pedroso. Não é. Eu cuidava da música e tudo o mais, participei de mil reuniões nas quais o Cassiano chegava e dizia assim: "Agora o Beto vai na casa da Malu, depois sai, quando sai, fecha o bloco aí, entende Bráulio?" Ele dava o esquema todo. São essas histórias que fizeram a televisão. Um dia desses estava numa banca de mestrado, na Faculdade São Marcos, era um trabalho sobre história da televisão. Fiz umas críticas ao trabalho da moça, dizendo que ela teria que ter conversado mais com pessoas que fizeram televisão para saber que nossa experiência parte de dois grandes ramos: o Cassiano Gabus Mendes e o José Bonifácio de Oliveira Sobrinho (Boni). Esses dois caras fizeram a televisão brasileira.<br />
<br />
<b>RCE: </b>São linhas diferentes?<br />
<br />
<b>Faro: </b>São bem diferentes. O Cassiano era uma coisa fantástica, porque era meio amador. Ele gostava daquilo que fazia. Quando alguém precisava de um cara para narrar um texto, de um sonoplasta, qualquer atividade, se o Cassiano estivesse disponível, ele ia e fazia o melhor. Ele foi diretor de TV, você precisava ver que diretor! O Boni é um profissional formado na televisão. Ele é muito ligado na estética, preocupado com a tecnologia. Um dia destes encontrei com ele e lembramos quando ele ia assistir ao meu programa, o Móbile. O Boni ficava sentado vendo o programa todo ser gravado.<br />
<br />
<b>RCE: </b>O Boni pensa na televisão mais como negócio do que como arte?<br />
<br />
<b>Faro:</b> Não. O Boni pensa a televisão como uma coisa muito técnica e que tem que ser cuidada tecnicamente, aperfei-çoada cada vez mais. Quem tem que pensar na televisão é ele. É difícil para quem o assessora, porque só ele pensa. O Boni costumava dizer: "Não pense, deixe que eu penso, invente aí as brincadeiras que quiser, e eu penso".<br />
<br />
<b>RCE:</b> E o rádio, com as novas tecnologias, ele será um veículo do futuro, ou continuará a ser tratado como um veículo de segunda importância ?<br />
<br />
<b>Faro</b>: O rádio sempre foi importante e continuará sendo. Quando fui trabalhar em rádio, fazia dois programas: um veiculava músicas que não estavam nas paradas de sucesso e o outro foi muito inspirado no Mário de Andrade, chamado Na Pancada do Ganzá. Era uma coisa mais tradicional, mais da cultura popular. Quando quis mudar para o Rio, fui à Rádio do Ministério da Educação e eles gostaram da idéia do programa Na Pancada do Ganzá. Aceitaram fazer um contrato, com isso eu já tinha como garantir o dinheiro do aluguel, só faltava conseguir um outro emprego para comer. Lembrei-me de um amigo que ficou de apresentar-me ao Paschoal Carlos Magno. Fui atrás dele, fomos falar com o Carlos Magno que me ofereceu um trabalho para escrever umas coisas lá para o jornal em que ele trabalhava. Fiquei meio desconfiado, não gostei, peguei o avião e voltei para São Paulo.<br />
<br />
<b>RCE:</b> E a TV pública, vai ser devorada pelo mercado ou tem esperanças?<br />
<br />
<b>Faro:</b> Não podem deixar acabar. A televisão não funciona como uma banca de frutas. Quer banana, compra-se, paga-se, até logo. Ela é muito mais que isso, principalmente quando se trata de TV pública. Mas ela depende muito de quem a dirige. Tive uma experiência muito difícil como assessor da presidência da TV Cultura. Um dia precisei de um documentário sobre a Segunda Guerra, não tínhamos no nosso setor, solicitei a um outro departamento da emissora, mas disseram-me que não podiam emprestar. Teria que comprar fora. Percebi que tínhamos uma televisão dividida em mil pedaços, com donos diferentes. Cheguei à conclusão de que precisava mudar aquilo, tivemos que mexer com as pessoas, reestruturar .... Foi muito desagradável. Mas na televisão comercial a coisa também é complicada. Quando fazia Móbile, o diretor comercial era contra mim. Ele queria uma programação mais horizontal, mas o Cassiano via a importância de uma outra linguagem, era ele que me segurava. Depois de uns quatro anos, cheguei para o Cassiano e disse que não aguentava mais fazer o Móbile. A partir de então comecei o Hora de Bossa. Um dia, esse diretor comercial foi falar de mim para o Cassino e ele, como era muito meu amigo e confiava no meu trabalho, disse: "Entre você e o Faro há uma diferença brutal, e eu fico com o Faro."<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
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<br />
<b>RCE:</b> A televisão ganha em tecnologia e perde em criatividade?<br />
<br />
<b>Faro: </b>Tenho um lema que é um lema Dadá 2. Os adeptos do Dadaísmo faziam palestras e terminavam dizendo: "abaixo Dadá, abaixo a arte, viva a vida."<br />
<br />
<b>RCE:</b> Quais perspectivas você aponta para a TV aberta ?<br />
<br />
<b>Faro: </b>Aponto o jornalismo. Esse é um tipo de programação que vai crescer na TV aberta.<br />
<br />
<b>RCE:</b> Este não seria um gênero mais conveniente à TV paga, atendendo a um público mais seleto, preocupado em informar-se melhor?<br />
<br />
<b>Faro: </b>Não, tem que ser na TV aberta, porque esta outra custa um dinheiro a mais que o telespectador tem que desembolsar. E o público que pode pagar tem outros meios para obter informação. Por exemplo, os programas do Ratinho, do Leão são uma espécie de programa de informação. Eles passam as notícias que os jornais não dão. Contam dramas, histórias que são como capítulos de um folhetim, de uma novela, mas estão falando do dia-a-dia.<br />
<br />
<b>RCE</b>: Você é um otimista em relação à televisão?<br />
<br />
<b>Faro:</b> A televisão pública é essencial no quadro geral das televisões abertas, e a perspectiva é essa, a do jornalismo.<br />
<br />
<b>RCE: </b>Quais são seus planos para obturo?<br />
<br />
<b>Faro:</b> Bom, quero fazer o 26º encontro cultural de Laranjeiras, em Sergipe, onde me criei. Esse encontro folclórico apresenta várias manifestações culturais, por exemplo, a Taieira, que não tem em canto nenhum do Brasil, só lá.<br />
<br />
<b>RCE: </b>O que é Taieira?<br />
<br />
<b>Faro: </b>Taieira é um cortejo feminino para São Benedito. Quero registrar também a Chegança, o Reisado, o Caboclinho. Quero registrar tudo isso, quero fazer um documentário também sobre histórias das gentes dos engenhos. Estou querendo contar essas histórias. É isso, essa é a vida!<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgXEWGZBR2TAsepc6f5APbbm5DbsrHxNYNQ_EnPeTBraKp1c3i8JnvnKRrApy8NgttLTnrsc4kpYU0w9N1NHhttf0OXzv87NMVmtwv4EOrwcRB90QWhyphenhyphenW78TOsKIs_FUkXuLbuducf6zlc/s1600/fernando-faro.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="300" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgXEWGZBR2TAsepc6f5APbbm5DbsrHxNYNQ_EnPeTBraKp1c3i8JnvnKRrApy8NgttLTnrsc4kpYU0w9N1NHhttf0OXzv87NMVmtwv4EOrwcRB90QWhyphenhyphenW78TOsKIs_FUkXuLbuducf6zlc/s400/fernando-faro.jpg" width="400" /></a></div>
<br />Coisas do Mundo, Minha Nêgahttp://www.blogger.com/profile/10176436942034049161noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3917296745580674665.post-3095909693761535052016-02-15T20:01:00.000-08:002016-02-15T20:01:19.761-08:00Um desfile que nunca termina<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgtAvSNTNgVPcKIRIABJXoT1d8Ov45yiH2Ql31Ngr89FZzaiDKbQGuWMZaVXqQYB92EuHwUeyw71tAlmtImBVcTwsSMfXUxvFJ_3gk7xjR4cnBLkyKPIwlrc3rR0QUY0VCv_Erru4vhsXk/s1600/central-da-mpb-maria-bethania-samba-enredo-mangueira-carnaval-2016-a-menina-dos-olhos-de-oya-1.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="211" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgtAvSNTNgVPcKIRIABJXoT1d8Ov45yiH2Ql31Ngr89FZzaiDKbQGuWMZaVXqQYB92EuHwUeyw71tAlmtImBVcTwsSMfXUxvFJ_3gk7xjR4cnBLkyKPIwlrc3rR0QUY0VCv_Erru4vhsXk/s400/central-da-mpb-maria-bethania-samba-enredo-mangueira-carnaval-2016-a-menina-dos-olhos-de-oya-1.jpg" width="400" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><b><a href="http://odia.ig.com.br/opiniao/2016-02-14/fernando-molica-um-desfile-que-nunca-termina.html" target="_blank">Fernando Molica</a></b></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Enredo que gostaria de ver no Sambódromo seria uma celebração aos desfiles, cortejos que nunca terminam</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>O DIA</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Rio - O enredo que gostaria de ver no Sambódromo seria uma celebração aos desfiles, cortejos que nunca terminam. Uma homenagem como a que a Vila Isabel fez em 1984, quando levou para a Sapucaí um belo samba do Martinho da Vila que dava glórias aos trabalhadores do samba: escultores,pintores, bordadeiras, carpinteiros, vidraceiros, costureiras, figurinistas, desenhista e artesãos, “gente empenhada a construir a ilusão”. </i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Martinho frisava que tudo se acabava na Quarta-Feira de Cinzas. Já Luiz Antonio Simas e Fábio Fabato pegaram o mote e batizaram seu ótimo livro sobre enredos de ‘Pra tudo começar na quinta-feira’ — uma forma de ressaltar que a preparação dos desfiles começa assim que termina um Carnaval. Com o devido pedido de licença aos três, eu apostaria na continuidade, num desfile que não tem começo nem fim, que faz parte de um mesmo todo. Afinal de contas, o processo é permanente, sem intervalo. Para reforçar este moto-contínuo, a comissão de frente da escola que traria o enredo vestiria as cores daquela que a antecedera na Avenida. Fantasias, alegorias e tripés reforçariam o tempo inteiro que cada escola é única em sua identidade, mas que faz parte um conjunto muito maior.</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>A divisão das alas mostraria as diversas etapas de preparação de um desfile, o detalhamento de um enredo, a escolha do samba, a apresentação dos protótipos de fantasias, a busca de grana, a elaboração dos carros alegóricos, o sufoco que é levá-los até o Sambódromo. O enredo falaria também dos torcedores, da gente que trabalha no entorno do Carnaval (vendedores de cerveja, de churrasquinho, de penduricalhos). A última ala ostentaria as cores da agremiação que viria em seguida, um jeito de convidá-la para a festa.</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Tudo para reforçar que, adversárias na disputa pelo título, as escolas estão ligadas entre si — e a todos que as admiram — por elos simbólicos, peças fundamentais na construção do que somos. Uma corrente que vem de muito longe, que tem pontas perdidas no tempo, até hoje fincadas na África, na Europa, em tantos lugares, em todo o país. Corrente que não para de crescer e que nos liga aos nossos ancestrais mas que também nos remete a deuses, santos, caboclos e orixás. Força que emerge na nossa música, no nosso jeito de andar, de dançar, de celebrar, de encarar a vida. Uma história nada linear que não início nem fim, que planta hoje a semente que germinará no futuro e também no passado: o que ficou pra trás não morreu, vive e pode ser reinventado.</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
Coisas do Mundo, Minha Nêgahttp://www.blogger.com/profile/10176436942034049161noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3917296745580674665.post-1505609006727477742016-02-05T12:01:00.004-08:002016-02-15T20:01:52.267-08:00Alberto Aggio*: A democracia e a ‘cidade futura’<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhwfiUMFx_1c-MBk-Fh6GizCxqNJ7PzCS9PrnMXrsbO_i6JZ1qsm2rMLDx8ebrqa1YL8bAhfTs42A7_fDEhZlvLFsq3NQ9TZyFapDmUoYjjuJwv30OUNoXjRtO6RVsAeN9sD8o12-vyF2U/s1600/Screen-shot-2012-05-24-at-15.52.46.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="262" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhwfiUMFx_1c-MBk-Fh6GizCxqNJ7PzCS9PrnMXrsbO_i6JZ1qsm2rMLDx8ebrqa1YL8bAhfTs42A7_fDEhZlvLFsq3NQ9TZyFapDmUoYjjuJwv30OUNoXjRtO6RVsAeN9sD8o12-vyF2U/s400/Screen-shot-2012-05-24-at-15.52.46.png" width="400" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><br /></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>O Estado de S. Paulo</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><i><br /></i></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><i>É urgente repensar, portanto, um novo federalismo, que estabeleça uma nova divisão dos recursos públicos amealhado dos brasileiros</i></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Apesar das circunstâncias que atormentam a vida da maioria dos brasileiros em razão da crise que assola o País, as eleições municipais de outubro próximo, como sempre foi no passado, não deixarão de demarcar a sua importância. Se as instituições da República suportarem a carga das crises que se avolumam a cada dia, provocada pelo desgoverno de turno, estaremos todos convocados a eleger ou reeleger os dirigentes das nossas cidades, desde as menores até as grandes metrópoles.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Apesar de tudo, os brasileiros, com a sua costumeira “desesperança esperançosa”, ainda creem no poder da sua participação por meio do voto. Pela via da política, estas eleições têm o poder de definir, mesmo que parcialmente, se o futuro imediato será ou não melhor do que os desencantos, as desilusões e as carências do presente.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
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O Brasil segue a tendência mundial de se afirmar como parte de um planeta cada vez mais urbano. É cada vez mais evidente que as cidades brasileiras devem ser pensadas de acordo com um tempo de mudanças aceleradas, mas de crise profunda e extensiva. Por isso elas necessitam de uma política que, além de enfrentar seus problemas setoriais com a eficiência requerida – como saúde, educação, segurança, mobilidade urbana, habitação e infraestrutura de saneamento básico –, se estruture a partir de uma orientação consonante com o tempo de grandes transformações que vivemos, especialmente na esfera da comunicação entre pessoas, corporações e instituições públicas e privadas.</div>
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Mas há alguns obstáculos que se antepõem a essa estratégia. O primeiro deles, e que faz parte do senso comum do brasileiro, é a visão de que as pessoas vivem nos municípios, e não nos Estados ou na Federação. Trata-se de uma meia-verdade. Os problemas das cidades brasileiras não se restringem apenas ao que ocorre cotidianamente nelas. É preciso entender que os municípios são entes federativos.</div>
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O vice-presidente Michel Temer, em artigo recente neste espaço, afirmou acertadamente que a nossa Federação é composta de Estados e municípios. As cidades brasileiras vivem sob o influxo de determinações políticas e financeiras dos três entes federativos (municipal, estadual e federal) que compõem o Estado brasileiro. E, como se sabe, uma das principais repercussões da crise hodierna do Estado brasileiro se manifesta pela crescente concentração de recursos no plano federal. Hoje, as finanças públicas dos municípios estão esgarçadas, provocando um desequilíbrio crescente que ameaça sua capacidade administrativa. É urgente repensar, portanto, um novo federalismo, que estabeleça uma nova divisão dos recursos públicos amealhado dos brasileiros.</div>
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As cidades brasileiras engendram historicamente exclusões e desigualdades, bolsões de segregação social e graves problemas ambientais. Essa realidade é conhecida dos especialistas e governantes, mas deve-se registrar que não há monopólio de nenhuma corrente intelectual ou força política a respeito das possíveis soluções para esses graves problemas. Por essa razão, é justo e imprescindível que se faça uma avaliação crítica do chamado “orçamento participativo”, uma política que, além de lidar com um porcentual irrisório de recursos do município, provocou ilusões e muitas distorções. Ela não foi efetivamente uma política democrática de participação e acabou cedendo espaço ao paternalismo, ao clientelismo e ao assistencialismo, impulsionando mais ainda elementos extremamente negativos na prática da política municipal.</div>
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A gestão democrática da cidade mostrou-se como uma questão de muito maior complexidade do que pensavam os arautos do “orçamento participativo”. Em artigo recente, a socióloga Maria Alice Rezende de Carvalho nos chama a atenção para o fato de que, no processo de modernização do Brasil das últimas décadas, passou-se da “cidade da ditadura”, com seus desastres habitacionais, de mobilidade e ecológicos, para a “cidade financista”, que elevou o mercado como a referência para o redesenho das necessidades urbanas e sociais básicas. O que nos leva a concluir que, no Brasil, a “cidade da democracia”, uma “polis contemporânea verdadeira”, não se tornou entre nós uma construção efetiva nestes últimos anos.</div>
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Recentemente, diversas mobilizações, tais como a Occupy Wall Street, os “indignados” ou as jornadas de junho de 2013 no Brasil, alimentaram a expectativa de que essa conquista emergiria das “cidades rebeldes”, numa difusa antevisão da “cidade futura”. No mundo intelectual, há tempos se fala em “cidades tecnológicas”, “inteligentes” ou “sustentáveis”, mas em todas as formulações a perspectiva de uma “cidade democrática” permanece distante e frágil como nexo fundante da acalentada “cidade futura”.</div>
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Alguns urbanistas qualificam as cidades brasileiras como “cidades cindidas, desiguais e insustentáveis”. Mas isso não é um destino. E a melhor maneira de enfrentar essa realidade talvez seja conectar democracia representativa e ativismo cidadão. O urbanista espanhol Josep Pascual chama essa estratégia de “governança democrática”, um modo de governar a “crescente complexidade e diversidade das sociedades contemporâneas, que se caracterizam pela interação de uma pluralidade de atores, pelas relações horizontais, pela participação da sociedade no governo e sua responsabilidade de fazer frente aos desafios socialmente colocados”.</div>
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Trata-se de uma proposta que pressupõe uma cidadania ativa, envolvida com a solução dos desafios sociais e que compartilha valores cívicos e públicos, a revalorização da política democrática e do governo representativo, além do fortalecimento do interesse geral, entendido como “construção coletiva”. O entendimento é que a “cidade futura” é sempre um arranjo inconcluso no qual não deve haver nem ganhadores nem perdedores definitivos.</div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgv3jxP1QvbjZFzvRH00WDU8wyFwzEaVRBN5IEMDmNfMvtSwm6hNpe1nedVcPdazqvJJO3Dj7bNBkbTnD-GYKDG0akUzOeol61WqZHg4Bau_U_j2NUM9zPYYVO2E6ky0xRuOF1pREwQPxk/s1600/ALBERTO+AGGIO.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgv3jxP1QvbjZFzvRH00WDU8wyFwzEaVRBN5IEMDmNfMvtSwm6hNpe1nedVcPdazqvJJO3Dj7bNBkbTnD-GYKDG0akUzOeol61WqZHg4Bau_U_j2NUM9zPYYVO2E6ky0xRuOF1pREwQPxk/s1600/ALBERTO+AGGIO.jpg" /></a></div>
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<b><i>* Alberto Aggio é historiador, professor titular da Unesp</i></b></div>
Coisas do Mundo, Minha Nêgahttp://www.blogger.com/profile/10176436942034049161noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3917296745580674665.post-54847154366104729482016-02-05T11:48:00.003-08:002016-02-05T11:48:57.062-08:00A história dos pisos de caquinhos das casas em São Paulo <i><b>Do Blog </b><a href="https://eleganciadascoisas.wordpress.com/2011/06/21/a-historia-do-piso-de-caquinhos-das-casas-paulistas-2/" target="_blank">A elegância da coisas </a></i><br />
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgJJKzkbfyD-jcJypWWxmzP6jWU7AO3G2ZylDrXTiCQJDqeUqVqTpPNJXHOaFw5vr5dopp0VHS6smXfDlRGR1KnFZ0PHbHfu-CNZIK2tslVNpRm4Fx2CcLgRoADjOcsNgF_zXdnXj2wQEM/s1600/caco.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgJJKzkbfyD-jcJypWWxmzP6jWU7AO3G2ZylDrXTiCQJDqeUqVqTpPNJXHOaFw5vr5dopp0VHS6smXfDlRGR1KnFZ0PHbHfu-CNZIK2tslVNpRm4Fx2CcLgRoADjOcsNgF_zXdnXj2wQEM/s400/caco.jpg" width="298" /></a></div>
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No processo industrial da época, sem maiores preocupações com qualidade, aconteciam muitas quebras e esse material quebrado sem interesse econômico era juntado e enterrado em grandes buracos.</div>
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Nessa época os chamados lotes operários na Grande São Paulo eram de 10x30m ou no mínimo 8 x 25m, ou seja, eram lotes com área para jardim e quintal, jardins e quintais revestidos até então com cimentado, com sua monótona cor cinza. Mas os operários não tinham dinheiro para comprar lajotas cerâmicas que eles mesmo produziam e com isso cimentar era a regra.</div>
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Certo dia, um dos empregados de uma das cerâmicas e que estava terminando sua casa não tinha dinheiro para comprar o cimento para cimentar todo o seu terreno e lembrou do refugo da fábrica, caminhões e caminhões por dia que levavam esse refugo para ser enterrado num terreno abandonado perto da fábrica. O empregado pediu que ele pudesse recolher parte do refugo e usar na pavimentação do terreno de sua nova casa. Claro que a cerâmica topou na hora e ainda deu o transporte de graça pois com o uso do refugo deixava de gastar dinheiro com a disposição.</div>
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Agora a história começa a mudar por uma coisa linda que se chama arte. A maior parte do refugo recebida pelo empregado era de cacos cerâmicos vermelhos mas havia cacos amarelos e pretos também. O operário ao assentar os cacos cerâmicos fez inserir aqui e ali cacos pretos e amarelos quebrando a monotonia do vermelho contínuo. É, a entrada da casa do simples operário ficou bonitinha e gerou comentários dos vizinhos também trabalhadores da fábrica. Ai o assunto pegou fogo e todos começaram a pedir caquinhos o que a cerâmica adorou pois parte, pequena é verdade, do seu refugo começou a ter uso e sua disposição ser menos onerosa.</div>
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Mas o belo é contagiante e a solução começou a virar moda em geral e até jornais noticiavam a nova mania paulistana. A classe média adotou a solução do caquinho cerâmico vermelho com inclusões pretas e amarelas. Como a procura começou a crescer a diretoria comercial de uma das cerâmicas descobriu ali uma fonte de renda e passou a vender, a preços módicos é claro pois refugo é refugo, os cacos cerâmicos. O preço do metro quadrado do caquinho cerâmico era da ordem de 30% do caco integro (caco de boa família).</div>
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Até aqui esta historieta é racional e lógica pois refugo é refugo e material principal é material principal. Mas não contaram isso para os paulistanos e a onda do caquinho cerâmico cresceu e cresceu e cresceu e , acreditem quem quiser, começou a faltar caquinho cerâmico que começou a ser tão valioso como a peça integra e impoluta. Ah o mercado com suas leis ilógicas mas implacáveis.</div>
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Aconteceu o inacreditável. Na falta de caco as peças inteiras começaram a ser quebradas pela própria cerâmica. E é claro que os caquinhos subiram de preço ou seja o metro quadrado do refugo era mais caro que o metro quadrado da peça inteira… A desculpa para o irracional (!) era o custo industrial da operação de quebra, embora ninguém tenha descontado desse custo a perda industrial que gerara o problema ou melhor que gerara a febre do caquinho cerâmico.</div>
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De um produto economicamente negativo passou a um produto sem valor comercial a um produto com algum valor comercial até ao refugo valer mais que o produto original de boa família…</div>
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A história termina nos anos sessenta com o surgimento dos prédios em condomínio e a classe média que usava esse caquinho foi para esses prédios e a classe mais simples ou passou a ter lotes menores (4 x15m) ou foram morar em favelas.</div>
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São histórias da vida que precisam ser contadas para no mínimo se dizer: </div>
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— A arte cria o belo, e o marketing tenta explicar o mistério da peça quebrada valer mais que a peça inteira…</div>
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<b><i><br /></i></b></div>
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<b><i>Manoel Botelho é Engenheiro Civil e autor da coleção CONCRETO ARMADO EU TE AMO</i></b></div>
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<b><i><br /></i></b></div>
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<b><i>manoelbotelho@terra.com.br</i></b></div>
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Coisas do Mundo, Minha Nêgahttp://www.blogger.com/profile/10176436942034049161noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3917296745580674665.post-67362873538802463422015-09-23T22:26:00.003-07:002015-09-23T22:27:52.991-07:00Gonzaguinha e Roberto Ribeiro <div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiWZK2uE2JJiE8BDIGB516A_jh_tjCU8EMjVu78vmAlDPFFmU3iQUBNmxVdteVFGdVOe9Ju5-7f0allam1Nh_ygwBt0jAIPJLDxxkvrB9AwQtn990Bwsbfh7Tq-9UoO4-RXLrfEcZ4YuFY/s1600/hqdefault.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiWZK2uE2JJiE8BDIGB516A_jh_tjCU8EMjVu78vmAlDPFFmU3iQUBNmxVdteVFGdVOe9Ju5-7f0allam1Nh_ygwBt0jAIPJLDxxkvrB9AwQtn990Bwsbfh7Tq-9UoO4-RXLrfEcZ4YuFY/s320/hqdefault.jpg" width="320" /></a></div>
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<i><br /></i></div>
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<i><br /></i></div>
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Dois gênios da raça, que infelizmente já nos deixaram – e de maneira prematura, juntos nas belas “Fala Brasil” e “Vamos à luta”. Roberto Ribeiro, um dos maiores interpretes de samba, com o craque Gonzaguinha. Programa gravado em 1981, mas infelizmente não consegui identificar a emissora. </div>
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<span style="color: #0000ee; text-decoration: underline;"><a href="https://www.youtube.com/watch?v=9tvUJEpdPuA" target="_blank">Veja AQUI</a></span><br />
<i><br /></i>
<i>“Vem sangrar</i><br />
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<i>Na força e beleza da festa que só você sabe agitar</i></div>
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<i>Dá um banho de garra e brilho</i></div>
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<i>Em quem quiser te segurar”.</i></div>
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</div>
<br /></div>
Coisas do Mundo, Minha Nêgahttp://www.blogger.com/profile/10176436942034049161noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3917296745580674665.post-8049690915561234462015-07-17T20:35:00.002-07:002015-07-17T20:43:10.580-07:00A tarde em que Ghiggia transformou o Maracanazo em realismo mágico<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhfmblYn7vKLrFJPhF2x0gZF80X-R775Em8d_2Z3ztAmgUxjZeX-6axvFq1kc1K_cGONY-eS3pvXq9qlhxn-wcYP9ViBbbYC6vgXsljmJfxOclqBfMyJLyTCaLp2-Goa13PHzmJ-UhyphenhyphenZzI/s1600/ghiggia-maraca-1950-brasil-copa-del-mundo-e1343422478744-800x308.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="153" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhfmblYn7vKLrFJPhF2x0gZF80X-R775Em8d_2Z3ztAmgUxjZeX-6axvFq1kc1K_cGONY-eS3pvXq9qlhxn-wcYP9ViBbbYC6vgXsljmJfxOclqBfMyJLyTCaLp2-Goa13PHzmJ-UhyphenhyphenZzI/s400/ghiggia-maraca-1950-brasil-copa-del-mundo-e1343422478744-800x308.jpg" width="400" /></a></div>
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Quis o destino que Alcides Ghiggia partisse em um 16 de julho. Justamente na data em que a maior tragédia do futebol brasileiro, o “Maracanazo”, completa 65 anos. Um dia atípico, que destriu uma nação sem lançar uma bomba, dar um tiro de canhão. O único som que ouviu foi das redes brasileiras após o segundo tento uruguaio, o 2 a 1, diante da até então favorita Seleção Brasileira. Vitória celeste que que criou heróis e vilões, enredo trágico que povoa a mitologia do futebol. O personagem que fez parar milhões de corações brasileiros partiu para entrar no campo da eternidade e lá reencontrar o capitão, a lenda Obdulio Varela, e os craques Pepe Schiaffino e Zizinho. Olhar novamente nos olhos do amaldiçoado Barbosa, aquele que pagou o preço de uma vida por um gol. Descanse em paz, Ghiggia. Abaixo, um texto belíssimo escrito pelo jornalista Leandro Beguoci, do <a href="http://trivela.com/">Trivela.com</a>.</div>
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<b><i><a href="http://trivela.uol.com.br/a-tarde-em-que-ghiggia-transformou-o-maracanazo-em-realismo-magico/">A tarde em que Ghiggia transformou o Maracanazo em realismo mágico</a></i></b></div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEilvd5kLQ0ZpwNfzSCEBcMQ7_w1Ol-UOxwdw4qmJeAOWIR6G-VWwDJ4-FNGOoNGKbD_-ZnxJp43gYLb8-bhn9umzaoGG2cZYN0IE2v_l8hPYexceuWLVR7McnMtYKeHyCk4-iXz4jrmA-M/s1600/Urug1950.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="179" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEilvd5kLQ0ZpwNfzSCEBcMQ7_w1Ol-UOxwdw4qmJeAOWIR6G-VWwDJ4-FNGOoNGKbD_-ZnxJp43gYLb8-bhn9umzaoGG2cZYN0IE2v_l8hPYexceuWLVR7McnMtYKeHyCk4-iXz4jrmA-M/s320/Urug1950.jpg" width="320" /></a></div>
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<i>Hy-Brasil, O’Brazil e mais um montão de nomes definem uma uma ilha fantasma, no Oceano Atlântico, que só é visível a cada sete anos. Porém, mesmo quando é visível, ela não pode ser visitada. Você navega, vê, navega, vê, navega mais um pouco, cansa o braço, morre de frio, navega mais um pouco, mas não consegue alcancá-la. É uma perseguição implacável a algo visto e, ao mesmo tempo, impossível de ser sentido. Essa lenda irlandesa tem aproximadamente 700 anos. Até onde chega a nossa historiografia, o nome da ilha não tem relação comprovada com o nome que o nosso país receberia dos portugueses. Bem, pode não ter a ver com o nome. Só que tem relação com algumas coisas que, de vez em quando, insistem em acontecer nesta parte do planeta.</i></div>
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<i><br /></i></div>
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<i>O Maracanazo é um exemplo. A derrota na Copa de 1950 para o Uruguai vai continuar existindo para sempre, visível a cada ano, latejando na cabeça de cada brasileiro que já viveu, que vive e que ainda vai nascer. Mas, a partir de hoje, será impossível tocá-la fisicamente. A morte do uruguaio Alcides Ghiggia encerra o último capítulo de uma história de 65 anos – e num 16 de julho.</i></div>
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<i><br /></i></div>
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<i>Ghiggia fez o gol da vitória uruguaia. Era o último jogador vivo daquele jogo. Sua morte foi divulgada pouco depois das 18h – o jogo de 1950 acabou por volta das 17h. O herói da Celeste se foi exatamente 65 anos depois do jogo em que impôs um silêncio de gerações ao Maracanã. Para deixar tudo ainda mais impressionante, Ghiggia morreu de ataque cardíaco – a doença, por definição, de toda pessoa que ama futebol. A doença do coração que para de bater, que se parte, que se rompe. A doença que virou uma metáfora, até desgastada, para o que cada brasileiro sentiu quando Ghiggia chutou aquela bola no Maracanã.</i></div>
<i><br /></i>
<i>– A MEMÓRIA: <a href="http://trivela.uol.com.br/especial/encontro-com-os-herois-derrotados/">O encontro com os heróis derrotados de 1950</a></i><br />
<i>– A REVANCHE: <a href="http://trivela.uol.com.br/as-revanches-esquecidas-que-reuniram-os-veteranos-do-maracanazo-15-anos-depois/">Os jogos de 1965 entre brasileiros e uruguaios</a></i><br />
<i>– A HOMENAGEM:<a href="http://trivela.uol.com.br/hoje-e-dia-de-parabenizar-ghiggia-dia-de-aplaudir-uma-das-mais-belas-historias-futebol/"> Por que Ghiggia merece os nossos aplausos</a> </i><br />
<i><br /></i>
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<i>Todos aqueles homens da final de 1950 eram grandes personagens e protagonizaram grandes cenas, dignas da obra trágica e mágica do Maracanazo. Uma delas, a minha favorita, é a do goleiro brasileiro Barbosa queimando as traves do gol de Ghiggia durante um churrasco. Porém, sempre faltaram as cenas finais. Cenas de Ghiggia administrando um supermercado perdido no Uruguai, o heroi que não precisa de mais nada exceto seu próprio heroísmo, eram boas – mas nunca foram suficientes para encerrar o livro. Até hoje. Ghiggia, administrando o mercado, morrendo no aniversário do dia mais triste do futebol brasileiro e no mais feliz do futebol uruguaio, no fim de uma tarde de inverno…</i></div>
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<i><br /></i></div>
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<i>Essa é uma bela cena para fechar essa história. Tão boa que permite dizer que, se o Maracanazo não existisse, infelizmente, ele precisaria ser inventado.</i></div>
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<i><br /></i></div>
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<i>A América Latina é o continente do realismo mágico na literatura – a escola que tratava o inacreditável como se fosse rotina, como se fosse banal. A Argentina nos deu Jorge Luis Borges e Julio Cortázar. A Colômbia, Gabriel García Márquez. Brasil e Uruguai tiveram grandes autores de realismo mágico, mas nenhum deles conseguiu inventar uma história como o Maracanazo. Porque o Maracanazo, no final das contas, virou a obra insuperável desses dois países – que já foram apenas um, entre 1817 e 1825.</i></div>
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<i><br /></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Em vez de começar no papel e povoar a memória de milhões de pessoas, o realismo mágico do Maracanazo começou no gramado – e Ghiggia é indiscutivelmente seu maior personagem. Ele fechou a história e uniu Brasil e Uruguai para sempre. É uma lenda que paira no tempo – que a gente vê, e quer esquecer, vê e quer esquecer, vê e quer esquecer. Mas ela vai continuar sempre lá, chutando a bola no gol de Barbosa… A gente vê de longe, mas nunca mais vai poder tocar.</i></div>
Coisas do Mundo, Minha Nêgahttp://www.blogger.com/profile/10176436942034049161noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3917296745580674665.post-13305366790789743732015-07-06T06:23:00.002-07:002015-07-06T21:41:24.823-07:00Araca atualíssima no Vox Populi <iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="https://www.youtube.com/embed/M6GMp9BJUlw" width="420"></iframe><br />
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A entrevista é do final dos anos 70, mas se alguém disser que foi gravada na semana passada, ou há 5 anos, poderia passar batido não fosse o fato de<b> Aracy de Almeida</b>, a Dama da Central, ter nos deixado em 1988. Diante das lentes do Vox Populi, antigo programa de entrevista da <i>TV Cultura</i>, a velha Araca está afiada, melhor, afiadíssima. Suas críticas parecem traçar o cenário artístico dos dias de hoje, de muita pobreza intelectual, desanimador ao extremo. Em pouco mais de uma hora de respostas ácidas dirigidas ao âncora, populares e artistas – o que dava o charme do jornalístico – a interprete predileta de Noel Rosa dá uma aula de cultura, humor e vida. Suas amizades, seus sucessos, parceiros e diversos causos contados de maneira saborosíssima. Apesar de sua identidade com o subúrbio, Aracy circulava com desenvoltura pelos bares boêmios da Lapa ou pelos salões da sociedade. E sem conversa fajuta. E estamos conversados! </div>
Coisas do Mundo, Minha Nêgahttp://www.blogger.com/profile/10176436942034049161noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3917296745580674665.post-36345663592981741182015-06-29T14:08:00.003-07:002015-07-02T22:55:42.809-07:00José Hamilton Ribeiro: o Repórter do Século <div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg3tvnBAgMel8E-ndQ6NG8uW9TdWfY5-j8EdRNdL6p2LwY-cTBAAdwAAjDxerYg-IKdn-nvP9GXNS4D4jlcqUpb-d56_0aie9A7BksF1Dqg5vRiTXi8E7Tf3Sy5K8xZLf0oKztz5RVfl0o/s1600/ze+hamilton.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="220" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg3tvnBAgMel8E-ndQ6NG8uW9TdWfY5-j8EdRNdL6p2LwY-cTBAAdwAAjDxerYg-IKdn-nvP9GXNS4D4jlcqUpb-d56_0aie9A7BksF1Dqg5vRiTXi8E7Tf3Sy5K8xZLf0oKztz5RVfl0o/s400/ze+hamilton.JPG" width="400" /></a></div>
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Aos 50 anos de carreira, esse caipira de Santa Rosa de Viterbo, pequeno povoado (como ele diz) próximo de Ribeirão Preto, no Interior de São Paulo, não se cansa de emocionar a quantos o vêem semanalmente no Globo Rural ou lêem nas reportagens e livros que tem publicado por todos esses anos. Com a simplicidade que lhe é peculiar diz que um bom repórter é aquele que tem a curiosidade para saber as coisas antes dos outros, a vontade de contar a história que viu e ouviu e a capacidade de contar isso bem. Prêmios não faltam em sua galeria. Só de Esso foram sete, entre individuais e coletivos. A esses se somam outros como Telesp, Vladimir Herzog, José Reis de Jornalismo Científico, CNA de Jornalismo, Imprensa Embratel, Cláudio Abramo de Jornalismo, Líbero Badaró, Personalidade da Comunicação e o recente Maria Moors Cabot, da Universidade de Columbia - uma das maiores honrarias do mundo, para um profissional de jornalismo.</div>
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Correspondente de guerra no Vietnam, pela sempre lembrada revista Realidade, ficou mutilado ao pisar numa mina, num episódio que marcaria para sempre sua vida. Enfrentou o infortúnio e o medo, trabalhando sempre e mais. E quando um dia lhe perguntaram se não era difícil ser repórter, fazer trabalho de campo, tendo esse problema físico, sem perder o bom humor ele sapecou: "Mais fácil ser repórter com uma perna só, do que com quatro".</div>
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Idealizador em 1991 da coluna Moagem (jornal Unidade, do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo), que deu origem em 1995 ao FaxMOAGEM, atual Jornalistas&Cia, e no final de 2005 a este PROTAGONISTAS da Imprensa Brasileira, José Hamilton Ribeiro acaba de lançar quatro livros inéditos, o último deles usado como título dessa edição, O Repórter do Século, da Geração Editorial, que reúne as sete matérias premiadas pelo Esso e mais a reportagem original publicada na revista Realidade, na qual ele relatou seu drama no Vietnam. São dessa mesma safra Música Caipira - As 270 maiores modas de todos os tempos (Editora Globo), livro que estava pronto havia três anos e que dá vazão ao carinho que ele tem pelas coisas do campo; Os Tropeiros - Diário da Marcha (Globo), escrito em um mês e meio para que pudesse ser lançado com a série ainda no ar (programa Globo Rural); e Livro das Grandes Reportagens (Globo), feito por Geneton Moraes Neto, do Fantástico, que reuniu sete repórteres que fizeram matérias para o programa e cada um desses repórteres faz um texto sobre o personagem que mais o impressionou. Um feito, segundo ele próprio diz, que pode talvez ser considerado um recorde e que só foi possível acontecer por ser ele um amador ("Sim, porque se eu fosse escritor profissional, jamais teria condições de fazer isso dessa forma; escritor profissional lança e trabalha um título por vez).</div>
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Pai de Tetê Ribeiro, que é casada com Sérgio Dávila, da Folha de S.Paulo e que como ele também foi correspondente de guerra, cobrindo o início da guerra do Iraque, e de Ana Lúcia, é casado há 43 com Maria Cecília e há mais de 25 anos com a Globo, onde está desde 1981, tendo começado pelo Globo Repórter, onde ficou um ano. Já em 1982 foi para o Globo Rural, convidado por Humberto Pereira e Gabriel Romeiro e de lá nunca mais se desgarrou, embora tivesse pelo caminho alguns interessantes convites para trocar de endereço.</div>
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Na morna tarde da última quarta-feira, ele recebeu a equipe de PROTAGONISTAS na redação do Globo Rural, no Brooklin, para uma conversa livre e solta de quase três horas e meia, da qual participaram os editores Eduardo Ribeiro e Wilson Baroncelli e o assistente André Carbone. Conversa que só viria a ser interrompida pela rápida passagem de Humberto Pereira, diretor de Redação do Globo Rural, que não se furtou a contar a origem do programa: "A idéia do Globo Rural não foi do jornalismo, como muitos pensam, e sim da área comercial da emissora. Eles viam um grande potencial para produtos focados no campo, mas não tinham onde trabalhar essa publicidade. Insistiram com a Direção da Globo para que criasse um programa com esse perfil e a empresa entendeu que melhor do que colocar algum show sertanejo ou coisa do gênero seria um programa jornalístico. Deu tão certo que estamos aí até hoje, com uma audiência excepcional tanto no programa diário, que vai ao ar às 6h30 da manhã, quanto no semanal, que vai ao ar aos domingos às 8 horas."</div>
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Zé Hamilton falou de seus medos, de suas convicções, do que pensa do jornalismo de hoje, de sindicato, de patrões, de diploma, dos salários dos parlamentares (que defende, sejam elevados), e até revelou o segredo da caçada ao Tirisco, que há anos empreende em Santa Rosa de Viterbo, e a fórmula que ele desenvolveu e que considera ideal para se fazer uma boa reportagem.</div>
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Nesse especial de final de ano, PROTAGONISTAS escolheu o homem que de certo modo lhe deu vida e o oferece como presente de Natal para os leitores. Leia sem moderação... e sem pressa. E se puder imprima e a deguste com vagar nesses dias de preguiça e férias.</div>
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<b> Fotos de Keisaburo Shimamoto</b></div>
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PROTAGONISTAS – Você gosta de brincar com a sua longevidade como repórter. Conte um caso desses.</div>
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José Hamilton Ribeiro – ...Eu me lembro que comecei assim: “Não sei se é o lugar certo nem o momento. Mas eu não resisto e vou falar. Eu quero fazer uma queixa. Tem gente de má índole dizendo por aí que eu sou um repórter tão antigo que fiz a reportagem da primeira missa do Brasil. (risos) Pura maldade dessa gente! Agora, a primeira missa de Brasília eu fiz mesmo...” (risos) A reportagem da primeira missa de Brasília, que foi em maio de 1957... Não sei se era 12 ou 13 de maio...</div>
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<br /></div>
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P – Era um canteiro de obras ainda?</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – Acho que antes até... Era a primeira missa de Brasília e eu fui fazer a reportagem para a Folha. Estou curioso de ir lá na Folha ver, porque estou pensando o seguinte.... Eu entrei na Folha em junho de 56. Em maio de 57 eu não tinha 21 anos e não tinha um ano de Folha. Até hoje me pergunto como a Folha me mandou cobrir, em Brasília, uma solenidade desse porte. Há duas possibilidades: primeira, a Folha era tão ruim na época que mandava qualquer um (risos); a segunda possibilidade – aí é uma sofisticação política – é que a Direção da Folha achava que aquilo não tinha importância nenhuma, uma papagaiada que ia dar em nada e podia mandar um principiante para fazer a matéria...</div>
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<br /></div>
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P – Tem uma terceira possibilidade: a de que eles acreditavam num repórter jovem. Quem era o editor-chefe na época?</div>
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JHR – Não lembro. O diretor de Redação era o Mário Mazzei Guimarães. Eu sei que anos depois a Veja fez uma matéria sobre o espírito de Brasília, o que significou aquele momento, e citou aquela minha matéria da Folha. Porque eu dizia na matéria que nós chegamos em Brasília de manhã, a missa era à tarde, sem hotel reservado. Mal tinha hotel em Brasília. Chegamos lá num tipo de pensão, um hotelzinho de madeira, e o cara disse: “Não tem quarto. Mas até a hora de vocês virem dormir eu faço um”. (risos) E fez. Quando chegamos à noite para dormir tinha um quarto lá. A Veja citou isso na matéria. Um hotel fazer um quarto de manhã para a tarde... Era o espírito de Brasília.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – Foi seu primeiro emprego?</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – A Folha? Não. Eu comecei em 55, no jornal O Tempo. Vocês não conhecem a história do jornal O Tempo, não é? Do Hermínio Sacchetta, grande comunista. Ele era secretário da Folha quando ela foi vendida para o José Nabantino Ramos, de porteira fechada. Então, o Sacchetta, muito comunista, e sobretudo uma pessoa admirável, um líder magnético, carismático, reuniu a Redação da Folha e falou que era uma sacanagem o jornal ser vendido de porteira fechada, jornalista ser vendido como cabeça de gado. “Eu não aceito isso!” Aí metade da Redação saiu com a chegada do grupo do Nabantino. O Sacchetta arranjou um cara de dinheiro e fez um jornal, O Tempo, com metade da Redação da Folha. E esse jornal era muito bem feito para a época. Acho que não durou dois anos, porque era um empreendimento muito precário para enfrentar a grande imprensa de São Paulo, mesmo naquela época. Eu comecei lá, nesse jornal do Sacchetta. Metade da Redação saiu e foi que nem greve de estudante. Na hora de fazer greve, todo mundo faz. Mas depois da primeira semana, a mãe chega para a filha e pergunta se ela não vai para a escola. “Não, a gente está em greve”. “Como, greve? Que greve? Esses comunistas ficam fazendo greve toda hora. Larga a mão disso! Vai lá!”. Aconteceu isso com a turma que saiu da Folha. Acho que as mulheres apertaram os caras: “Como!? Você saiu da Folha e vai ficar nesse jornalzinho?” Aí eles foram voltando para a Folha.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – E o Nabantino foi aceitando...</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – Foi. Era gente experiente. Foram voltando e O Tempo precisou de gente e começou a pegar o que havia. Eu era estudante da Cásper Líbero e comecei lá em 55. Em junho de 56 fui para a Folha.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – Você chegou a se formar?</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – Não. Quando eu estava na virada do penúltimo para o último ano (naquela época eram três anos), era vice-presidente do Centro Acadêmico. Assembléia e tal, resolve o Centro Acadêmico fazer uma greve na Cásper Líbero. O objetivo era modesto: substituir todos os professores. (risos) Os estudantes decidiram que os professores eram todos ruins. Queriam o Hideo Onaga, o Mazzei, os grandes jornalistas, não aqueles professores que estavam lá. Quando a greve estalou e parou a escola, o presidente do Centro Acadêmico, que era um rapaz chamado Agnaldo, deu uma tremida, amarelou e renunciou ao cargo. Eu era vice e assumi. Conseguimos segurar a greve uma semana. Foi aquilo que eu falei: no começo da semana seguinte, como a maioria da classe era de mulheres...</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – Já naquela época??!!</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – É já naquela época. Mas penso que, naquela época, a mulher era mais submissa em casa. Então, deve ter acontecido isso: o pai ou a mãe devem ter dito que elas iam perder o ano. Eu sei que no começo da semana seguinte foi entrando um, entrando outro e na metade da semana a greve já tinha furado. Aí fizemos uma assembléia melancólica para acabar com a greve – “A luta continua”, né? (risos) –, ela acabou e a diretoria da escola chamou quatro pessoas, que considerava responsáveis por aquela balbúrdia. Disseram que não iam nos expulsar, mas que não aceitariam a nossa matrícula no ano seguinte. Então, eu não me formei. Voltei para a Cásper Líbero anos depois como professor. Na primeira reunião da Congregação de que participei, falei: “Tenho o dever de avisar vocês de que eu saí dessa escola praticamente como um mau elemento. É bom que vocês saibam, porque vai que alguém lembre...” (risos) Além de mim, os outros três eram o Paulo Patarra, que veio a ser editor-chefe da Realidade, depois de passar pela Última Hora, grande jornalista; uma moça linda que se chamava Judith e que veio a ser mulher do Patarra, a Judith Patarra, ótima jornalista, trabalhou até outro dia na Caras; e o José Carlos Del Fiol, que terminou o jornalismo, foi trabalhar na Folha, depois fez Direito e se dedicou à advocacia. Então, dos quatro que eles expulsaram, três deram certo na profissão.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – O resto ninguém sabe quem é...</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – Ah, é! O critério lá não estava muito legal, não é? (risos) Mas a primeira reportagem que eu fiz para a Folha não foi essa da missa, que eu me lembre. Foi sobre o Padre Donizette Tavares de Lima, de Tambaú. Toda a imprensa estava dando notícias de lá, de caravanas para Tambaú. Eu fui fazer uma matéria lá, mas pegando por outro lado. O padre fazia os milagres dele e não cobrava nada. Mas tinha gente que jogava dinheiro e eu fui atrás disso. Descobri que havia uma equipe que juntava o dinheiro em sacos e aí chamava o padre para saber o que fazer com aquilo. Era quando os interesses afloravam. Um dizia: vamos comprar uma fazenda. Compravam a fazenda e aí iam ao cartório registrar e ficavam contando aqueles sacos de dinheiro. Ou comprar uma casa. A minha matéria, portanto, foi no contrapé daquela história dos milagres. Ele fazia milagres de dia, mas não descuidava dos sacos de dinheiro de noite.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – Como é que você conseguiu entrar lá?</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – A minha cidade, Santa Rosa de Viterbo, é vizinha de Tambaú. Eu já havia jogado futebol em Tambaú. Era zagueiro do segundo time do Santa Rosa. Quer dizer, conhecia a cidade, algumas pessoas, tinha amigos, por lá. Como era muito perto, a cidade de Santa Rosa acompanhou o tal fenômeno e seus desdobramentos. A minha família, meus conhecidos, sabiam todos os detalhes. Fofoca desse tipo, em cidade pequena, é um rastilho. Então, eu fiquei sabendo que tinha esse negócio, esse esquema. Cheguei em Tambaú, procurei gente que eu conhecia...</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
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P – Foi você quem sugeriu a pauta?</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – Não, eu fui fazer uma matéria sobre o padre, sobre o fenômeno. O jornal me pautou para ir lá ver o que estava acontecendo. Aí saiu a matéria na Folha e eu fui procurado, uns dois dias depois, por um cara que não sei mais quem é, interessado em fazer um livrinho com a tal matéria. Três dias estava o livrinho na rua, com a verdadeira história do padre de Tambaú, e o que estava por trás daqueles milagres. Um livrinho de folhas moles, sem capa dura, tipo cordel, mas em prosa. E sem assinatura. Alguns dias depois, estou na Folha, liga uma pessoa, um tal padre Picão. Disse: “Aqui é o padre Picão. Eu queria saber se foi você mesmo quem escreveu esse livro do padre de Tambaú”. E eu disse: “Mas que livro? Não estou sabendo de livro nenhum...” Eu estava certo de que era uma patrulha da Igreja querendo pegar o cara que estava falando mal de um padre. Aí neguei tudo: não sei quem é, nunca vi esse livro. Muitos anos depois, esse Davi Picão virou bispo (acho que está em Santos) e a gente sabe hoje que é um bispo muito progressista, muito aberto. E ele queria saber de coisas desse livro não para perseguir o autor, mas porque queria investigar, era a Igreja querendo saber o outro lado da coisa, mas eu neguei tudo. (risos) Rasguei todos os livros que eu tinha e não ficou nenhum de recordação.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – Você veio para São Paulo para fazer Jornalismo ou começou treinando em algum lugar e depois passou para a profissão?</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – Eu vim para São Paulo depois de terminar o 2º grau. Naquela época era Clássico e Científico, de três anos. Eu fiz em Casa Branca, que era um lugar onde havia escolas boas antigamente. Pegava aquela região de Santa Rosa, de Tambaú. Era uma capital regional do ponto de vista de escola. Casa Branca não tinha um Ginásio e sim um Instituto de Educação. Tinha curso de Sociologia, Clássico, Científico, curso de professor, era quase uma míni-universidade. E tinha um jornalzinho dos estudantes. Um dia alguém falou que eu gostava de ler e escrever e me convidaram para fazer um artigo. Eu fiz e acabou que fiquei ali no jornalzinho, ajudando a fazer. E coincidiu com um momento agudo da política brasileira, que foi o suicídio do Vargas. Um momento de muita comoção popular. Tínhamos também o Carlos Lacerda e o Samuel Wainer, dois caras diferenciados, digladiando. Lacerda tinha arranjado uma rádio lá no Rio de Janeiro e falava horas e horas. Todo mundo ligava naquela rádio e ouvia aquelas barbaridades. Tudo mentira, né? Mas ele falava bem, era um tribuno arrasador e se dizia jornalista. De vez em quando eu ouvia também o Samuel Wainer, que era bom toda vida. Aquele debate todo e depois culmina com o suicídio do Vargas... Aquilo me tocou de tal maneira que eu fiquei ligado nesse negócio de jornalismo já por aí...</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – Você estava na escola...</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – Estava terminando o 2º grau. Terminei em 54 e em 55 vim para São Paulo. Entrei na Cásper Líbero e já no primeiro ano comecei a trabalhar profissionalmente.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – Você tinha onde ficar aqui em São Paulo ou veio com a cara e a coragem?</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – Primeiro fiquei na casa de parentes. Mas assim que arrumei emprego fui morar em pensão. Depois, quando melhorou o salário, dividindo apartamento com outro. E aí, conforme o salário, melhorando o apartamento. Outro dia, conversando com um colega, lembrei que nessa época, no começo da minha vida profissional, e solteiro ainda, de uma maneira ou de outra eu convivi com pessoas que hoje são, um, presidente de tribunal, outro, reitor da USP, o terceiro, general, um quarto, embaixador, e eu, repórter. Tem alguma coisa errada comigo! (risos)</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – Você acaba de lançar o seu quarto livro em dois meses, O Repórter do Século, com as sete matérias com que ganhou o Esso e uma oitava do Vietnam. Essa do Vietnam foi a reportagem da sua vida, por tudo que aconteceu?</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – De certa maneira sim, porque ela me custou parte do corpo. Então, é uma reportagem que me marcou, até fisicamente. Mas não é uma reportagem que eu releio. Tem algumas outras que às vezes eu vou reler.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – Dessa safra das melhores quais você gosta de reler? São as premiadas ou são outras?</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – Algumas premiadas, outras não. Tem uma que eu gosto, chama O coronel não morre. O perfil de um coronel lá do Nordeste.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – Está onde? Na Realidade?</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – Na Realidade. Ele dizia: “Revólver, automóvel e mulher, só zero km”. E era um homem já de 70 anos. Um coronel daqueles que não tem mais. Dessa eu gosto. Tem uma que também ganhou o Prêmio Esso, que é a de transplante de rim. Da Realidade, também. Tem uma de Quatro Rodas que eu vou reler, porque é um documento da época em que estavam fazendo a Belém-Brasília. Não tinha nem pista definitiva, que dirá asfalto. Eu me lembro que passei numa vila, chamada Araguaína, que era um areal, parecia um Saara de areia, o carro atolava na areia... Nós encontramos um cara amarrado na árvore. Acho que numa briga tinha matado alguém, a polícia pegou, não tinha cadeia e aí amarraram na árvore até chegar transporte de outra cidade para levá-lo para a cadeia. É um momento do Brasil que a gente não vê mais. Hoje Araguaína é uma capital regional, deve estar toda asfaltada. Nunca mais voltei lá, mas sempre leio que é uma cidade importante, mudou até o Estado, agora é Tocantins. Essa eu vou reler. Vou reler a primeira missa de Brasília. E tem algumas da revista Globo Rural. Mas isso é uma deformação minha, porque eu fui criado na grande reportagem... Aliás eu chamo de grande reportagem não só as que ocupam aquele baita espaço, mas a que tem pesquisa, tem os vários lados, tem tratamento de texto, os vários temas. Eu tenho até uma fórmula. Querem saber qual é?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – Sim, obviamente...</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – A fórmula da grande reportagem... Infalível! E que eu uso desde sempre. Vou mostrar para vocês.</div>
<div style="text-align: justify;">
(Escreve a fórmula GR = BC+BF )</div>
<div style="text-align: justify;">
(TxT’)n</div>
<div style="text-align: justify;">
P – Pode traduzir?</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – A grande reportagem é igual a um bom começo mais um bom final. Precisa ter um bom começo para prender a atenção do leitor. E um bom final para o cara se sentir recompensado, dizer “puxa vida, que pena que acabou”. Mas o que é que põe no meio? Aí é que está! T, que é trabalho, vezes T’, que é talento, elevados à potência n, de necessária. (risos) Quanto de talento, quanto de trabalho? O necessário. Quanto é isso? Aí varia, né? Eu me lembro que a rainha Elizabeth uma vez saiu com um carro Rolls Royce do palácio, parou e um jornalista perguntou para ela: “Majestade, qual é a potência do seu carro?” “A necessária.” Ponto final. (risos). Então, essa é a potência necessária para fazer uma reportagem.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – Você é daqueles que acham que os fatos não devem atrapalhar uma boa história?</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – Quando você vai compor uma grande reportagem, seja na revista, seja na televisão, você vai lidar com vários fatos, uma sucessão de fatos, de acontecimentos, de depoimentos. E na hora da edição deixa de lado alguma coisa – um fato, um acontecimento, um personagem – para privilegiar outras em busca de contar uma boa história. Isso é, portanto, relativo. Nesses 50 anos de jornalismo, eu tenho 25 de imprensa escrita e 25 de tevê. Qual é a diferença? Do ponto de vista da forma, cada veículo tem os seus macetes. Agora, do ponto de vista do conteúdo são iguais. Só que na televisão é mais difícil enganar. Veja o caso do Jason Blair (N. da R.: Jason Blair, acusado de ter fabricado informações e testemunhos), no The New York Times, que inventava uma história, um entrevistado, uma situação e tinha um texto ótimo. Com esse desempenho, ele conseguiu ludibriar por mais de um ano o NYT, que tem um patrulhamento editorial rígido. Na televisão seria muito mais difícil.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – Você nunca trabalhou em rádio?</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – Pois é! Eu pulei um pedaço aí. Quando eu estava no jornal O Tempo, e ganhava pouco e não recebia (risos), arranjei um emprego na Rádio Bandeirantes, da meia-noite às 6 da manhã. Porque de hora em hora a Bandeirantes dava as notícias e tinha que ter lá um redator para escrever as notícias de hora em hora. Nos primeiros dias, fiquei acordado para fazer as notícias a cada hora. Depois me falaram: “Deixa disso! Deixa as notícias todas prontas e vai dormir. Todo mundo faz isso!” (risos). Bem eu fui colega lá do Muibo Cury, que é funcionário da Bandeirantes, é locutor do jornal falado da Bandeirantes até hoje. Ele era da madrugada também, porque estava começando. E esse período da madrugada era bom porque às 4 horas da manhã começam os caipiras. Um pessoal genial, que na época eu não soube valorizar. Trabalhei junto do Ted Vieira, do Vieira e Vieirinha, João Pacífico, Capitão Furtado, gente que hoje eu venero como de grande importância para a cultura brasileira. Cascatinha e Inhana, Tonico e Tinoco... Um dia, o Muibo, que também tocava violão, procurou o Ted Vieira e disse: “Eu tenho idéia de uma música. Será que o senhor não podia olhar para mim?” Aí mostrou para ele os versinhos, tocou no violão e o Ted falou: “Aí vai dar uma musiquinha. Me dá dois dias que eu dou uma arrumada nela. Se você gostar...” Deu uma arrumadinha e mostrou para ele: é João de Barro, um clássico da música caipira, que é do Muibo Cury, dessa época da Bandeirantes, com o Ted Vieira, que na época era o campeão da música caipira, um grande nome da música popular, que fez Menino da Porteira, Rei do Gado, Cavaleiro Errante e outros vários clássicos.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – Na época você não valorizou, mas valorizou agora, com o livro sobre música caipira. Antes tarde do que nunca, como dizia vovó. (risos)</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – Mas eu poderia ter encostado num cara desses e aprendido tanta coisa...</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – Mas o que explicava, por exemplo, esse seu afastamento do meio?</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – Eu tinha 20 anos então...</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – Estava querendo reformar o mundo, não ouvir música caipira...</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – Eu vivi nessas madrugadas de rádio dois fenômenos. Primeiro, o das mulheres que telefonam para a rádio de madrugada. Mulheres solitárias... Às vezes fica um romance, só por telefone. Uma ou outra propicia um encontro, mas a maioria liga por solidão. Elas sabem que na rádio tem um cara de madrugada, que sempre tem alguém que atende o telefone... Dependendo do cara, a coisa segue ou não. Se deu certo hoje, amanhã ela liga de novo. Às vezes forma assim uma amizade, até um romance, no plantão da madrugada. Outro fenômeno foi uma coisa que, a primeira vez que vi, fiquei muito espantado. Estava no meu plantão, da meia-noite às 6, e teve aquele problema em Santos – vocês também não vão lembrar... Desabou o morro (N.R.: Morro de Santa Terezinha) e foi uma tragédia. A certa altura, começa gente a telefonar perguntando o que estava acontecendo em Santos. Eu não sabia e nem podia recorrer a plantões de televisão que não existiam naquela época. Mas ligo daqui, ligo dali, acabei sabendo... Falei com a delegacia, com uma porção de lugares, para obter informações e percebi que a coisa era muito maior do que se podia imaginar e estava acima das minhas limitadas possibilidades de ação, no plantão. Foi quando liguei para o chefe do Departamento de Jornalismo da Rádio Bandeirantes, que nem lembro mais quem era (e se lembrasse também não revelaria). Ele falou: “Zé Hamilton, continua seus telefonemas que eu estou indo para aí”. O cara chegou lá pelas 3 e meia. Pegou dois vigilantes, mandou um ficar correndo daqui para lá, o outro bater numa caixa, tropeçar numa lata e ele fez uma transmissão direta do morro de Santos lá do corredor da Bandeirantes. (risos) Fez uma sonoplastia e transmitiu direto dali. Ao vivo. Naquele tempo isso era possível; hoje acho que rádio não faz mais isso.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – Depois do episódio do Vietnam, como foi a sua readaptação à atividade profissional, e à própria vida?</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – No Vietnam eu tive dois medos e meio. O primeiro medo foi de morrer. Eu tinha a sensação de que iria morrer abandonado naquele país distante, e ninguém ia ficar sabendo. Depois que eu recebi tratamento médico e percebi que não ia morrer mais, veio o segundo medo, que era o de não poder ganhar a vida com o meu trabalho, me tornar dependente, incapaz. Porque eu não sabia qual era a extensão do estrago que tinha sido feito. O primeiro medo, o de morrer, os médicos resolveram. O segundo, eu tive que batalhar com ele. E comecei a fazer isso ainda no hospital. Tanto que a primeira reportagem da revista Realidade eu escrevi ainda dentro do hospital. A segunda que saiu, eu ainda estava no hospital, mas já nos Estados Unidos. E a terceira foi sobre o assassinato do senador Robert Kennedy, porque eu estava nos Estados Unidos – coincidiu, né? – e a revista me pediu para fazer uma reportagem. Eu fiz de muletas, ainda não tinha a perna mecânica. Depois disso, quando eu vi que podia continuar trabalhando, mesmo com uma perna mecânica, que podia ganhar a vida com o meu trabalho, aí veio um meio medo, que é uma coisa mais psicológica, um “grilo”. Eu não queria ficar carimbado como um cara que foi para a guerra, sofreu um acidente e depois não fez mais nada. Quando voltei do Vietnam passei uns anos trabalhando como louco, participando de todos os concursos e prêmios de jornalismo, supercompetitivo internamente para fazer uma reportagem boa. Foi para mostrar que eu podia fazer jornalismo independentemente do Vietnam.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – Aí embalou nesse ritmo e não parou mais, não é? (risos)</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – Aí é que eu tive uma inclinação para uma coisa que eu gosto que é o jornalismo científico. Tanto que dos meus sete prêmios Esso, quatro são de temas científicos. Reportagens de medicina ou de saúde pública, de sociologia médica, sociologia de saúde.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – Nas reportagens que faz para o Globo Rural, e nas demais que já fez vida afora, você consegue transformar assuntos complexos em coisas surpreendentemente simples. Não falta isso naquela sua fórmula: saber fazer a coisa de tal forma que a maior parte das pessoas entenda?</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – Justamente. Isso me leva a três raciocínios. Antes daquela fórmula, o que é ser repórter? Que condições ele precisa ter? Primeiro, a curiosidade, para saber as coisas antes dos outros. A segunda, a necessidade que tem de contar isso para os outros. Porque, não adianta nada ter a informação e sonegá-la, ser avarento com ela e não passar para o outro. Um cara assim nunca vai ser jornalista. E a terceira é saber contar. Então, ter curiosidade para saber, gostar de contar para os outros e saber contar, ter jeito para contar. Porque às vezes o sujeito tem uma história ótima, mas não sabe contar, você não quer saber daquela história porque não acaba nunca, é sem graça... Aí, tem uma outra coisa de que me lembro e que todo mundo pergunta: o que a Realidade teve de diferente, que a tornou, naquela época, uma referência no jornalismo brasileiro? Não sei se perdura, mas naquele momento teve uma repercussão. Acho que há duas coisas aí. A primeira delas foi a ousadia das pautas. Era muito criativa nos assuntos e publicava um assunto que a turma tinha interesse em ver naquele momento. Respondia a um anseio do leitor. Não adianta você pegar uma revista e ela só ter matérias que não te interessam. Por que você vai ler? Na Realidade, a impressão era de que todas as matérias interessavam, te diziam alguma coisa. A segunda foi a edição de texto. O texto tem que ser escorreito, limpo, proporcionar uma leitura agradável. Eu sei de um professor aí que diz que o texto da revista Realidade era um texto de jornalismo literário, chegava quase a ser literatura. Essa mágica do texto da Realidade se atribui a uma pessoa, que é o Sérgio de Souza. Naquela época, a marca do jornalismo de então era a do copidesque, sobretudo da escola do Jornal do Brasil... O que era o copidesque? Era um cara que escrevia muito bem, rápido, esperto, que pegava o texto de um repórter, com as informações boas, mas muito mal ajambradas, reescrevia aquilo e punha mais ou menos dentro de uma fórmula, para o jornal ficar bem uniforme (escola americana). Mas isso homogeneizava o jornal, ele ficava igual do começo ao fim. E, de certa forma, matava o repórter. Tanto que na fase mais gloriosa do Jornal do Brasil o copidesque era mais valorizado do que o repórter. A Realidade fez o quê? Esse tratamento de texto que o Sérgio descobriu – não sei se ele descobriu, se alguém conversou com ele ou se ele discutiu com alguém – realça o seu texto, mas não o deturpa. Então, o Sérgio pegava um repórter como eu, como o Luiz Fernando Mercadante, como o Narciso Kalili, como o Roberto Freire, como o Carlos Azevedo, como o José Carlos Marão, cada um escrevia de um jeito e ele mantinha o jeito de cada um. Ele mexia de uma forma que não alterava os respectivos estilos. Você abria a Realidade: reportagem do Luiz Fernando Mercadante, era do Luiz Fernando Mercadante, tinha aquele carimbo, aquela qualidade de texto, aquele texto machadiano dele. Pegava um texto do Roberto Freire, era do Roberto Freire. Pegava uma reportagem minha... Cada uma era identificada. Em todas elas tinha a mão do Sérgio, mas ela não aparecia. Muitas vezes - aconteceu comigo e com vários outros –, ele chamava e dizia: “Não está legal. Escreve de novo”. E dava umas dicas: “Olha, esse personagem que está no meio, talvez seja melhor vir para o começo, abrir com ele. Aí vai levando...” e não sei o quê, discutia e pedia para escrever de novo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – Você tem falado com ele?</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – Não. Estou com saudades dele. Vou lá visitá-lo qualquer dia (N.R.: Sérgio de Souza é editor da Caros Amigos). Aí você reescrevia e ele dizia que ainda não estava legal. De outras vezes, você entregava o texto e ele dizia, de primeira: “É isso aí”. Como aconteceu muitas vezes comigo. Uma outra coisa que a Realidade teve, por ser uma revista mensal, era um tempo maior para a elaboração das matérias. Era uma revista que dava tempo até demais para o repórter, chegando muitas vezes, apesar desse tempo, a não ter matéria. Aconteceu comigo. Fui pautado para fazer uma reportagem sobre “como era ser preto em São Paulo”. (risos) Mas para fazer essa reportagem, eu tinha que ser preto. Na filosofia da Realidade daquela época, eu tinha que ficar preto. Eu tinha um amigo que era professor de Dermatologia da USP aqui em São Paulo e o procurei dizendo que queria ficar preto. “Como é que eu faço?”, perguntei. “Bom, preto é uma questão de melanina, de pigmento, né? Então, vamos fazer um tratamento para aumentar a sua melanina. Se a minha teoria estiver certa, você vai ficar preto. (risos) Não sei se para sempre ou por um período”. Aí fiz o tratamento com ele. Não deu certo, não aconteceu nada. Depois de trabalhar um mês lá com ele para ficar preto e não dar certo ele disse: “Olha, eu tenho um amigo lá em Ribeirão Preto que tem uma outra técnica”. Eu liguei e fui para lá. Eram uns banhos de permanganato, que deixavam a água uma Coca-Cola. Fiz o experimento, ficando imerso lá umas duas horas para ver se impregnava a pele com aquela coisa. E não fiquei preto. (risos) A terceira alternativa foi maquiagem. Fui a um maquiador de novela, da TV Excelsior, o melhor maquiador de novela que tinha no Brasil naquela época, ele me maquiou e eu fiquei preto. Mas aí não tive segurança. Você sai maquiado na rua as pessoas percebem, principalmente as mulheres. E mais ainda: você está no meio de uma função qualquer na rua e começa a derreter a maquiagem. (risos) Aí não deu para segurar. Cheguei lá depois de dois, três meses e disse: “Não fiquei preto”. Então, não tem matéria. E ninguém me cobrou nada. (risos) A Realidade acabou fazendo essa matéria não aqui no Brasil, mas nos Estados Unidos, porque lá o preto não precisa ser preto de cor, né? Você está andando com um preto na rua, você é preto, independentemente de você ser preto ou não. O próprio Sérgio é bem moreno. E tinha um fotógrafo da Realidade, o George Love, que era americano e preto. Foram os dois para os Estados Unidos e ambos circularam como pretos. Então o Sérgio pôde fazer a matéria sobre como é ser preto nos Estados Unidos. Mas aqui no Brasil não conseguimos fazer. (risos)</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – Só essa tentativa já daria uma bela reportagem, a matéria sobre o making off da matéria. (risos) Ainda sobre o Vietnam, Zé, como foi voltar lá 30 anos depois?</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – A Globo, quando completou 30 anos, fez uma série chamada Contagem Regressiva, que começou quinze dias antes e terminou no dia do aniversário. E cada dia o programa abordava um tema. Na reunião de pauta levantaram quais os temas principais desse período. Quando chegaram ao capítulo guerra, acharam que a guerra mais importante daquele período tinha sido a do Vietnam e então me mandaram para lá, para contar a história da primeira viagem e ver o Vietnam em paz. Só posso dizer que a segunda viagem doeu mais do que a primeira.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P - Reavivou lembranças?</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – De um lado, isso. De outro lado, o seguinte: a guerra do Vietnam foi feita dentro de um calor romântico. Porque era um país pobre, com uma ideologia igualitária, humanística, solidária, contra o inimigo externo, poderoso e diabólico. Ao lado de ser o pobre contra o rico, era também um ideário romântico, uma outra forma, um homem novo, igualitário, que o Vietnam ia fazer depois de ganhar a guerra dos Estados Unidos. Uma sociedade fraterna, para a frente, de valorização do ser humano. Isso foi a guerra do Vietnam. Quando eu cheguei lá na paz, encontrei o quê? Um país policialesco, uma ditadura militar das mais primárias, um comunismo de camisola que estava atrás do próprio comunismo, mais primitivo do que qualquer um que falasse em comunismo naquela época, e um dos países mais miseráveis do mundo. O general Vo Nguyen Giap, que foi o herói da guerra, está vivo até hoje e que ainda é dirigente lá, deu uma entrevista para o Jaime Spitzcovsky, que era da Folha de S.Paulo, e disse que dos 200 países mais organizados daquela época, o Vietnam era o terceiro de baixo para cima. Quer dizer, mais miseráveis que o Vietnam só havia mais dois, segundo o general Giap. E esse país miserável foi capaz de ganhar a guerra, mas não soube o que fazer com a paz. Ver esse Vietnam com dois milhões de pessoas que tiveram que fugir do país, com milhões que foram talvez assassinadas e outras tantas que foram perseguidas foi uma grande decepção. Aquele povo que era para ser um povo libertário, que buscava um novo homem, era um povo escravo, todo mundo com medo da polícia. E nós, jornalistas, tínhamos um intérprete oficial e um camarada do Exército junto, o tempo todo. Liberdade de imprensa? Mas o que é isso, liberdade de imprensa?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – Tudo ficção... Mas isso mudou, não é?</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – Pois é. Em 95, já havia sinais de uma abertura econômica no Vietnam. Tanto que a reportagem terminou com isso: “Esse país que viveu guerra, agora não tem mais guerra. A guerra agora é essa” e a câmara abria num anúncio da Coca-Cola e outro da Pepsi, lá em Saigon. Era o começo de uma abertura econômica, não política. Essa abertura continuou, tanto que o Vietnam está crescendo hoje a 7% ao ano, é um dos Tigres Asiáticos. Ainda não fez uma abertura política, mas abertura econômica fez. Tanto que, outro dia vi uma matéria na Newsweek cujo título é assim: “O Norte (que é Hanói) ganhou a guerra e o Sul (Saigon) está ganhando a paz”. O Norte já era comunista, antes da guerra, e era uma economia estatal e o sul era uma economia capitalista, aberta. Depois de alguns anos do fim da guerra eles foram abrindo a economia e os empresários do Sul começaram a crescer dentro do Vietnam. Tanto que o primeiro-ministro é um cara do Sul, e parece que o presidente também. Os dois líderes importantes do Vietnam são do Sul, não são mais do Norte.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – Zé, você tem aí quatro livros em dois meses. Há mais algum a caminho?</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – Isso é capaz de ser um recorde. Porque, por exemplo, o Millôr; ele está lançando seis livros este mês. Mas são seis reedições, não tem nenhum livro novo. O escritor profissional não lança três, quatro livros. Ele lança um, trabalha aquele um, vai promovendo aquele livro, depois tira um tempo para fazer o seguinte. Então, para lançar quatro livros de uma vez, em primeiro lugar, não pode ser escritor profissional.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – Tem que ser repórter. (risos)</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – E amador. Mas porque saíram quatro ao mesmo tempo? O livro do caipira (Música Caipira – As 270 maiores modas de todos os tempos, Editora Globo) estava pronto havia três anos. Só que o processo de edição demorou muito, saiu agora e coincidiu com o livro dos Tropeiros (Os Tropeiros – Diário da Marcha, Editora Globo), que foi feito às pressas, esse sim um livro-reportagem concluído no espaço de um fechamento de reportagem do Globo Rural. Porque a idéia do Humberto Pereira (N.R.: diretor de Redação do programa Globo Rural) era de que o livro saísse com a série ainda no ar. Eu tive um mês e meio pra fazer o livro e os dois acabaram saindo juntos. O terceiro livro, que é o Livro das Grandes Reportagens (outro título da Editora Globo), foi feito por Geneton Moraes Neto, do Fantástico, que reuniu sete repórteres que fizeram matérias para o programa e cada um desses repórteres faz um texto sobre o personagem que mais o impressionou. E esse livro O Repórter do Século (Geração Editorial) também estava sendo feito havia três anos; não foi um livro que eu escrevi, ele reúne as minhas sete reportagens que ganharam o Prêmio Esso, mais a do Vietnam, da Realidade. Quer dizer, não foi um texto novo. O que eu fiz foi um making off de cada matéria, contextualizando-a e, quando foi o caso, em que o assunto ficou muito defasado, procurei atualizar. Saíram ao mesmo tempo, mas não foram escritos ao mesmo tempo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – Agora vamos fazer uma provocação. Para muitos você é um dos maiores repórteres da história do jornalismo brasileiro. Quem é o Zé Hamilton na opinião do Zé Hamilton?</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – Eu tinha colocado isso no meu roteiro: “O que você tem de diferente como repórter?” Penso que fui beneficiado pelas circunstâncias. Porque o repórter não é um lobo solitário, não é um aventureiro, um livre-atirador. Ele depende de uma estrutura atrás, de chefia de reportagem, de edição e de veículo – você precisa ter onde publicar. De que adianta ser um grande repórter e não ter onde publicar, não ter condições de fazer reportagem? Fui beneficiado pelas circunstâncias. Primeira delas: entro na Folha no momento em que ela estava passando do jornal que chamava Folha da Manhã para Folha de S.Paulo. Era uma transição de um jornal de São Paulo para um jornal do Brasil, de âmbito nacional. Então, fez parte da estratégia econômica da empresa na época valorizar o repórter, valorizar a reportagem. Foi uma época em que a Folha valorizou muito a dupla repórter-fotógrafo. Mandavam viajar para todo lado. Estando na Folha, eu vou para a Editora Abril, no momento em que a Abril estava começando. Ela tinha revistas de quadrinhos, fotonovelas e revista de cama, mesa e banho – Cláudia, Manequim, revistas femininas. Não tinha nenhuma revista masculina. Mas era plano da empresa ter revistas masculinas e de interesse geral. Quando lá cheguei, todos os títulos editados eram americanos ou europeus. A Abril comprava os direitos e no lugar de redação tinha basicamente uma equipe de tradutores. O pessoal traduzia aquelas reportagens, tinha uma assessoria de português que dava uma melhorada no texto, mas não tinha produção jornalística local. Quando eles foram fazer a primeira revista masculina, que foi a Quatro Rodas, não era só para fazer uma revista. Era um laboratório jornalístico da editora para o futuro. Tanto que eles chamaram para editar Quatro Rodas, que é uma revista de automobilismo, um cara que nem sabia dirigir, que é o Mino Carta. Ele não entende nada de mecânica até hoje. O Mino fez da Quatro Rodas uma revista exitosa de automobilismo e turismo, mas fez sobretudo um laboratório de texto. Começa que ele chamou uma equipe boa: o Sérgio de Souza, o Narciso Kalili, o Paulo Patarra, o Carlos Azevedo, o Audálio Dantas... E esse laboratório da Quatro Rodas vai dar origem à Realidade. Foi a equipe da Quatro Rodas que foi fazer a Realidade. A equipe foi e me deixou para trás. Sabe por quê? O raciocínio foi esse: nós não podemos levar toda a equipe para fazer Realidade e deixar desamparada a Quatro Rodas; alguém tem que ficar. Me deixaram para trás e eu fiquei segurando a barra na Quatro Rodas, mas antes de sair o primeiro número já me chamaram para a Realidade. Eu fui antes de sair o primeiro número, mas não participei da criação dela. Depois veio Veja – porque o Mino foi fazer a Veja – e o Mino foi fazer o Jornal da Tarde também. São os quatro grandes veículos dos anos 60 no Brasil.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – Veja, especificamente, se transformaria num fenômeno editorial.</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – Como tiragem, é a maior revista brasileira. Não está numa boa fase jornalística nem editorial muito brilhante, mas é de longe a maior revista brasileira de todos os tempos. E eu acho que saiu daquela escola o próprio Globo Rural. Saiu indiretamente, porque o Humberto Pereira e o Gabriel Romeiro, que são os dois chefes originários daqui, vieram dela. Hoje tem um terceiro, o Lucas Battaglin, que veio depois, não participou da criação do programa. Mas tanto o Humberto quanto o Gabriel foram da Realidade também. E eu vim puxado por eles. Mas, então, eu chego na Editora Abril no momento em que ela está explodindo e se preparando para ser a maior editora da América Latina, fazendo com as revistas o que os jornais do Rio fizeram no jornalismo diário. A grande reforma do jornalismo brasileiro, que está vigorando até hoje, foi feita nos jornais do Rio pelo Pompeu de Souza, Samuel Wainer, Alberto Dines, Amilcar de Castro...</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – O Jânio de Freitas...</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – O Jânio é um pouco mais novo, veio depois. Tem mais um outro... Como é que ele chama? Jardim...</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – Reynaldo. Está fazendo 80 anos esta semana.</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – O Jânio é mais novo do que esse pessoal. Então, foi logo depois da guerra que alguns jornalistas importantes como o Dines, o Pompeu, o Amilcar eu não sei, foram fazer estágio no jornalismo americano e trouxeram de lá essa fórmula de reportagem que está em vigor até hoje nos jornais diários. A grande reforma nos jornais diários foi o Rio que fez. A grande reforma nas revistas foi a Abril. Tanto que, quando sai a revista Realidade, as maiores revistas brasileiras eram Cruzeiro e Manchete, ambas do Rio. E hoje o Rio não tem mais revistas. Revista é São Paulo. Tanto que a Editora Globo, que tem a pretensão de ter boas revistas, veio para São Paulo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – Você falou um pouco da sua chegada ao jornalismo, em que o Brasil vivia aquele momento especial da política, com Getúlio, mas teve alguém que te inspirasse, alguém da família?</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – Não, não tive. Eu sou de uma cidade muito pequena. No meu tempo, Santa Rosa tinha 3 mil habitantes. Era uma cidadezinha rural. O que eu trago de lá é esse som de música caipira. Não tinha escritor nem jornalista. Mas só para terminar aquele negócio da circunstância. Fui para a Folha no momento em que ela estava crescendo, fui para a Abril quando ela estava crescendo – faz quatro Rodas, Realidade e Veja. Aí chega o tempo da ditadura militar, da censura, quando a imprensa silenciou por uma ou outra razão, eu fiquei sem ar aqui em São Paulo e fui para o Interior mexer com forma, já que não era possível mexer com conteúdo. Então, fui reformar jornais em Ribeirão Preto, depois Rio Preto e depois Campinas. Estava em Campinas, em 82, quando teve a abertura, e eu vim para a TV Globo fazer telejornalismo. Você pode xingar a TV Globo com quantos adjetivos quiser, mas como telejornalismo é a grande escola brasileira. Então, eu vim para o lugar onde estão os melhores profissionais de telejornalismo brasileiro e um lugar inquieto, que está sempre querendo mexer, querendo mudar, ir para a frente, não é um lugar acomodado.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – Você falou do período da ditadura. Você teve algum problema naquela época?</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – Objetivamente, eu tive três problemas. Um belo dia, estou na minha casa, um colega me ligou e disse: “Prenderam fulano, prenderam sicrano e você está na lista. Então, some por uns dez dias”.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – Você estava onde, nessa época?</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – Na Abril. Então eu sumi. Fiquei uns dez dias escondido. Depois liguei pra ele e perguntei como é que estava a barra. “Limpou, já passou” – ele disse. Então, voltei. O segundo foi o seguinte: eu fui escolhido como paraninfo da turma – não lembro o ano – de Jornalismo da FAAP, onde eu dava aula. Fui para lá convidado pelo Perseu Abramo. Aí a diretoria proibiu festa de formatura se eu fosse paraninfo. Então a turma decidiu que não teria festa; se formava sem festa. Mas além de não me deixarem ser paraninfo, me demitiram de lá. E o chefe do departamento era o Perseu Abramo. Aí o Perseu me ligou, eu fui lá falar com ele e ele me disse: “Olha, Zé Hamilton, você foi demitido”. Eu perguntei: “E você, vai fazer alguma coisa?” Ele disse: “Eu não vou fazer nada, porque eu já fiz. Eu já pedi demissão também”. E todo o pessoal que ele tinha levado pediu demissão junto.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – Esse era o Perseu...</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – Esse era o Perseu.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – E o terceiro...?</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – Eu era editor-chefe da Realidade e o Carlos Azevedo, que era repórter, era um dos subversivos mais procurados. Apareceu lá um cara dizendo que era delegado do Dops. Me avisaram: “Olha, o fulano de tal vai falar com você”. Chegou o cara, fechou a porta: “É o seguinte: nós queremos o Azevedo. A ordem que nós temos é para matar. No primeiro entrevero, é para matar. Mas se você me entregar o Azevedo eu garanto que ele vai ser preso, não vai sofrer nada e vai ser processado, com advogado, tudo limpo. Você tem que me dar o endereço dele.” Falei: “Eu não sei” Ele falou: “Olha, o senhor não vai me enganar. Se não me der esse endereço em 48 horas, eu prendo o senhor”. Passaram 48 horas e era blefe, o cara não me procurou mais. Mas eu passei 48 horas bem apertado.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – Você chegou a conversar com o Azevedo sobre isso?</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – Sim, depois... Um outro episódio engraçado foi quando descobri que o presidente do Partido Comunista, que era “perigosíssimo”, estava foragido no prédio em que eu moro. Ele morava lá. (risos) A gente se conhecia de vista, mas eu não sabia quem era. Eu o encontrava no elevador. Depois que passou o episódio, um dia ele falou: “Pô, você não lembra que a gente se cruzava no elevador?” E eu disse: “Um perigoso subversivo no meu prédio? Se eu soubesse, te entregava.” (risos)</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – Quem era?</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – Moacir Longo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – Zé fala um pouquinho como era o seu tempo de menino lá em Santa Rosa de Viterbo?</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – Jornalista tem história, não? Você sabe por que minha cidade se chama Santa Rosa de Viterbo?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – Fica onde? Perto de Ribeirão Preto?</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – É, na região de Ribeirão. Formou-se lá um povoadozinho...Aí a comissão dos moradores fundadores resolveu comprar uma imagem de Nossa Senhora. Passa por lá um mascate, um malandro, que tinha uma imagem bonita e vendeu como sendo de Nossa Senhora. A turma comprou como sendo de Nossa Senhora. Puseram no altar, festa e tal. O primeiro padre que chegou lá disse: “Essa não é Nossa Senhora. Essa é Santa Rosa”. Mas que Santa Rosa? Santa Rosa de Lima, Santa Rosa de Pádua? “Não, Santa Rosa de Viterbo”. Uma raridade, pois não existe outra imagem de Santa Rosa de Viterbo no Brasil. Como é que foi aparecer lá? Sendo que Viterbo é uma cidade da Itália na qual, em determinado momento, os papas passaram a morar, por causa daquelas brigas internas da Igreja. Eles tinham um palácio regra três lá. É uma cidade antiga – eu não fui lá, mas já vi fotos – e tem uma Santa Rosa de lá. E, para não confundir com Santa Rosa de Lima, que é muito mais conhecida, do Peru, nem com Santa Rosa de Pádua, ficou Santa Rosa de Viterbo. Então, a cidade se chama Santa Rosa de Viterbo por causa da imagem. Mas, a minha infância...</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – É, como é que foi?</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – Uma cidade, quase um povoado, uma vila... Uma cidade pequena, rural, minha família era de agricultores...</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – Você capinou muito?</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – Capinei, capinei muito... Teve uma época, em que eu já estava no Grupo (N. da R.: Grupo Escolar, equivalente ao período que vai hoje da 1ª à 4ª série do Ensino Fundamental), em que eu queria assistir o Carnaval no Rio. Eu ouvia falar no Carnaval do Rio, aquela mulherada pelada... (risos)</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – Não tinha televisão, como é que você sabia?</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – Ah, jornal, revista O Cruzeiro, rádio... Aí eu falei com o meu pai e ele disse: “Você ficou maluco! Não vai de jeito nenhum! Primeiro, porque é perigoso você ir para o Rio. Segundo, porque eu não vou te dar dinheiro, nem tenho”. Então eu arranjei um emprego na Prefeitura para capinar a rua da cidade, aquelas calçadas...</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – Você tinha o quê, 14, 15 anos?</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – Menos. Olha, capinei uns dois ou três meses, até chegar o Carnaval. Aí o meu pai, em reconhecimento ao meu esforço, liberou e eu acabei indo para o Carnaval no Rio, mas que eu não lembro mais... (risos)</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – Não lembra do Carnaval no Rio? Nem da viagem?</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – Lembro só da preparação dela. Não lembro se fui sozinho, se era uma turma. Lembro só da preparação da viagem, da viagem em si mesma não lembro mais...</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – Você foi para a escola cedo, no período normal? Porque, geralmente, no Interior o pessoal atrasava...</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – Olha, na minha cidade só tinha o 1º Grau, só Grupo, da 1ª à 4 ª série. A partir da 5ª série, eu já tive que sair da cidade. Fui primeiro para São Simão, depois para Franca, para um colégio interno, de padres, depois para Ribeirão, para fazer 2º Grau, que seria o Ginásio... Depois, o Colégio eu fui fazer em Casa Branca. Então, eu saí de casa muito cedo, com 11 anos, porque a cidade não tinha nem Ginásio.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – Ainda que você tinha uma família que te apoiava, que valorizava isso...</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – É, valorizava... A minha mãe tinha uma fazenda, que meu pai herdou. A fazenda foi consumida porque éramos em casa oito filhos. Eu era o quinto. Chegou uma hora em que estavam quatro ou cinco estudando. E era caro. Então, quando apertava, o meu pai vendia um pedaço da fazenda. O último ele vendeu quando eu já estava formado e como parte do pagamento entrou uma chacarazinha na cidade, que nós temos até hoje. A parte que era original da minha mãe foi vendida assim, aos poucos.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – E você vai sempre lá?</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – Vou sempre que posso. A casa onde eu nasci ainda está lá. Minha mãe morreu, meu pai morreu, mas ainda tenho uma irmã que mora lá e mantém o fogo aceso, como a gente costuma falar...</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – E a tal frutinha que só tem lá?</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – Não é uma fruta, é uma caça. O tirisco.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – Conta essa história do tirisco. Todo mundo diz que é mentira. (risos) Nunca ninguém viu um tirisco.</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – Caçada de tirisco é uma caçada virtual, na boa. (risos) As pessoas que chegavam na cidade de visita – amigos, né? – a gente levava para caçar tirisco. Era um complô em que a cidade inteira entrava. Porque o cara era convidado e a história era muito mirabolante e o sujeito ficava em dúvida. Digamos assim: você é meu amigo de Santa Rosa e levou um amigo de outra cidade. Ele está na sua casa, conhece a sua mãe, a sua irmã, o seu pai. Então, a turma do bar – é sempre coisa de bar, né? – convida para caçar tirisco, ele fica em dúvida. Chega em casa e pergunta para sua mãe, uma senhora de respeito: “Estão me convidando para caçar tirisco...” E ela: “Ah, bom, maravilha! Uma coisa...” Todo mundo bancava a história. (risos) Aí, quando o cara estava no bar a gente perguntava para o dono: “Ô, fulano! Se a gente caçar tirisco hoje você faz?” “Faço!” “Mas não tem na geladeira?” ”Não, o último passou um viajante aí e comeu. Vocês têm que caçar.” Era um complô da cidade toda. Um dos últimos que a gente levou para caçar foi o Franco Paulino, vocês conhecem?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – Não.</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – O Franco Paulino era uma repórter da Última Hora, muito inteligente, chegado à música. Depois ele foi para o Rio de Janeiro, passou para a publicidade e hoje é um publicitário de sucesso, tem a sua própria agência. Ele foi um dos últimos que eu, pessoalmente, levei para caçar tirisco. A caçada era o seguinte: a gente levava o cara para um lugar bem escuro do cerrado, de noite. Levava um saco, com uma armação de arame para a boca do saco ficar aberta, e um lampião de gás ou uma vela, uma lamparina. Então, o convidado ficava ali com o saco e a lamparina tomando conta e os outros iam tocar o tirisco. E ele tinha que ficar ali com o saco aberto e a lamparina acesa, batendo uma caixa para chamar o tirisco. (risos) Os outros iam lá cercar. Então, o que acontecia? O cara ficava lá tomando conta, a gente reunia os outros e voltava para cidade e ficava lá no bar tomando cerveja. Largava o cara lá no mato, sozinho, batendo aquela caixa até cansar e não aparecia nada. (risos) Aí, desconfiado, começava a gritar: “Ô, fulano!” E nada. Depois, claro, pegava o rumo da luz da cidade, chegava no bar e tomava aquela vaia. (risos) Não pode entregar toda a história, não, porque eu acho que o pessoal ainda continua “caçando”. (risos)</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – Mas o pessoal não perguntava que tipo de bicho era?</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – Perguntava.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – E o que vocês falavam?</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – Ah, tinha toda uma teoria. (risos) Mais ou menos do tamanho de um coelho, mas não era coelho. Tinha rabo, não tinha rabo, e fazia uma vocalização assim, tinha um gritinho... “Quando você ouvir esse gritinho é porque ele está chegando.” Às vezes alguns faziam esse gritinho antes de ir embora, para animar o camarada. (risos) Mas o Franco Paulino, eu me lembro bem, que levamos para um lugar pela linha do trem. Fomos pela estação, seguimos pela linha do trem e depois entramos no cerrado, andando bastante para desorientar um pouco. Mas ele tinha a referência da linha do trem. Eu não sabia, mas uns dias antes tinha havido um roubo de dormentes da linha do trem. Eles pegaram o cara mais bravo da cidade, um cara feroz, que chamava Tinga, para vigiar a linha. De repente vem aquele homem sozinho pela linha, um saco na mão, uma lamparina... É o ladrão de dormentes! (risos) E foi para cima do Paulino. “Tá roubando dormentes?” Deu um atrito lá. Quando o visitante chegava no bar, era aquela confraternização. No primeiro momento, ele ficava chateado, mas depois entrava no clima e acabava dando risada. E depois ficava armando para pegar o próximo. (risos)</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – Houve um certo período da sua carreira em que você não foi repórter. Nessa sua ida para o Interior você chegou a ser chefe de Redação, mas logo voltou. Você não gostou de ser chefe?</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – Olha, nesses períodos em que eu fui chefe de Redação nesses jornais do Interior, eu sempre fiz reportagem. Tanto que em um dos prêmios Esso é do tempo do jornal de Rio Preto. Eu era chefe de Redação do jornal e fiz a reportagem premiada. Até então, o jornal nunca tinha ganho um prêmio Esso; eu não sei se ganhou mais. Em Ribeirão, a gente já tinha pego uma menção honrosa, uma coisa que normalmente não tem.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – Hoje não tem mais...</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – Então, mesmo quando eu era chefe de Redação eu fazia reportagem. Acho que sou um pouco inquieto. O ambiente da redação me oprime um pouco. E acho outra coisa: o repórter tem que estar onde está acontecendo a coisa, não tem outro jeito de ser repórter. Então se acostuma...</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – Você conseguiu fazer o seu pé-de-meia financeiro como repórter? Ou acha que desperdiçou a chance de ser um grande magnata da imprensa se tivesse seguido outros caminhos?</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – Olha, tem uma história que eu gosto muito. Quando eu estava nos Estados Unidos, depois do Vietnam, fazendo tratamento, me visitou o Victor Civita, o presidente e criador da Editora Abril. E ele me contou da Veja, quando estava a ponto de ser lançada. Ele me mostrou o número zero, aqueles projetos da Abril... E aí eu falei: “Seu Victor, e a redação?” Ele disse: “Zé, 95% é comunista”. (risos) “Mas, seu Victor, não é perigoso?”. “Não. Perigoso é redação de direita, porque a redação de direita, se faz uma revista boa, no dia seguinte ele fala: ‘Pô, esse cara está ganhando dinheiro com o meu trabalho’. Aí ele vai e faz a revista dele. E o de esquerda fica. (risos) Tentando consertar o mundo, ele fica na redação”.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – Não olha tanto o salário...</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – Briga até por salário e tudo. Mas quer salvar o mundo. O cara de direita quer fazer a revista dele e ficar rico, não quer salvar o mundo. Mas a única coisa que eu me queixo é que hoje a aposentadoria é muito baixa. A hora que eu parar de trabalhar, vou ter dificuldade para me manter. Veja só, o que eu ganho no INSS, que vai ser a minha aposentadoria quando eu parar de trabalhar, não dá para pagar o condomínio do meu prédio. Então esse esquema é meio complicado.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – É, tem que fazer aquele negócio de previdência privada e custa uma fortuna.</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – Eu fiz previdência privada, me dá um reforçozinho, mas nunca vai ter o padrão que eu tenho estando trabalhando. Mas como não estou com pressa de parar nem de morrer, eu vou tocando.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – E a emissora também não está com pressa em te botar para casa, né?</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – Ah, vou contar uma história para vocês. Morrer só em último caso, como dizia o Mário Zan. (risos) Bom, mas no ano passado, teve um seminário da Globo, negócio interno dos jornalistas da Globo, e eu fui convidado e estava lá assistindo. Cinco minutos antes do final o cara parou e falou: “Vamos parar um pouco o seminário para assistir um vídeo.” Aí tinha um vídeo de 40 segundos sobre mim. Aí o cara falou que eu estava completando 50 anos de jornalismo, todo mundo bateu palmas e tal. A Folha até deu uma notinha sobre isso. Na outra semana o Otávio Florisbal, diretor da Globo, me convidou para almoçar no restaurante Vip da emissora aqui em São Paulo. Chamou o Carlos Schroder, a Alice Maria, o Humberto Pereira, o Gabriel Romeiro e o Lucas Battaglin. A Alice e o Schroder vieram do Rio para isso. A moça do banco, a Mariana, do Bradesco interno aqui, me encontrou dois dias depois e perguntou: “Zé Hamilton, você tá doente?”. Eu disse não, estou normal. Aí ela retrucou: “É que funcionário velho, em firma grande, quando começam a fazer homenagem é porque vai ser mandado embora ou tá com câncer”. (risos)</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – Mas no seu caso não é nem uma coisa nem outra. O pessoal sabe o valor que você tem. Agora, indo por esse caminho – você já deve ter respondido isso umas vinte vezes: o que explica a longevidade do Globo Rural? Não do programa, mas da equipe.</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – Aí é uma questão de personalidade do Humberto Pereira e do Gabriel Romeiro. Por formação, eles são teólogos, filósofos e psicólogos. Eles tem muita vivência de problemas humanos, acho que do confessionário. Ele era o Fradinho. Sabe o Fradinho do Henfil? Então, era o Humberto. Ele era do convento, depois o Henfil o conheceu, aquele frei comprido lá, e fez o Fradinho, inspirado na figura física do Humberto. O Cumprido. Então, um pouco é pela formação cultural, psicológica e humana deles. E um pouco, também, no tipo de programa do Globo Rural, eles sabem que alguma experiência, formação específica, é importante.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – Mas nunca surgiu tentação no caminho? Convites?</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – Eu recebi dois ou três convites para sair daqui. Um deles foi para dirigir o Diário Popular, não nessa fase agora, antes de ser vendido para o Quércia. Eu cheguei a assinar um contrato. Eu vim falar com o Humberto, já com o contrato assinado, e ele falou: “Rasga esse contrato porque eu não quero que você saia daqui, não vou deixar você sair daqui. Mesmo porque nós vamos lançar a revista e você vai ser o editor-chefe da revista Globo Rural.” Uma outra vez fui convidado e participei de um concurso para professor titular da Universidade Federal de Santa Catarina. Passei no concurso, para ir para lá dar aula. Mas aí não pude ir por um problema de família. Em um momento antes, também, fui convidado para voltar para Campinas, para dirigir o Correio Popular, numa proposta até meio mirabolante. Foram essas três propostas para sair aqui do Globo Rural.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – Você é uma pessoa preocupada com a formação do pessoal mais jovem. Nesses 50 anos, o que falta e o que existe hoje que é melhor do que era naquela época em que você começou? O que você acha que falta a esse pessoal que está chegando ao mercado para avançar na profissão, fora a fórmula mágica de fazer uma boa reportagem?</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – Bem, eu só posso dar um depoimento sobre como era o jornalista quando eu comecei e como é o jornalista hoje. Então vamos pegar a redação da Folha de S. Paulo, onde eu comecei. Pois O Tempo era uma coisa provisória, precária... A Folha não, já era um grande jornal quando eu comecei. Meu primeiro turno de trabalho na Folha foi de noite. Não de madrugada como era na Bandeirantes. Eu chegava às 6 horas da tarde.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – Para fazer o fechamento...</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – É, era das 6h à meia-noite. Porque antigamente os jornais fechavam por esse horário, de 11h30 à meia-noite. Quando eu entrei na redação e vi aquele material humano, quase fui-me embora. Era gente muito feia, muito mal vestida. A maioria tinha dentes precários. E depois eu vim a saber que havia na redação da Folha dois caras que falavam inglês, e eram considerados de outro mundo. Eu me lembro até hoje o nome deles. Um era o Aidam, e o outro era o Crestana.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – O Francisco Crestana?</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – É, Francisco Crestana. Então, dois falavam inglês. Ah, outro detalhe: não tinha nenhuma mulher. Não que a Folha não tivesse mulher, já tinha, mas não à noite. De tarde. Ou cuidava do Suplemento Feminino, ou cuidava, como a Helena Silveira, de crônica literária. Depois foi fazer crônica de tevê, mas na época fazia crônica literária. Numa redação de cem, havia três mulheres. Hoje, você entra na redação da Folha, a maioria é mulher, e é uma moçada bonita, bem vestida. Você não acha um dente cariado na Folha hoje, será que acha? E tem algum que não fala inglês na Folha, hoje?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – Deve haver dois.</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – É capaz de ter dois. Pode ser que não fale, mas que lê inglês, que opera computador e conhece todo esse vocabulário do computador. Então, o material humano do jornalista hoje é cem vezes melhor. Agora, se você me perguntar: o diploma é importante para o jornalista? Eu digo assim: não. O diploma é importante para o País. Para o jornalista pouco faz se precisa ou não diploma. Mas se o País exigir que para ser jornalista o cara tem que fazer quatro anos de universidade, o jornalista sempre será melhor do que era no meu tempo, em que o jornalista era recrutado a troco de um prato de comida. Porque quem era jornalista? Era o cara que entrava como porteiro, como office-boy, como motorista. Posso até citar os nomes. Audálio Dantas... Ele entrou na Folha como ajudante de laboratório, era um auxiliar de laboratório. O Gil Passarelli, que foi o fotógrafo mais importante da Folha, entrou como motorista e depois passou para porteiro. O Percival de Souza, entrou como office-boy. Hoje o cara começa com quatro anos de universidade. Olha, para o País é melhor ter um jornalista com essa formação do que um pobre diabo que vai buscar emprego a troco de um prato de comida. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – Na sua época de foca, Zé, você chegou a ser pautado para entrevistar a calandra?</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – Não. Esse trote da calandra, no meu caso, não vingou. Me pegaram em outros, que eu não me lembro agora. Porque a memória só reforça o lado bom, não é? (risos) Porque senão você não vive...</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – Já que estamos nesse negócio de evolução, como você vê o futuro? Estamos falando de conteúdo e de tecnologia também.</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – O jornal avançou, do ponto de vista tecnológico, mas regrediu, do ponto de vista editorial. Hoje essa tecnologia é tão exigente que a redação fecha 8h da noite. O jornal de domingo vai para as bancas no sábado. Quer dizer, isso é um retrocesso imenso. Então tem hora que a tecnologia compromete o conteúdo. Se ela não for bem usada, compromete o conteúdo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – Usada a favor, não é?</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – É... Agora, a coisa mais fantástica que aconteceu nesse período em que eu estou de olho aberto para o mundo... Porque até uma certa idade você só quer saber de biscate, né? (risos) Então, a coisa mais fantástica foi o desmoronamento do império soviético...</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – Retomando a questão sindical, o que você pensa dessa história do Conselho Federal de Jornalistas?</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – Do ponto de vista do profissional, é completamente dispensável. Eu acho que a luta do profissional não vai ser melhor com uma entidade a mais. Será melhor fortalecer a entidade que já existe, que é a Fenaj. Do ponto de vista do profissional, melhor seria fortalecer a Fenaj do que criar uma nova entidade. Agora, do ponto de vista político, eu acho que alguma espécie de controle, pela sociedade, dos meios de comunicação seria saudável. Não sei se isso viria via Conselho, mas alguma coisa para evitar os abusos, os preconceitos, o exagero. Isso ao nível político.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – Tem um conselho lá, que é um conselho de comunicação, é integrado por...</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – Já tem um, que não funciona. Vai fazer mais um?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – Você acha que as entidades sindicais pararam no tempo, ou algumas evoluíram e outras não? Claro, tendo como base o próprio sindicato dos jornalistas, que a gente conhece razoavelmente bem.</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – O sindicato é uma instituição em crise. Está num momento de mudança. Pode mudar para melhor ou pode até piorar, mas está em um momento de crise.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – E os patrões da mídia?</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – Pior do que ser explorado por um patrão capitalista é não ser explorado por um patrão capitalista. (risos) Porque o desemprego é o pior de tudo. A imprensa livre é um subproduto do capitalismo. Fora do capitalismo não há imprensa livre.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – Quais são os jornais que você lê diariamente?</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – Leio a Folha e o Estado. Não que eu leia de cabo a rabo os dois, mas vejo a Folha e o Estado. Aqui na Globo dou uma olhada n’O Globo e no JB. E aí como eu viajo muito sempre que chego nas cidades eu dou uma olhada nos locais.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – E rádio e tevê, do que você gosta? Além do Globo Rural, é claro.</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – Na tevê eu gosto de jornalismo, de esporte ao vivo, e dessas emissoras de documentário, National Geographic, Discovery, History Channel, Animal Planet.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – Você consegue arranjar um tempinho para ver?</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – Sempre que eu acho hora, vejo. Eu caço coisas...</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – Da tevê aberta tem algum programa de que você gosta?</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – Dou uma peruada nos jornalísticos.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – E a internet? Você foi seduzido por ela?</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – A internet, como o telefone, é uma ferramenta necessária para o jornalista. Mas não dispensa ir ao lugar. Para a atividade de repórter, é uma ferramenta que você tem que usar com parcimônia. Porque ela te dá muita informação boa mas pode te induzir a erros terríveis. É uma fonte para ser usada com parcimônia.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – Você pensa em ter um blog?</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – Não.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – Nem se te encherem muito o saco?</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – Não. Porque tem que alimentar várias vezes por dia, para fazer uma coisa de qualidade.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – Pelo que se sabe, a cada ano se formam cinco mil jornalistas pelas diversas faculdades do País. Muitos nem chegam a exercer a profissão. Você acha que o jornalismo estará bem amparado no futuro?</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – Uma vez, quando eu estava na diretoria do Sindicato dos Jornalistas, cheguei a propor numa assembléia que arranjássemos meios, uma lei que restringisse o número de vagas em escolas de jornalismo, para não haver esse excesso de oferta. Isso não é ruim para a empresa, e sim para o ser humano que entra com a ilusão de uma profissão e depois não tem emprego, não tem guarida nela. Para as empresas é muito bom que haja a superoferta. Eu achava que cada Estado deveria ter um número de vagas proporcional ao mercado existente. Mas levei uma vaia tão grande... Aí fico pensando: será que é correto isso continuar acontecendo, sem que o Estado tome qualquer providência? Acho isso uma crueldade.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – Muitos chamam a isso de estelionato educacional...</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – Então, se houvesse menos vagas, essa seleção já estaria no vestibular. Aqueles poucos que conseguissem se formar quase que certamente teriam trabalho. Eu acho que está acontecendo no jornalismo é o reforço dessa atividade lateral que é a assessoria de comunicação, consultoria. É uma coisa lateral e que está crescendo muito. E que não deixa também de ser um trabalho digno. Mas não é bem jornalismo, é outra coisa.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – No seu dia-a-dia no Globo Rural, em que fonte você bebe para tirar essa energia toda para a reportagem? Onde você se retroalimenta?</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – Olha, eu tenho uma listinha de mais ou menos dez reportagens que eu quero fazer. Aí, quando eu faço uma, eu risco aquela e ponho outra. (risos) E sinto que não vai dar tempo de fazer. Tenho que fazer mais rápido.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – Mas não vai dar tempo por quê? São muito trabalhosas?</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – É aquela coisa de repórter, você quer saber uma coisa para contar. Eu fico sabendo de uma coisa interessante, fico louco para fazer uma reportagem para contar para os outros. Eu fico com essa necessidade. Com isso, a minha listinha nunca termina. Risco uma, às vezes ponho uma ou até duas. Faz uns 15 anos que eu estou querendo fazer uma reportagem sobre a Guerra do Paraguai. Acho que vou conseguir esse ano. Seria com um enfoque no rural, para o Globo Rural.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – Só para a gente dar um pouco de risada Zé. No começo dos anos 90, quando você integrou a diretoria do Sindicato dos Jornalistas, dividindo o comando com o Antonio Carlos Fon, você foi, ao lado dele, o maior fiador da nova fase do Jornal Unidade. Foi uma fase muito rica do jornal, na qual não faltaram colaboradores famosos e tampouco polêmicos. Uma das matérias antológicas daquela fase foi o Tratado Geral do Passaralho, até onde sabemos de sua autoria. Que bicho é esse afinal? (risos)</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – Pois é... Eu fui convidado agora pela Editora Globo para fazer mais um livro, a seleção das melhores reportagens da revista Realidade e da revista Globo Rural, de várias reportagens. Eu quero por uma da Folha e o Tratado Geral do Passaralho, do jornal Unidade. Vai ser engraçado numa coletânea uma reportagem de jornal do Sindicato.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – Ela foi antológica... (risos)</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – O passaralho, assim como a liberdade de imprensa, é um subproduto do capitalismo. O patrão tem o direito de mandar embora e usa esse direito sem nenhum constrangimento, sem nenhuma cerimônia.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – Mas como surgiu essa expressão?</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – A origem do passaralho eu não consegui descobrir, nem naquela matéria. O que a gente localizou foi a época em que ele surgiu. Surgiu na Abril, a figura do passaralho, o desenho dele. Quando eu cheguei na Abril eu fui perguntar sobre essa história, alguém falou que veio da Folha ou do Estado ou do Rio. Ninguém sabe mesmo a certidão de nascimento...</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – Cara de Pasquim, não é?</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – Não, foi bem anterior ao Pasquim. Vou lá no Sindicato reler.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – Uma invenção sua também para o Unidade, a coluna Moagem vai completar 17 anos de vida agora em março. Dela nasceu Jornalistas&Cia e por extensão este Protagonistas. Vamos recapitular? Por que Moagem?</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – O termo moagem é muito comum no Mato Grosso do Sul. Tem um dia para capar o gado numa fazenda, um dia de muito trabalho muito pesado. Aí termina e a turma reúne em torno de um chope, uma cerveja, uma carne e é hora de contar os casos, as novidades, quem comprou o quê, quem vendeu o quê, quem vai casar, quem não vai. Isso se chama moagem. Eles dizem que depois da capação lá na fazenda vai ter uma moagem boa.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – Você havia dito que era também depois de um casamento, num velório...</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – É, em todas as ocasiões em que surgem as novidades que as pessoas ficam sabendo, ficam em dia com as notícias da tribo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – Quando você a criou, você tinha certeza de que iria cair no gosto popular como caiu?</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – Eu achava que não tinha erro. Porque eu reparei que o jornal dos jornalistas só falava dos outros, não falava dos jornalistas. É difícil falar dos jornalistas. Então, você chega lá na Folha e já te dizem: “Ô, você sabe quem vai pro Estado, quem vai pra Globo? Sabe quem foi convidado?” Precisa ter um lugar para essas notícias e não há lugar melhor do que o jornal do sindicato. O engraçado é que na diretoria da época, naquelas circunstâncias da época, o maior apoio para o Unidade, inclusive para essa coluna, veio de um cara que era gerente lá, o Oswaldo Braglia Jr. Ele percebeu e dava o maior apoio. Tanto que uma das coisas que eu gostaria de ter no Moagem – e que em certo momento tinha, mas depois parou – era publicar a foto do cara que se sindicalizava. Mas teve alguém lá que achou que aquilo era indevido, era invasão de privacidade, e proibiu. Tanto que não se dá mais.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – Você acompanhou os anos dourados, os anos de chumbo e a redemocratização do País. Que Brasil é esse, afinal?</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – Eu estive agora no Tocantins. Eu não conhecia Palmas – Las Palmas. Fiquei decepcionado. Eu pensei que quem nascesse em Palmas seria palmeirense; não é. (risos) Perderam a chance, um estado novo, todo mundo palmeirense. (risos) Chama palmense, olha! Acho que o Brasil é um país atrasado, que cresce de maneira retardada. Acho que foi o último país do mundo a abolir a escravatura. Quatrocentos anos de escravatura... E você pega a Nova Zelândia, um país de 200 anos, de Primeiro Mundo... Então, o Brasil é um país atrasado, retardado, mas em crescimento, que tem potencial. É lento, mas vai realizando esse potencial. O destino do Brasil é ser uma grande potência. É o destino...</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – Se o governo não atrapalhar... (risos)</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – Se o governo não retardar muito....</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – Você considera o jornalismo brasileiro corajoso, audacioso?</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – Eu acho o jornalismo brasileiro medíocre. Eu gostaria de ter mais no jornal, mais no telejornal. Não sei exatamente como eu faria se fosse diretor de Redação de um jornal... Mas se você pegar o melhor jornal do Brasil, ele não satisfaz. Como consumidor de jornalismo, eu não me satisfaço. É difícil um telejornal que eu veja inteiro. Até pelas chamadas você já vê que estão embromando. Aliás, como diz o fabricante de lingüiça, 95% de tudo é enchimento. (risos)</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – É difícil ser jornalista no Brasil?</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – Acho que é muito prazeroso ser jornalista no Brasil. As pessoas recebem bem. Fora um ou outro caso, as pessoas recebem bem o jornalista. Falo pela minha experiência pessoal.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – O tipo de veículo que você faz também...</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – Mas já fiz jornal diário. O brasileiro em geral recebe bem o jornalista. Quando uma família está traumatizada por causa de um crime, por exemplo, aí é outra coisa. O jornalismo é uma profissão considerada socialmente. Não é uma coisa que a sociedade veja com maus olhos. Talvez veja até o jornal. Vê pior o jornal do que o jornalista.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – É porque não nos conhece o suficiente. (risos) Você tem uma filha jornalista (Tetê Ribeiro), um genro jornalista (Sérgio Dávila) – seu genro foi para a guerra. É muita adrenalina para uma família só. O que vocês conversavam nesse período?</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – Minha mulher é que fala: “Mas, que família, hem? O marido e o genro...”</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – E a filha, né?</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – Mas a filha não foi para a guerra. Então, uma filha é jornalista e a outra fez Filosofia, mas no momento não atua na área, está fazendo uns artigos de free-lancer de revista... O negócio de jornalismo, de repórter principalmente, é uma questão de vocação. Acho que eu e o Sérgio Dávila somos bem resolvidos psicologicamente no sentido da vocação. Eu acho o Sérgio um repórter, um cara voltado para a reportagem, voltado para a notícia, tem o fogo da notícia. Então, como diz o Adib Jatene, o ideal é o camarada trabalhar no que gosta, porque aí a vida fica prazerosa mesmo no trabalho. Porque a pessoa que trabalha no que não gosta, a vida fica um tormento. Acho que no caso lá de casa essa parte... Tem o problema de ganhar pouco, né?, mas essa parte psicológica é boa.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – Vamos para a política. Em quem você votou na última eleição?</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – Não votei, estava viajando.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – Se votasse, seria em quem?</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – No Alckmin.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – Como você analisa o Governo Lula. Você acredita que nesse segundo mandato a gente terá melhores dias pela frente?</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – Eu acho que o Governo Lula pode surpreender, para cima ou para baixo. Mas, na medida em que ele se alia ao PMDB, como parece estar claro, tenho a impressão de que vai ser um mandato menos traumático do que foi o primeiro. Pode ser que ele faça um governo muito melhor do que eu estou pensando, mas pode fazer muito pior, muito mensalão, muito dossietário, sanguessugas... Mas penso que, com a aliança com o PMDB, do ponto de vista institucional, vai ser melhor. O primeiro foi muito traumático, foi muito de aprendizado, vamos dizer assim.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – Você acha que a imprensa teve um papel importante. Como você analisa? Foi boa a cobertura, foi exagerada, foi errada?</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – Penso que a imprensa, nessa questão dos escândalos, ficou muito aquém. Esteve aquém das CPIs e aquém da Polícia Federal. Imagine o dossiegate na mão do Bernstein, do Woodward. Eles já saberiam de onde esse dinheiro saiu, quando saiu. Já saberiam tudo. O Washington Post já teria publicado tudo. A imprensa, nesses casos, esteve sempre a reboque ou das CPIs ou da Polícia Federal. Então, esteve sempre aquém.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – Politicamente, como você se situa?</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – Quando abriram os arquivos da polícia política, me passaram um trechinho em que eu era chamado de comunista perigoso. Eu participei do Festival da Juventude Comunista em Moscou, quando estudante. Os meus ídolos, tanto no jornalismo como na política, eram comunistas. Mas, com o desabamento do império soviético... Ou melhor, com o desencanto em relação ao comunismo, à prática do comunismo, eu – que não cheguei a me filiar ao Partido Comunista, era uma linha auxiliar, vamos dizer assim, simpatizante – penso que essa democracia social tipo sueca, tipo britânica, uma democracia social que dê saúde, escola, uma aposentadoria digna, amparo mínimo para os idosos e para as pessoas que não podem se sustentar sozinhas, sem sacrificar a liberdade individual, seja a melhor. Porque o comunismo soviético dava emprego, pleno emprego, mas sacrificava a liberdade. Por isso não deu certo. O problema do capitalismo é esse: o emprego. Um pai desempregado, não há coisa pior. Não há tragédia pior para o ser humano do que um pai desempregado sendo humilhado pela mulher, pelos vizinhos, pelos filhos. Os filhos cobram, o cara não arranja emprego... Mas, enfim, o problema do capitalismo é emprego. Hoje a minha posição política é a seguinte: uma social-democracia, que dê saúde, educação e uma vida digna na velhice e sem sacrifício da liberdade.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – Como você vê a militância política e seus desdobramentos no jornalismo?</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – A grande militância política no jornalismo que eu vi foi a do Partido Comunista, do Pecegueiro. Especialmente na Folha, quando eu entrei, você sabia quem eram os líderes. Eram pessoas influentes, importantes. Depois que passou a hora do Pecegueiro, do pecezão, a próxima militância que surgiu foi a do PT, da formação do PT dos primeiros anos, que era muito atuante. Hoje não é mais. Os jornalistas não são mais tão atuantes e fervorosos como eram. Nós estamos num momento de mudança, mas não sei para onde.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – Mas você considera boa essa mudança, em tese, pelo menos?</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – Eu acho que o jornalismo é uma função política. O sujeito que é jornalista está trabalhando para mudar o mundo, não tenha dúvida. Ele quer mudar o ser humano, o mundo. Quando eu trabalhava em Ribeirão Preto, o dono do jornal era também dono de uma usina de açúcar e tinha uma fábrica de implementos agrícolas. Ele se chamava Luiz Antonio Ribeiro Filho. Era um cara muito atuante nas empresas dele, tanto na usina como na fábrica e no jornal. Um belo dia, ele me falou: “Zé Hamilton, eu não entendo uma coisa. O pessoal da usina, termina o serviço às 6 horas, pega o carrinho e vai para casa, jantar com a mulher e as crianças, aí leva no quarto e dá um beijo. O pessoal da fábrica de implementos a mesma coisa, vai todo mundo para casa. Os jornalistas fecham o jornal, vão todos para o bar discutir. A gente chega lá meia-noite, 1 da manhã, está todo mundo lá, só discutindo o jornal. Que negócio é esse?” Eu falei: “Olha, Luiz Antonio, a diferença é que jornalista está mudando o mundo, quer consertar o mundo. Tem que trabalhar todo dia, o dia inteiro e de noite também. E tem lugar melhor para consertar o mundo do que num bar? (risos) Não tem.”</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – As novas gerações não estão mais fazendo isso...</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – Não dá tempo. Os horários...</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – Você faz coro com a mídia nas duras críticas contra o Parlamento?</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – Quando eu vejo no jornal: plenário vazio – fotografia de plenário vazio –, deputado não trabalha. E no outro dia: deputado quer aumento de salário, está trabalhando de madrugada para fazer um projeto de aumento de salário. Olha, isso é chefe de Reportagem ruim, que não é criativo, não busca assunto para o jornal do dia, vai atrás disso. Manda um fotógrafo lá, fotografa e mete o pau nos deputados. A coisa mais fácil que tem é meter o pau no Legislativo. Porque o Legislativo não tem agência de publicidade para programar os jornais. O Executivo tem, né? Falar mal do Executivo? Vai devagar, porque se não eles tiram o anuncio da Caixa Econômica, do Banco do Brasil, da Petrobras. O Legislativo não tem isso, né? Também não fala de juiz porque se não amanhã você desquita e ele mete uma pensão em cima de você. A mulher pede tudo o que você ganha e o juiz dá. Ele vai te perseguir amanhã. E jornalista separa, né?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – Muito!</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – Agora, de deputado e senador pode falar à vontade, porque não te afeta nada. Então, quando eu vejo no jornal críticas ao Legislativo, é chefe de Reportagem ruim e diretor de jornal desqualificado politicamente. Porque o emprego mais importante do País é o de deputado e senador. Eu estou delirando agora porque eles estão querendo se igualar aos ministros do Supremo. Não é que eles tenham que se igualar, eles têm que ganhar o dobro dos ministros do Supremo. Porque um ministro do Supremo é um burocrata, que vai ganhando cargos dentro do estamento dele, através de puxação de saco, de patota, é um cara que tem aposentadoria integral para o resto da vida e quando chega a ministro do Supremo já empregou a cunhada, o sobrinho, o neto, subneto, subgenro, todos no Judiciário. Então, ele faz três ou quatro anos de Supremo para chegar ao salário máximo, se aposentar com aquilo e viver mais 20, 30 anos ganhando aquilo. O deputado ganha pouco, quando é demitido pelo povo não tem nem Fundo de Garantia, sendo que é o emprego mais importante do País. Salários do Governo deveriam ser, em primeiro lugar, presidente da República – tinha que ganhar muito mais do que ganha o Lula. Um absurdo, o cara ser presidente da República e ganhar um salário que, parece, é de R$ 8 mil ou R$ 12 mil. Então é melhor não ganhar nada, o Estado paga tudo. O servidor público, ou ele ganha bem para defender o emprego dele, ou, ganhando mal, vai tirar por fora, vai roubar ou vai fazer licitação fraudulenta... Eu acho sinceramente que o maior salário do Brasil deve ser do presidente, em segundo lugar deputado e senador, em terceiro lugar os ministros do Supremo e os ministros do Governo. E vai descendo aí. Porque deputado federal é um servidor qualificado que foi escolhido pelo povo. E o povo tem direito de mandar ele embora daí a quatro anos se ele pisar na bola, enquanto esse juízes corruptos ficam aí a vida toda e ninguém fica sabendo. Vocês já repararam? Juiz corrupto é preso vendendo sentença; quando muito ele é afastado e aposentado com o salário integral. O deputado, se perde a eleição, vai para casa e não tem como pagar a campanha. Se for honesto. Se for roubar, aí não precisa ganhar nada. Se o deputado não ganhar bem – a campanha é cara –, ele vai tirar de outro lugar. Ou ele rouba do Governo, ou ele pega de empresas para fazer lobby ou coisas desonestas. Então, eu acho que o mais certo é ele ganhar bem institucionalmente para honrar aquele salário. Mas também acho que precisa haver esquemas para cassar o deputado desonesto rapidamente. Ele tem que dar exemplo para o País.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – Você nunca se interessou por política partidária? Nunca ninguém te convidou para concorrer a algum cargo?</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – O pessoal do PC me convidou, depois um amigo que mexe com política me convidou. Mas eu não tenho disciplina para fazer política partidária. Você tem que saber direito o programa do partido, ir às convenções, às assembléias, reuniões. Para ser, tem que ser direito. Para ser assim de passada, nunca quis não.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – Estamos chegando ao final e vamos fazer um pingue-pongue. É mais para divertir mesmo. Uma cor...</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – Amarela.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – Um livro...</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – O ABC da Literatura, do Ezra Pound.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P - Um autor...</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – Gabriel Garcia Marquez.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – Uma canção...</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – A promessa do Batistinha, uma moda de viola. São três autores, um deles é o Marrueiro, daquela dupla Sulino e Marrueiro.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – Um esporte...</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – Para ver, é futebol; para praticar, é natação.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – Um líder...</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – Aí varia ao longo do tempo, né? Uma pessoa de quem eu goste das idéias... Ah, põe o Caetano Velloso.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – Um político...</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – Waldyr Pires.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – Você gosta dele?</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – Gosto. Mas, cá entre nós, no Governo Lula, tem algumas pessoas que eu contesto mas tem outras que são ilibadas. Marina Silva, Tarso Genro...</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – É um pessoal de caráter, de princípios... O problema do Waldyr é que ele está se queimando muito com essa história do apagão.</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – Está num momento político terrível, num inferno astral... Mas é um homem de uma grandeza, de uma finura...</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – Um vício...</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – (risos) Vício...? Vício é uma coisa que você está acostumado a fazer?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – Pode ser no sentido figurado também, não literal.</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – Um vício não é no mau sentido, uma coisa ruim?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – Não necessariamente... Sexo, por exemplo. (risos)</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – Outro dia me perguntaram o que significa entrar nos 70 anos. Eu falei: “Entrar nos 70 não é nada. Duro é sair do 69.” (risos) Mas um vício...?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – Tem gente que é viciada em trabalho, em comer chocolate...</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – Coisa que você faz compulsivamente, né?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – Se você procurar bastante, acha.</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – É comer amendoim. É a coisa mais compulsiva que eu faço.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – Uma virtude... Não necessariamente sua.</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – Acho que é a tolerância. Eu não tenho muita, mas admiro nos outros.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – Um provérbio... Que você siga, pratique, fale...</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – Um que eu acho muito expressivo é “No capitalismo não tem almoço grátis”.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – Uma reportagem inesquecível. A gente já falou de algumas, mas tem alguma, de alguém, sua...?</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – Pois é, parece demagogia, mas a reportagem inesquecível é a que eu vou fazer. Porque, geralmente, uma pessoa que está apaixonada jornalisticamente por um personagem, está na cabeça nesse momento, né? Você está pensando na reportagem que você está fazendo, não na que já passou. É a Marilei de Blumenau.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – Quem é a Marilei de Blumenau?</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – Depois vocês vão ficar sabendo. (risos) É uma reportagem que estou fazendo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – Um amor...</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – Cavalos.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – Uma paixão...</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – Adriana Calcanhoto. Vai dar problema isso lá em casa. (risos) Não conheço ela.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – Um lugar inesquecível...</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – Cuba.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – Um sonho...Ganhar o Prêmio Esso aos 85? (risos)</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – Morar numa casa numa praia. Uma praia bem simples.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – E, para encerrar, família...</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – Família é a chave da segurança psicológica de uma pessoa.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – A sua te acompanhou?</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – Acompanhou. Me deu segurança psicológica. Não é fácil.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – Você é casado com a mesma mulher?</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – Com a mesma mulher.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – Há quantos anos?</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – Eu casei em 63... 43 anos.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – O nome dela é...?</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – Maria Cecília. Uma vez a gente fez um balanço com o pessoal da antiga revista Realidade e só tinha eu casado com a mesma mulher. Mas tem uma pergunta aqui que você não fez...</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – Vamos lá...</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – Nesses 50 anos de jornalismo, o que você aprendeu? (risos)</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P – É...</div>
<div style="text-align: justify;">
JHR – Eu aprendi duas coisas. Primeira: azeitona preta é tingida. Segunda: em geral, nos banheiros, água quente é na torneira da esquerda. (risos) Fora disso, tenho que aprender tudo de novo. A minha mulher foi em duas ou três palestras em que eu falei isso. Aí ela disse pra mim: “Mas, Zé Hamilton, você só fala isso!” “Ué, eu só aprendi isso!” (risos). Estou sendo honesto. Ela queria que eu falasse uma coisa em cada lugar.</div>
Coisas do Mundo, Minha Nêgahttp://www.blogger.com/profile/10176436942034049161noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3917296745580674665.post-2845042523969513052015-06-28T21:38:00.000-07:002015-06-28T21:39:30.753-07:00Otto e Mezzo: cena final <div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiOA13Cne8y_YArKWz3wK-evmeDefTRirw_k6megWMOPP2i3KZAiE4QVx9HOCUVU1DCBnBcSLqjZ1XLlBzZSxrH2UlhRN1rEChkw72zqbDnflUeWwR-v2svao3kQ2937DjE9jzDkwHF07E/s1600/ottoemezzo.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="295" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiOA13Cne8y_YArKWz3wK-evmeDefTRirw_k6megWMOPP2i3KZAiE4QVx9HOCUVU1DCBnBcSLqjZ1XLlBzZSxrH2UlhRN1rEChkw72zqbDnflUeWwR-v2svao3kQ2937DjE9jzDkwHF07E/s400/ottoemezzo.jpg" width="400" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Uma das cenas mais lindas do cinema: o final de Otto e Mezzo, de Federico Fellini ao som do maravilhoso de Nino Rota. Mastroiani, Cardinale, Sophia Loren...muito craque em um filme só. Fellini vive!</div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEij2U1SmCm1LIRGxUD5htITZwKDVtw9mCUufamkaLoLdJWn3iiUgvHw9dj1TIRVYtblS24M8g5EGbGTwBX-WrFB50A3mxTXt0HyIiCCHxcZwKHjfNjTvD00Y4qixEq_0Xk2RAS0shpShv8/s1600/Fellini-8-e-mezzo-mastroianni-loren.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEij2U1SmCm1LIRGxUD5htITZwKDVtw9mCUufamkaLoLdJWn3iiUgvHw9dj1TIRVYtblS24M8g5EGbGTwBX-WrFB50A3mxTXt0HyIiCCHxcZwKHjfNjTvD00Y4qixEq_0Xk2RAS0shpShv8/s400/Fellini-8-e-mezzo-mastroianni-loren.jpg" width="400" /></a></div>
<br />
<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="https://www.youtube.com/embed/Vb77JICtSP0" width="560"></iframe>Coisas do Mundo, Minha Nêgahttp://www.blogger.com/profile/10176436942034049161noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3917296745580674665.post-32461252774770462872015-06-21T19:56:00.000-07:002015-06-21T19:57:25.430-07:00José Ely de Miranda, por Ugo Giorgetti<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhXLpPu9UDu6PCJvIgo1RYki0ckmFh-_DLnqFPRsJHJWJSuP7xeuRvGxt-feGHaQFQ48BNjm8T8lDrli_HPo4gH5QVRUFQ33_4y7aR8ztMlTFwGvU0sF1Xxmdn4_lV_9TSwuzxg6SrarKs/s1600/zito.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="266" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhXLpPu9UDu6PCJvIgo1RYki0ckmFh-_DLnqFPRsJHJWJSuP7xeuRvGxt-feGHaQFQ48BNjm8T8lDrli_HPo4gH5QVRUFQ33_4y7aR8ztMlTFwGvU0sF1Xxmdn4_lV_9TSwuzxg6SrarKs/s400/zito.jpg" width="400" /></a></div>
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<span style="text-align: justify;">Passou pela minha cabeça escrever uma crônica a </span><b style="text-align: justify;">José Ely de Miranda</b><span style="text-align: justify;">, o </span><b style="text-align: justify;">Zito</b><span style="text-align: justify;">, grande volante da história do futebol mundial que reinou no Santos Futebol Clube e na Seleção Brasileira Bi Mundial (58 e 62) e que infelizmente nos deixou nesta semana. Só que hoje pela manhã, como sempre faço, fui direto à coluna de </span><b style="text-align: justify;">Ugo Giorgetti</b><span style="text-align: justify;">, mestre das telas e das palavras, na seção de Esportes de </span><i style="text-align: justify;">O Estado de S. Paulo. </i><span style="text-align: justify;">Sua</span><i style="text-align: justify;"> </i><span style="text-align: justify;">coluna deste 21 de junho, data dos 45 anos do TRI, relembra a história gloriosa de Zito e faz um contraponto ao medíocre futebol brasileiro dos dias de hoje. Sua coluna é tão primorosa, brilhante, que fiquei sem graça de escrever quaqluer homenagem ao craque da camisa 5. Aliás, nem é possível redigir algo com a mesma sensibilidade. </span><br />
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<b><i>Ugo Giorgetti</i></b></div>
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<i>Felizmente Zito não viu o último Brasil x Colômbia. Morreu antes. O destino, o acaso ou Deustiveram a delicadeza de poupá-lo do espetáculo de um Brasil dando e revidando pontapés como uma equipe qualquer. No tempo de Zito o Brasil era perseguido por pontapés de toda espécie porque era impossível pará-lo de outro modo. Nos dias de hoje, as equipes brasileiras não são mais reconhecíveis à primeira vista.</i></div>
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<i><br /></i></div>
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<i>Quem começa a ver um jogo já iniciado tem enorme dificuldade de distinguir uma equipe que já foi reconhecível ao primeiro toque e à primeira ginga. Não quero falar sobre isso. Quero falar de Zito, José Ely de Miranda. </i></div>
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<i><br /></i></div>
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<i>Dado o desprezo total no Brasil por arquivamento e conservação de imagens de qualquer tipo, o que temos de Zito é pouco, quase nada. Lances sempre repetidos, truncados, que se salvaram sabe-se lá como, e sabe-se lá por quem. É o nosso destino de país sem memória nem passado, como atesta a crise absurda, insensata e inexplicável a que foi atirada a Cinemateca Brasileira nos últimos três anos e que, só agora, dá sinais de uma difícil recuperação.</i></div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhnIVArxr-W_xPJp5iDuZw0MUxJ8p5yjil6JoFumL17Gy2AeOiCqJcf9tvY94SzSQxrNU3Iv56EsuW8KgmgcEME_Tqem4iE7K-C2yaAcxDzaPkcztPM22lY16EpoK43Nyuly7jz3h2xuqk/s1600/maxresdefault.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="231" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhnIVArxr-W_xPJp5iDuZw0MUxJ8p5yjil6JoFumL17Gy2AeOiCqJcf9tvY94SzSQxrNU3Iv56EsuW8KgmgcEME_Tqem4iE7K-C2yaAcxDzaPkcztPM22lY16EpoK43Nyuly7jz3h2xuqk/s400/maxresdefault.jpg" width="400" /></a><i><br /></i></div>
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<i>Desse modo, resta quase que só história oral e testemunho. De um lado, quem de Zito só tem informações precárias. De outro, os privilegiados que o viram jogar e ainda estão entre nós. Eu sou um deles.</i></div>
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<i><br /></i></div>
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<i>Zito saiu do Brasil como reserva da Copa de 58. O lugar era ocupado pelo grande Dino Sani. Mas Zito entrou e nunca mais saiu. Mário Morares, talvez o mais sarcástico, refinado e inteligente comentarista da era do rádio, definiu Dino e Zito do seguinte modo: “Dino jogava de fraque, Zito, de cueca.”</i></div>
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<i>Pura verdade. Só que “cueca” no caso não significava um futebol menos apurado. Significava praticidade, objetividade, comando.</i></div>
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<i><br /></i></div>
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<i>Zito não era cabeça de área, volante de contenção ou qualquer uma dessas “especialidades” que andam por aí. Era alguém que defendia e atacava sempre que achava necessário. Não errava passe, e de sua visão privilegiada do jogo dava instruções aos demais. Às vezes ásperas. Era comum vê-lo dando uma chamada dura em Pelé, que abaixava a cabeça e não retrucava.</i></div>
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<i>Quando Pelé chegou ao Santos Zito já era um ídolo. Fez parcerias inesquecíveis. Primeiro com Walter, um talentoso e prematuramente falecido meia, depois com o grande Jair Rosa Pinto. Fora outros que transitavam por perto dele, como Urubatão e Formiga. Lima e Mengálvio vieram depois. Era com essa gente que Zito tinha de se haver.</i></div>
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<i><br /></i></div>
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<i>Profundamente respeitado, com sua cara séria e seu sotaque de Roseira que nunca perdeu, pressionava companheiros e árbitros. Sem gesticular muito, sem levantar muito a voz, colocava todos em seus devidos lugares. Eram outros tempos, de jogadores que sabiam que a vida era dura e o jogo, jogado.</i></div>
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<i><br /></i></div>
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<i>Tempos em que a relação com Deus se fazia na maioria das vezes no silêncio dos vestiários, e sempre intimamente. Não havia dedos em riste apontando para cima por qualquer motivo, braços elevados para o alto e pessoas de joelhos rezando no campo. No campo jogava-se.</i></div>
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<i>Se Zito estivesse lá, o Brasil jamais teria perdido para a Alemanha daquela maneira. Ele não teria permitido. Era desses jogadores que, uma vez no campo, nem se lembrava que havia um treinador na equipe. No campo era com ele. A notícia de sua morte primeiro momento foi tímida, afetada pelos noticiários dessa Copa América, mas aos poucos todos foram se dando conta da perda.</i></div>
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<i><br /></i></div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj4ONS3I2PhXmC_dpC8ipIymmBBOATDROv9Ai457lHjqMOau0RPMWg6qMSJfmHn7CRI7fNlw1if12lHVcNFKCeQfeHYWJ-LaogkY4knguBltdz1dw4HPBUG4MwBuwNnXMWRN84AcbblGx4/s1600/n_20130415223032_nota_presidente_em_exercicio_odilio_rodrigues_recebe_visita_de_capitao_eterno_zito.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="248" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj4ONS3I2PhXmC_dpC8ipIymmBBOATDROv9Ai457lHjqMOau0RPMWg6qMSJfmHn7CRI7fNlw1if12lHVcNFKCeQfeHYWJ-LaogkY4knguBltdz1dw4HPBUG4MwBuwNnXMWRN84AcbblGx4/s320/n_20130415223032_nota_presidente_em_exercicio_odilio_rodrigues_recebe_visita_de_capitao_eterno_zito.jpg" width="320" /></a><i>E de uma perda justamente num momento triste para a seleção brasileira. Ao ver as imagens sincrônicas de seu caixão deixando Santos, saindo para sua cidade natal, e dos lances do jogo vexatório contra a Colômbia, me deu a sensação de que o funeral não era só de Zito.</i></div>
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<i><br /></i></div>
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<i>Morria mais que um grande jogador, morria todo um futebol. Para alguns, entretanto, resta a suprema alegria de tê-lo visto jogar.</i></div>
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<i>O Estado de S. Paulo - Domingo, 21 de junho de 2015 - Página D6</i></div>
Coisas do Mundo, Minha Nêgahttp://www.blogger.com/profile/10176436942034049161noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3917296745580674665.post-83374104985712466942015-06-17T23:09:00.000-07:002015-06-19T06:33:57.496-07:00Enfim, 40!<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhmb-CUPHTqm4prUxudRaA7NCuwWEIvc4_uA5DCahIwuqSgm_3wVRuer2T8-phi4vAWyTWNyVxg5kCxeSa6Rj61zc4IVLO1tFPhpVIguGVTCBSYPOpPu19_Ox7KomrAQuNoWxaioyWarY4/s1600/10409524_10206647605209334_3748978124419777580_n.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="480" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhmb-CUPHTqm4prUxudRaA7NCuwWEIvc4_uA5DCahIwuqSgm_3wVRuer2T8-phi4vAWyTWNyVxg5kCxeSa6Rj61zc4IVLO1tFPhpVIguGVTCBSYPOpPu19_Ox7KomrAQuNoWxaioyWarY4/s640/10409524_10206647605209334_3748978124419777580_n.jpg" width="640" /></a></div>
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E não é que cheguei aos 40?! Como num piscar de olhos, num sopro, cá estou no meio do caminho - isso sendo bem otimista e levando em consideração o avanço da medicina e do aumento da expectativa de vida. O certo é que cheguei e, quer saber? Estou me sentindo ótimo, mesmo com um pouquinho de peso a mais, algumas dores musculares, barba e cabelinhos brancos, mas vivo. Vivendo cada dia de uma vez, acompanhando o tempo e caminhando para chegar. Não sei bem onde, nem como, mas os próximos quarenta anos me dirão. </div>
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Até aqui a caminhada foi interessante. Nasci em 1975, em plena ditadura militar. Enquanto o pau quebrava na rua, vivi meus primeiros dois anos de vida em uma casa ampla do bairro do Veleiros, perto da Represa do Guarapiranga. Meu pai, comerciante do Largo 13, e minha mãe, uma dona de casa responsável, me levaram para comemorar meu aniversário de 2 anos já no bairro em que eu viria a viver os meus principais anos de vida: o Brooklin Novo, local de poucas casas, muito brejo (às margens do Rio Pinheiros) e com um comércio dominado por portugueses e espanhóis. Nada parecida com o bairro que passou a crescer assustadoramente no final dos anos 80. </div>
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E foi aqui que dei os meus primeiros passos: o Patoxó, escola infantil de saudosa memória, até ingressar no querido Pequenópolis – escola que faliu ainda nos anos 2000. Lá, os primeiros e eternos amigos. O futebol, o bailinho e a vassoura, as gincanas, o teatro, as brigas e as idas à sala da Dona Aurélia, a dona da escola. Paralelamente aos livros, o amor pelo São Paulo Futebol Clube e os choros de alegria ouvindo os gols nas ondas da <i>Jovem Pan</i> – a primeira paixão pelo jornalismo.</div>
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Em São Paulo, um importante espaço foi a casa da minha vó Conceição, no Butantã. Lá, além da sua companhia maravilhosa, desfrutava da camaradagem do meu Tio Pedrinho - corintiano fanático que fazia a minha alegria com a <i>A Gazeta Esportiva</i>, jornal que ele comprava todos os dias e que eu adorava, principalmente por trazer desenhado o principal gol da rodada. Lá também moravam a Nê, minha tia, que me ensinou muita coisa boa da vida, como gostar de sambas de verdade, e a Regina, prima e madrinha que me levou pela primeira vez na vida no eterno centro de São Paulo. Não posso esquecer da Beth e da Vera - figuras sempre presentes e também fundamentais para a formação do meu caráter.<br />
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O primeiro jogo na casa sacrossanta chamada Morumbi, aliás, merece um destaque especial: estamos em 1984, outubro, e era dia de Majestoso. São Paulo x Corinthians se enfrentariam pelo Campeonato Paulista daquele saudoso ano. Eu, com nove anos, e tricolor como minha mãe, jamais havia pisado na casa tricolina. Meu pai, um corintiano mandrake, não me levava ao futebol, esporte pelo qual eu já era apaixonadíssimo. A saída? Ir ao Morumbi acompanhado de uma família inteirinha corintiana. Vizinhos da minha Tia Nê me levaram, depois do pedido da Regina, à cancha do Tricolor. Mas havia uma condição: assistir calado ao lado da massa alvinegra. Difícil, mas o gol de Careca no finalzinho lavou a alma. Não pude berrar, mas o que importava? No final das contas foi uma delícia ver o meu "Mais Querido" batê-los por 1 a 0, sem choro nem vela e cutucá-los em plena arquibancada com um sorriso de moleque satisfeito. Voltei para casa feliz como um pinto no lixo e com todos os palavrões que eu conhecia (e os milhares que eu não conhecia) na ponta da língua.<br />
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Em 1988, parti para São Vicente junto com a minha mãe. Lá, vida mais saudável, tranquila, muito diferente do que, naquela época, a perigosa metrópole de São Paulo. Novos amigos, nova escola e muito futebol na praia. Mas muito mesmo. Foi lá que aprendi, sozinho, os fundamentos do esporte. Escola que me permite até hoje jogar, com certo nível de qualidade, com diversos amigos. Foi lá também que vi de perto a malandragem e o convite às drogas. Cidade de praia é propícia para isso, infelizmente. O zelo da minha mãe, a religiosidade – cheguei a ser coroinha da matriz de São Vicente – e o senso crítico afastaram-me do mal caminho. E segui. </div>
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Foi lá na praia que eu vivi os momentos mais difíceis da minha história: a morte do meu pai aos 68 anos, de forma inesperada e fulminante, e a passagem da minha mãe, um ano e pouco depois. Ela, com 66 anos, e vítima de uma das doenças mais terríveis e silenciosas: a diabetes. Eu, com pouco mais de 19 anos, sem irmãos, resolvi voltar a São Paulo e ficar perto da Nê e da Regina.<br />
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Voltei em 1995 e comecei a trabalhar no escritório de contabilidade das Lojas Marisa – digitava inúmeras notas fiscais naqueles tenebrosos terminais verdes da Olivetti e arquivava num galpão terrível essas mesmas notas. Aprendi a acordar cedo e pegar condução lotada para o trampo. Larguei o carro. Dois anos depois, a faculdade de jornalismo. Na FIAM, novos amigos, novas experiências. Mais “cascudo”, estudei com afinco, pagando as mensalidades com dificuldade (não queria depender das coisas deixadas pelos meus pais – que nem foram tantas). Arrumei estágios que pagavam uma ninharia, tomei calotes aos montes, mas segui com o sonho da nobre profissão. </div>
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Formado, fiz pós-graduação na Cásper Líbero e comecei a me enveredar pelos pensadores da chamada “esquerda”. O neoliberalismo provocava no começo do novo século uma crise sem precedentes. Sai de lá com a certeza de que lutar por um mundo melhor, mais justo, era possível e fundamental para todos. Passei por crises econômicas inúmeras, desemprego e desilusão profissional... até que em 2005 (ano duro, de grandes perdas – minha tia e meu amigo Enrico) fui escolhido, depois de um processo seletivo, para atuar no departamento de comunicação do Sindicato dos fiscais da Secretaria da Fazenda do Estado. E foi lá, com 30 anos, que tive o prazer de trabalhar com uma das maiores figuras que passou pela minha vida: o Mestre Moacir Longo. Comunista de carteirinha, preso e torturado nas dependências do DOI-CODI, é dessas figuras que encantam pela camaradagem e pela inteligência acima do normal. Autodidata, ensinou-me coisas que eu jamais imaginava aprender com um senhor que não usa computador, somente uma surrada Remington. </div>
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Do Sindicato à política eleitoral com o PPS, indicado pelo velho Moacir (presidente de honra). Duas campanhas municipais e duas para governador, senador deputado e presidente. Quantas histórias, quanta gente boa pelo caminho. Conhecer os quatro cantos da cidade (andei muito!), suas misérias e belezas foi maravilhoso. Na Câmara, o dia a dia do município: o que de melhor e, infelizmente, também o que de pior reserva a política. Mas me apaixonei pelo embate ideológico da política, apesar dos pesares.<br />
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O tempo passou e me trouxe com ele o gosto por Chet Backer, Billie, Ella, Sinatra, Paulinho da Viola, Cartola, Noel e Ismael, Tom, Vinicius, João Gilberto, Chico, Buena Vista Social Club, Pavarotti, Picasso, Dali, Miró, Portinari, Villa Lobos, Mario e Oswald de Andrade, Machado, Guimarães Rosa, Drummond...conheci a Argentina e o Uruguai. Desfrutei das belezas do Rio de Janeiro. Adorei o Rio Grande do Sul, Minas, Aracaju e Santa Catarina. Tive amores e desamores e conheci mais gente bacana do que canalhas. Perdi muita gente boa (minha prima Camila, por exemplo...), mas ganhei outras tantas legais e virei titio e padrinho. Fiz análise, conheci Freud e me apaixonei por chorinho e tango. Aprendi a tomar vinho e admirar um bom doze anos. Fiquei distante de aglomerações e me apaixonei pela tranquilidade de um domingo de manhã. Dei mais valor ao mar, à natureza e aos animais. Aprendi a comer bacalhau, gostar de cebola e alho e apreciar um belo entardecer e uma noite ao luar. Aprendi a ser eu mesmo. </div>
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E assim caminhei durante 40 anos. Hoje, posso dizer, sou um cara legal, bom amigo e um cidadão muito melhor. Fiquei mais criterioso, até chato e cheio de manias para algumas coisas. Mas ainda estou aprendendo e inspirando-me em pessoas maravilhosas, companheiras e gentis, que estão sempre perto de mim. Eu poderia nomeá-las (algumas já estão) nesse texto despretensioso, mas é tanta gente que me faltaria espaço. Ou talvez palavras para agradecer e dizer o quanto foram, são e serão importantes para seguir por mais, quiçá, 40 novos anos. </div>
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Coisas do Mundo, Minha Nêgahttp://www.blogger.com/profile/10176436942034049161noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3917296745580674665.post-63843512507990567652015-06-01T11:04:00.001-07:002015-06-21T20:02:09.735-07:00El Pais: Messi transcende Messi<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEirc7xRfbc1ZcQ5dvx8Tq0RGe-g4uokj7hZksWzZ2CkShougNcITyKViZelyYx3vKr2hGM10vRa71RyMbsruqpJir9WHfmehAUWPovqcHqfdQzVgyxoOZxea4SHV6xphClVO6CF70ww4fM/s1600/1433091984_903282_1433092417_noticia_grande.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="275" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEirc7xRfbc1ZcQ5dvx8Tq0RGe-g4uokj7hZksWzZ2CkShougNcITyKViZelyYx3vKr2hGM10vRa71RyMbsruqpJir9WHfmehAUWPovqcHqfdQzVgyxoOZxea4SHV6xphClVO6CF70ww4fM/s400/1433091984_903282_1433092417_noticia_grande.jpg" width="400" /></a></div>
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<i>Leo experimentou uma mutação constante em sua carreira</i></div>
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<i>Há quem sustente que o assombroso de Messi é que vendo sua canhota ele ainda tenha a perna direita. Não é o único mistério deste fenômeno de fenômenos, cujo observatório transcende os títulos, os gols de outro planeta. É muito mais que tudo isso. Sem que estivesse previsto, aquele frágil driblador de alta velocidade evoluiu para um jogador de futebol total, com momentos de Di Stéfano, Pelé, Cruyff e Maradona. A versatilidade do primeiro, a pontaria do brasileiro, o arranque e a freada do holandês e as demonstrações de mágica de seu compatriota, tão abracadabrante ou mais que aquele. Emulou os gols de todos os gênios, até com a mão, e já teve seu Gentile particular (Balenziaga). Seu romance com a bola não tem fim. E lhe falta pouco menos de um mês para completar apenas 28 anos!</i></div>
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<i>O percurso de Messi é assombroso. Uma década depois, cabe analisar em perspectiva sua constante mutação. Debutou como um agitador revoltoso. Quando Ronaldinho partiu, foi Ronaldinho, magia pura. Sem Eto’o, e depois do fiasco de Ibrahimovic, foi à área como um goleador excepcional. Xavi iniciou sua despedida, e o argentino nascido em Rosário hoje dá passes até o delírio. É a apoteose total, o melhor Messi já visto. Com ele o Barça iniciou um novo ciclo, quando os mais céticos sustentavam que a vantagem de Leo era o ecossistema que o rodeava. No time já não está Puyol, e Xavi está se despedindo, mas Messi é ainda mais Messi, muito mais completo. Distribui gols, analisa os jogos como um sábio, marca os tempos e estufa as redes sem parar, seja com uma jogada tirada da cartola para marcar um desses tantos gols que se recordarão por gerações (<a href="http://brasil.elpais.com/brasil/2015/05/30/deportes/1433017262_441371.html">como o primeiro no jogo de sábado contra o Athletic</a>) ou para mostrar que é inteligente como poucos (como em seu segundo gol no sábado).</i></div>
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<i>É difícil acreditar que de seus 440 gols com o Barça mal haja vestígios de alguns de dentro da pequena área. Tão assombroso é este jogador que, sendo o mais hábil do universo, também é difícil lembrar jogadas nas quais tenha sofrido pênalti. Ele é inalcançável. Isso foi comprovado por Rico, que não pôde nem derrubá-lo em sua arrancada até Herrerín, um gol de safári entre um bosque de jogadores de vermelho e branco deixados para trás.</i></div>
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<i><br /></i></div>
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<i>Em uma década, Messi já soma 23 títulos com a camisa azul-grená, um a menos que Xavi. Treze deles, dos grandes (incluindo o Mundial de Clubes da Fifa e a Liga dos Campeões da Europa), quase o dobro dos conquistados pelo Real Madri nas doze temporadas sob o atual mandato presidencial (sete). A Pulga, como ele é conhecido, não só superou o Real Madri, como também fez sucumbir o último grande Manchester United e deixou na sarjeta o Athletic por três vezes. Tão pouca resistência encontra que em dez anos só perdeu três finais de clubes: duas Copas do Rei diante do Real e uma Supercopa diante do Sevilha. Além disso, não há ninguém mais confiável na hora decisiva. Talvez porque em Messi não se note um jogador angustiado. Seu caráter peculiar faz com que pareça estar sempre fazendo festa em seu quintal particular.</i></div>
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<i><br /></i></div>
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<b><i>Ele nem se altera</i></b></div>
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<i><br /></i></div>
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<i>Vimos isso mais recentemente no sábado. Quando o árbitro deu o apito final, Messi nem se alterou. Neymar, no meio do campo, se pendurou em seus ombros e teve de chegar o animado Luis Suárez para extrair um sorriso do argentino. Messi expressa tudo no jogo. A bola é sua única liturgia. Ele é desconcertante assim, a ponto de fazer uma cara de antissocial com úlcera ao se deixar fotografar com um torcedor do Athletic na praia de Castelldefels enquanto contempla seu filho entre um gole de mate e uma toalha qualquer. Não é deste mundo, e acabará esgotando não só os rivais, como também seus mais devotados fãs. Acabam-se os adjetivos… Resta a Juventus, adversário do próximo sábado na final da Liga dos Campeões da Europa, e quem sabe quantos segredos ainda guarda este jogador do outro mundo. Porque Messi transcende Messi.</i></div>
Coisas do Mundo, Minha Nêgahttp://www.blogger.com/profile/10176436942034049161noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3917296745580674665.post-19933553895835199462015-05-11T06:25:00.000-07:002015-05-11T06:29:36.209-07:00Pedras, transgênicos e o Pinto que explodia<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgq9wKVifXiP45IfYPSRJSnf6iob7dafzEgXNf6C2CUAKRh3PBGt2F6rfZ0o0TcD8Nmes66h_HhjVww_nKRuFuNLHr7eDO_J-0BfS3Yh8pb7xIVsAXisIANnxNki5WRwDYtGtVy7sqWIVc/s1600/tran.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="257" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgq9wKVifXiP45IfYPSRJSnf6iob7dafzEgXNf6C2CUAKRh3PBGt2F6rfZ0o0TcD8Nmes66h_HhjVww_nKRuFuNLHr7eDO_J-0BfS3Yh8pb7xIVsAXisIANnxNki5WRwDYtGtVy7sqWIVc/s400/tran.jpg" width="400" /></a></div>
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<b><i><br /></i></b></div>
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<b><i>José Mauro Freitas </i></b></div>
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<i><br /></i></div>
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<i>A boçalidade que domina nossa esfera pública não tem fim. Enquanto todos ficam a se apedrejar, só quem parece estar vencendo, se é que há vencedores, são as pedras. Estão aí há muitos bilhões de anos. São muito mais vetustas que nossas criações transgênicas recentes. Mas aqui gostamos das criações humanas, mesmo quando elas potencialmente possam vir a se comportar mal. Pelo menos me parece que é assim que o congresso brasileiro pensa, pois acaba de modificar a lei que obrigava os fabricantes e produtores informar ao consumidor que há transgênicos nos produtos que compramos. Uma espécie de proteção. Só um afeto irracional como esse pode justificar voltar atrás em uma decisão e ir contra tudo o que vem sendo debatido sobre o assunto.</i><br />
<i><br /></i></div>
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<i>Não demonizo transgênicos. Porém, nunca imaginei um congresso que aprova uma lei que impede o consumidor de saber o que compra. Ética e transparência, definitivamente, não têm sido práticas correntes da nossa atividade parlamentar nesses tempos sombrios de aridez intelectual. </i></div>
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<i><br /></i></div>
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<i>Esse caso lembrou-me a famosa polêmica envolvendo o Nobel de economia Milton Friedman e o Ford Pinto. Friedman defendeu em um artigo dos anos 70 (The Social Responsibility of Business Is to Increase Its Profits) uma posição que, como o título deixa claro, pode ser sumarizada na seguinte frase: “A responsabilidade social da empresa consiste em aumentar seus próprios lucros”. Desde que respeitando as regras do jogo e a transparência, não cabe a elas e seus diretores definir o que é socialmente relevante. Empresas e corporações existem para dar lucro e essa é a razão da sua existência. </i></div>
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<i>E a regras do jogo e a transparência? Também não cabe às empresas decidir quais serão estes limites. São os consumidores livres da sociedade civil (entenda-se, o livre-mercado) e os mecanismos de controle sociais legítima e democraticamente estabelecidos (entenda-se, as agências reguladoras e os tribunais) quem devem se encarregar de estabelecer essas fronteiras.</i></div>
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<i><br /></i></div>
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<i>É aí que o Pinto entra na história. No começo dos anos 70s, a montadora Ford estava bastante pressionada pela concorrência, principalmente com a entrada dos modelos japoneses, menores, mais econômicos e baratos, no mercado americano. Os diretores da Ford então se apressaram para lançar, o mais rápido possível, um modelo com essas características. Se a pressa ou o acaso foram inimigos da perfeição é difícil dizer, mas o fato é que o Ford Pinto, ainda na sua fase de testes, mostrou um erro de design literalmente fatal. No caso de uma colisão traseira a mais de 32 Km/h, o tanque de combustível do veículo não só era destruído como também o combustível era lançado para dentro do carro, encharcando tanto os assentos do condutor quanto o de passageiros. Como nesse tipo de colisão fagulhas são frequentes, o resultado final era que o Pinto explodia em uma enorme bola de fogo.</i></div>
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<i><br /></i></div>
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<i>Quanto aos padrões legais (entenda-se, as regras do jogo), mesmo que questionáveis, a empresa estava segura, já que a legislação americana exigia que o tanque de combustível deveria resistir intacto a uma colisão ATÉ 32 Km/h. Já quanto à transparência, a banda tocou diferente. O cálculo feito internamente pela montadora estimou que seria muito mais caro redesenhar o projeto (o custo unitário seria de apenas 11 dólares, mas em torno de 137 milhões de dólares no total), do que pagar as indenizações por mortes, queimaduras e danos materiais (estimadas pela empresa em aproximadamente 49 milhões). O presidente da empresa Lee Iacocca então decidiu lançar o Pinto incendiário no mercado assim mesmo em 1971. Claro, sem que os consumidores fossem alertados dos riscos que corriam ao adquirir o veículo.</i></div>
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<i><br /></i></div>
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<i>Em 1974 o NHTSA (National Highway Traffic Safety Administration, agência governamental americana responsável pelos padrões de segurança dos automóveis e cujo lema é “salvar vidas, prevenir lesões e reduzir os acidentes de veículos”), declarou que não haveria evidências suficientes para um recall do Ford Pinto por motivos de acidentes com fogo. Apenas em 1977 o jornalista Mark Dowie, em um artigo na revista Mother Jones, revelou o memorando interno da Ford e sua sinistra análise de custo benefício. </i></div>
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<i>Foi nesse mesmo ano que Friedman e o Ford Pinto acabaram por se encontrar. Durante uma série de conferências feitas para TV, Friedman foi confrontado com essa questão. Sua resposta foi coerente, fiel a suas ideias, mas deixou de lado um ponto essencial. Argumentou que não é possível quantificar o valor da vida humana e que as corporações só podem trabalhar com uma contabilidade viável. Mais que isso, que a verdadeira questão é que o consumidor é quem deve ser livre para decidir quais riscos ele quer assumir e quanto ele está disposto a pagar por isso.</i></div>
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<i>Entretanto, e essa é a questão fundamental, ele não levou em conta o fato de que a corporação sabia do risco e não alertou os seus possíveis consumidores. Como o consumidor seria livre para decidir quais riscos e quanto está disposto a gastar se ele não sabe sequer que o risco existia de fato? Quantos compradores, se soubessem do defeito, estariam dispostos a pagar 11 dólares a mais por um carro mais seguro?</i></div>
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<i>Em economia esse é um problema complexo relativo à questão da informação assimétrica, quando um ou mais agentes econômicos detêm mais informações que o outro lado em uma transação. Essa assimetria, por sua vez, está diretamente relacionada com o risco moral, a seleção adversa e o comportamento de rebanho. George Akerlof, Andrew Spence e Joseph Stiglitz dividiram o Nobel de economia em 2001 justamente por estudos nesse campo.</i></div>
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<i><br /></i></div>
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<i>Voltando aos transgênicos, não acho razoável esperar que o comportamento das corporações na área de alimentos seja diferente do comportamento das do ramo de automotores ou qualquer outro ramo. As corporações da área de petróleo e combustíveis e as do ramo do tabaco são exemplos clássicos. Porém, quando se trata do parlamento nas democracias, espera-se outra postura. A função dos parlamentos, por outro lado, se é que no mundo de hoje pode-se falar em outro lado, não é aumentar o lucro das corporações. Corporações devem satisfação aos seus acionistas. Parlamentos devem defender os interesses de seus cidadãos e essa é a razão de sua existência. Desta feita, não me parece igualmente razoável, e me arisco a achar que até um paladino do livre-mercado como Friedman concordaria com isso, que este contribua deliberadamente para um aumento da assimetria e roube aos cidadãos um direito já adquirido de ser melhor informado sobre o que está comendo. Pode ser que, potencialmente ou de fato, esses produtos sejam bombas incendiárias biológicas ou ambientais. Ou talvez não. Só com mais informação poderíamos iluminar esse debate. Mas sejam quais forem as conclusões dos estudos científicos, quero ser informado e ter a liberdade de decidir se desejo consumi-los ou não.</i></div>
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<i><br /></i></div>
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<i>Porém, tem gente achando que menos informação é bom para a sociedade. Aliás, tenho muita dificuldade de entender como alguém pode ter um censo moral azas pervertido para achar que que essa é uma boa ideia. Mas foi exatamente o que 320 dos nossos ilustres parlamentares fizeram no dia 27 de abril. Repito: roubaram ao cidadão brasileiro o livre direito de decidir se quer assumir o risco e consumir um produto ou não. Para quem prefere a troca de pedradas em vez de discutir seriamente as implicações de decisões dessa natureza, a lista dos parlamentares com seus respectivos partidos é facilmente encontrada na internet. Troquem pedradas à vontade. Enquanto as pedras voam, nosso parlamento dá mais uma contribuição para que empurrem qualquer coisa por nossa garganta abaixo. Nesse contexto e diante de tamanha imobilidade e torpeza de nosso debate político, não resta muito a não ser desejar bom apetite a todos.</i></div>
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<i><b><br /></b></i></div>
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<i><b>José Mauro Freitas, sociólogo de grande linhagem, é amigo de grande coração. Casado com Julieta, filha do Mestre dono da música que dá título ao blog, é mineiro, flamenguista, amante de "O Poderosos Chefão" e arrebenta no chorinho e no samba ao som de um violão. </b></i></div>
Coisas do Mundo, Minha Nêgahttp://www.blogger.com/profile/10176436942034049161noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3917296745580674665.post-27487892016310570732015-03-31T00:28:00.001-07:002015-04-03T23:04:23.596-07:00Um musical para história: Sambra e os cem anos de um negro forte e destemido <div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhlSMccYuXjnEtf5p9M5fMafobO03JkSYpQgziTRwDUi077kfXezHs2F27hyphenhyphenfSMdWDFd5vPrVB4iwXk0idtZgXIzLqDjlnShYo2AxMZ9T46x28Wg-44o4m11xeuCjCcFpX9QSlboQ8IB5o/s1600/001-SamBRA_Estreia_Juliana-Cerdeira-621.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhlSMccYuXjnEtf5p9M5fMafobO03JkSYpQgziTRwDUi077kfXezHs2F27hyphenhyphenfSMdWDFd5vPrVB4iwXk0idtZgXIzLqDjlnShYo2AxMZ9T46x28Wg-44o4m11xeuCjCcFpX9QSlboQ8IB5o/s1600/001-SamBRA_Estreia_Juliana-Cerdeira-621.jpg" height="266" width="400" /></a></div>
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<b>Foto Juliana Cerdeira</b></div>
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Perdoe-me se você é fã de alguma das bandas que tocaram no tal Lollapalozza (??) lá no distante e sem graça Autódromo de Interlagos, mas o grande espetáculo desta semana em São Paulo, quiçá no Brasil, foi sem dúvida o fabuloso musical <b>“Sambra”</b>, escrito e conduzido por <b>Gustavo Gasparan</b>i, renomado diretor de sucesso que já brindou o público com <i>“Otelo da Mangueira”</i> (2005), <i>“Opereta carioca</i>” (2008) e <i>“Samba Futebol Clube”</i> (2014).</div>
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O Espaço das Américas, no bairro da Barra Funda (o berço do samba de São Paulo), recebeu entre os dias 26 e 29 talvez a mais bela exaltação já vista àquele “que agoniza, mas não morre”. Nem morrerá. Estrelado por <b>Diogo Nogueira</b> e participação especial da grande interprete <b>Beatriz Rabello</b>, entre outros raros talentos, <b>“Sambra”</b> reverencia a história de cem anos do nosso bom e velho samba – o primeiro, “<i>Pelo Telefone</i>”, composição de Ernesto dos Santos (<b>Donga</b>) e do jornalista <b>Mauro de Almeida</b>, foi gravado em 1915. A propósito, a história desse clássico é relembrada com sensibilidade e uma pitada de bom humor com o encantável do terreiro de <b>Tia Ciata</b>, na Praça XI, espaço mítico em que os mestres se encontravam para fazer os primeiros acordes, ainda sob a influência das batidas das senzalas.<br />
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgXx7sgepd4VcJHNk5QNf3vtdC6F89tYTCDc4rVwRi2R75vfDcB2ZW6UZvwKcV1EbzPuVRXjm73Wt2LWobqPZN6x6h18dEHFjnKPXD3dtXTdTndf96gJQnA4f_UIIOoFOBAiVkwDEmp0bQ/s1600/10450277_812528738783341_7882387048600540277_o.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgXx7sgepd4VcJHNk5QNf3vtdC6F89tYTCDc4rVwRi2R75vfDcB2ZW6UZvwKcV1EbzPuVRXjm73Wt2LWobqPZN6x6h18dEHFjnKPXD3dtXTdTndf96gJQnA4f_UIIOoFOBAiVkwDEmp0bQ/s1600/10450277_812528738783341_7882387048600540277_o.jpg" height="298" width="400" /></a></div>
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A despeito de apreciar bastante, não sou um especialista em musicais, contudo posso dizer que <b>Gasparani</b> nos brinda com um espetáculo robusto, bem pesquisado e executado com riqueza de detalhes. Músicos e artistas do mais alto gabarito, figurinos e cenários irretocáveis trazem em pouco mais de duas horas as alegrias, tristezas, brigas, parcerias, perseguições, sucessos, amores e desamores do mais genuíno ritmo do povo brasileiro.</div>
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O show percorre um século de casos e histórias saborosas de compositores e de canções que marcaram época: do maxixe <i>“Jura”</i>, composição de <b>Sinhô</b> (com <b>Pixinguinha</b> e <b>João da Baiana </b>formavam a <i>‘Santíssima Trindade do Samba’</i>), ao pagode do <b>Cacique de Ramos, </b>descoberto pela madrinha <b>Beth Carvalho</b>. Do samba do morro de <b>Ismael Silva</b> (“<i>Se Você Jurar</i>”) com a sua “<b>Deixa Falar</b>” <b>-</b> a primeira escola de samba da história - ao gingado do rapaz folgado <b>Wilson Batista </b>(<i>“Lenço no Pescoço</i>”) – aliás, para exaltar a velha boêmia dos malandros, o diretor dedica um capítulo especial no qual os artistas dançam primorosamente ao som de “<i>A Volta do Malandro</i>”, de <b>Chico Buarque</b>. Não poderia faltar, é claro, o terno de linho engomado, o chapéu panamá e o sapato bicolor para ilustrar a fina elegância da primeira metade do século XX. <b>Diogo Nogueira</b> encarna ainda um <b>Zé Pelintra</b> impecável: a <i>encruziada</i> ganha o palco e, com a licença do “<b>Seu Zé</b>”, louva toda a boêmia da Lapa de outrora.<br />
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Em seus dois atos e 14 quadros (70 músicas cantadas e 25 recitadas), o espetáculo percorre o <b>Teatro de Revista</b> dos anos 40, os musicais da <b>Atlântida</b> (momento em que <b>Bruno Quixotte </b>e <b>Patrícia Costa</b> relembram deliciosamente o sucesso <i>“Boneca de Piche</i>”, de <b>Ary Barroso - </b>imortalizado por <b>Grande Otelo</b> e <b>Elizeth Cardoso</b>) e os inesquecíveis monstros sagrados da época de ouro do rádio: <b>Orlando Silva</b>, <b>Mário Reis</b>, <b>Francisco Alves</b>, <b>Emilinha Borba</b>, <b>Linda Batista</b>, <b>Dalva de Oliveira</b>, <b>Araci Cortes</b>, <b>Aracy de Almeida</b> e seus sucessos nas ondas da <b>Rádio Nacional</b>. <b>Ary Barroso</b> e a gigante <i>"Aquarela do Brasil"</i>, nosso cartão de visitas lá no "estrangeiro"<i>,</i> ganham cores sem iguais. A <b>Bossa Nova</b> e seu cantinho e um violão de <b>Tom</b>, <b>Vinicius </b>e<b> João Gilberto</b>; o valente show “<b>Opinião</b>”, de <b>Zé Keti</b>, <b>Nara Leão</b> e <b>João do Vale</b>. Os festivais da <b>Record</b> e o <i>“Sinal Fechado”</i>, de <b>Paulinho da Viola</b>, e “<i>Roda Viva</i>” e <i>“Cálice</i>”, de <b>Chico Buarque</b>. Nesse instante, a bela e talentosa<b> Beatriz Rabello</b> homenageia o lendário “<b>Rosa de Ouro</b>”, grupo formado por<b> Elton Medeiros</b>, <b>Paulinho</b>, <b>Jair do Cavaquinho</b> e <b>Nelson Sargento</b>, e entoa a belíssima e emocionante “<i>Manhã de Carnaval</i>”, também de <b>João Gilberto</b> – um dos pontos altos da noite.<br />
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<br /></div>
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<b>“Sambra”</b> não esquece dos diversos recantos de poetas e trovadores: em <b>Mangueira</b>, o mar da poesia se alastra com <b>Cartola</b> e suas eternas <i>“Sala de Recepção”, “Alvorada”, “Ao Amanhecer” e “As Rosas não Falam</i>”; de <b>Nelson Cavaquinho</b>, <i>“Folhas Secas”</i> e <i>“Pranto de Poeta”</i>; <i>“Sei Lá Mangueira”,</i> de <b>Paulinho da Viola</b>, e <i>“Morte de um Poeta”</i>, de <b>Totonho </b>e<b> Paulinho Rezende</b>, imortalizada pela marrom <b>Alcione</b>, completam a exaltação à verde e rosa. Já a homenagem à <b>Vila Isabel</b> vem enfeitiçada pela lua dos amantes, cenário em que <b>Noel</b> e <b>Martinho da Vila</b> fazem um encontro lúdico cantando, juntos, <i>“Feitiço da Vila”</i>. Do morro de São Carlos, o <b>Estácio</b> de <b>Ismael</b> e os seus professores. Pegando o trem para o subúrbio e descendo em Madureira cantamos sambas imortais de <b>Silas de Oliveira</b> e <b>Mano Décio da Viola</b>, craques do <b>Império Serrano</b>. Em <b>Oswaldo Cruz,</b> A <i>Majestade do Samba</i> é representada pela belíssima <b>Patrícia Costa</b>, neta de <b>Claudio Bernardo da Costa</b>, um dos fundadores da<b> Portela</b>. Com sua águia em punho, declama um amor imenso à azul e branco de <b>Paulo</b>,<b> Caetano</b>,<b> Natal </b>e <b>Rufino.</b> “<i>Foi um Rio que passou em minha vida</i>” leva os corações da multidão. </div>
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<br /></div>
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Um capítulo especial é dedicado ao velho <b>João Nogueira</b>, o gênio da raça. Sensivelmente emocionado, <b>Diogo</b> faz uma linda homenagem ao velho dono do <b>Clube do Samba</b>. Como liberdade poética, <i>“Desde que o Samba é Samba”</i>, de <b>Gil </b>e<b> Caetano</b>, é palco para um delicioso bate-papo entre <b>Tia Ciata</b> e o personagem de <b>Quixotte</b>, o samba em forma de moleque esperto, que venceu obstáculos, desceu o morro, ganhou os salões da sociedade e se tornou “imenso”.<br />
<br /></div>
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<br /></div>
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São tantas histórias, canções inesquecíveis, poesias eternas. <b>“Sambra”</b> é uma obra prima que em nada deve para os musicais estrangeiros. É a redescoberta da nossa mais alta cultura. Não é todo dia que podemos “ver”, "ouvir” e "cantar" com <i>Cartola, Pixinguinha, Ismael Silva, Noel Rosa, Grande Otelo, Elizeth Cardoso, Martinho da Vila, Beth Carvalho, Mario Reis, Araci Cores, Cyro Monteiro, Jorge Aragão, Linda Batista, Silas de Oliveira, Ataulfo Alves, Paulinho da Viola, Donga, Tia Ciata, Dona Ivone Lara, João Nogueira, João Gilberto, Wilson Batista, Luís Carlos da Vila, Moreira da Silva, Carmen Miranda, Lupcínio Rodrigues, Assis Valente, Nelson Sargento, Clara Nunes, Chico Buarque, Aracy de Almeida, Dalva de Oliveira</i>...lamento, sofrimento, negro forte e destemido. A voz do morro. Samba! Sambra!<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhqBhe1ZPRFMygAWhYw4VsuMpnkuze3Awpr3dM45_5vp2L1ipz-0lLlPMsbOAsDPgDfhH9RZO9j1GFHALy2bfYymZe7mdB03NLO0ZFQrYYbn1KykqTIGS-n2WnyR4ZkfItIq4qdc6rzSl8/s1600/sambra2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhqBhe1ZPRFMygAWhYw4VsuMpnkuze3Awpr3dM45_5vp2L1ipz-0lLlPMsbOAsDPgDfhH9RZO9j1GFHALy2bfYymZe7mdB03NLO0ZFQrYYbn1KykqTIGS-n2WnyR4ZkfItIq4qdc6rzSl8/s1600/sambra2.jpg" height="208" width="400" /></a></div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEia-QLj2PcBxfKjGNH26pUEiWeM6hpN7uqqi5ryStp3ZD1Ejo4SY6g600CZ5U_-5mVInkCMMTVPxbHXjwHkz8j0cerYOfKdX6bcl41cCcvPiG5cfQ98m8SZEjcP-nDPa3Eu8uelaIIdrKs/s1600/sambra5.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEia-QLj2PcBxfKjGNH26pUEiWeM6hpN7uqqi5ryStp3ZD1Ejo4SY6g600CZ5U_-5mVInkCMMTVPxbHXjwHkz8j0cerYOfKdX6bcl41cCcvPiG5cfQ98m8SZEjcP-nDPa3Eu8uelaIIdrKs/s1600/sambra5.jpg" height="300" width="400" /></a></div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiEPAXQsPqKygsOiKlrQPznMk9mInq5CJzjct5dBtguoAU4Qg8FqQxUCT3ABnH6SRF7-ZIlMEzuwqBuNtWTWiJcgy0g1e2nw0lq3TwCW_fRm8JQ7NlTGdCt2hrf2gNW-l48w1n-B_QzAaQ/s1600/sambra3.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiEPAXQsPqKygsOiKlrQPznMk9mInq5CJzjct5dBtguoAU4Qg8FqQxUCT3ABnH6SRF7-ZIlMEzuwqBuNtWTWiJcgy0g1e2nw0lq3TwCW_fRm8JQ7NlTGdCt2hrf2gNW-l48w1n-B_QzAaQ/s1600/sambra3.jpg" height="258" width="400" /></a></div>
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Coisas do Mundo, Minha Nêgahttp://www.blogger.com/profile/10176436942034049161noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3917296745580674665.post-28883798181632556202015-02-01T21:29:00.000-08:002015-02-01T21:31:38.474-08:00"O homem é o lobo do homem"<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjTH3tewDqPWFEVKnOiollZGP4CPE8qrihZ-9htS5GY2BabrM6pu0w01e4Wr0_5ABkmMDZrlqIfihoU-kBLYZSeOCgDa_TQuYxvQ8bZcqz7soNXe7dknEjWtCDMGCQDnWSaKQozWHHCeBE/s1600/leviata.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjTH3tewDqPWFEVKnOiollZGP4CPE8qrihZ-9htS5GY2BabrM6pu0w01e4Wr0_5ABkmMDZrlqIfihoU-kBLYZSeOCgDa_TQuYxvQ8bZcqz7soNXe7dknEjWtCDMGCQDnWSaKQozWHHCeBE/s1600/leviata.jpg" height="265" width="400" /></a></div>
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Assisti neste domingo <b>Leviatã</b>, filme russo dirigido por Andrey Zvyagintsev, premiado em Cannes e no Globo de Ouro - e competitndo pelo Oscar de melhor filme estrangeiro. São 2h20 minutos do declínio da sociedade russa, pós comunismo. O cenário é uma pequena cidade pesqueira do litoral russo, carcomida pelo tempo e pela crise econômica. Em meio a esse cenário belo e ao mesmo tempo assustador, um pai de família tenta manter a sua casa, objeto de desejo de um prefeito ladrão e beberrão, que conta ainda com o apoio do líder da igreja e de um poder estatal burocrata e corrupto. Um advogado de Moscou tenta ajudar o amigo a não perder o seu bem e se envolve em diferentes situações perigosas. Um filme denso e tenso, que retrata o atual momento do país dos czares e dos bolcheviques: a crise de representação política, a corrupção em larga escala, e as complexas relações familiares dão o tom desse belo filme russo. Como explicou Thomas Hobbes, o "homem é o lobo do homem".<br />
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Vale o ingresso.</div>
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Coisas do Mundo, Minha Nêgahttp://www.blogger.com/profile/10176436942034049161noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3917296745580674665.post-79758296142485179562015-01-30T19:46:00.002-08:002015-02-18T20:33:21.405-08:00Ensaio com o rei da Mangueira <div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEixj-N82BO3ea_bGaMQeQvDEBBqE2pKPiXw-ytFnJAVdoC-C4x_cZ_nxNgK32ahydQ3Hwit3hRdCDj7pj3zde8YEhmb35l88ytkCRic7lrGqsU7DRVc4ph2E8c0dQ1uTUa41JefU1GSr2s/s1600/heriveltonmartins_mangueira.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEixj-N82BO3ea_bGaMQeQvDEBBqE2pKPiXw-ytFnJAVdoC-C4x_cZ_nxNgK32ahydQ3Hwit3hRdCDj7pj3zde8YEhmb35l88ytkCRic7lrGqsU7DRVc4ph2E8c0dQ1uTUa41JefU1GSr2s/s1600/heriveltonmartins_mangueira.jpg" height="266" width="400" /></a></div>
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<b>Herivelto Martins</b>, o compositor que mais reverenciou a Mangueira – e morreu triste por nunca ter sido homenageado pela Verde e Rosa – nos brindou com um memorável <b>Ensaio</b>, dirigido por Fernando Faro, em 1992. Histórias e causos de um verdadeiro bamba da nossa música, gênio, que conviveu com os maiores da raça. Aliás, ele é um deles.</div>
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<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="https://www.youtube.com/embed/Qxr3ILJubeg" width="420"></iframe></div>
Coisas do Mundo, Minha Nêgahttp://www.blogger.com/profile/10176436942034049161noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3917296745580674665.post-1430925356936887222015-01-29T19:50:00.003-08:002015-01-29T19:50:36.196-08:00Ella Fitzgerald - Summertime<br />
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhYvdLNSyl3v1JIIppPQLZgtqebziuITdp5_QGCVZ5dLSmfSlYvOLHI_Rt8W6Fcfy_Az20iwVF8wRVtsULToM1UqiFDoacrxUK7L38oJPSTdHr5Al0IYeUX_mXDCjq3-T4FAvYiF3hOrNw/s1600/ella+fitzgerald.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhYvdLNSyl3v1JIIppPQLZgtqebziuITdp5_QGCVZ5dLSmfSlYvOLHI_Rt8W6Fcfy_Az20iwVF8wRVtsULToM1UqiFDoacrxUK7L38oJPSTdHr5Al0IYeUX_mXDCjq3-T4FAvYiF3hOrNw/s1600/ella+fitzgerald.jpg" height="265" width="400" /></a></div>
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Difícil não se apaixonar pela voz possante dessa negra maravilhosa. <b>Ella</b> nos deixou em 1996, mas seu jeito especial de cantar ao som das melhores <i>big bands </i>continuará para sempre. </div>
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<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="https://www.youtube.com/embed/XivELBdxVRM" width="420"></iframe></div>
Coisas do Mundo, Minha Nêgahttp://www.blogger.com/profile/10176436942034049161noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3917296745580674665.post-33367406144511350342015-01-28T18:53:00.002-08:002015-01-28T18:56:31.041-08:00Documentário: Monarco e a arte mais pura do samba<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhB9sVMHwcQY1d-4qfq02P9deaA6Yoct9ghGqEbVSUSOdlA9DGbCVsUvK16OMWRxtbqCHivB4xVpwEirj0m0o8NB0FpuEASCakDuwsZBQgQGAZHNvgaAicLdR4twDkDxkf-VcpLjuNNAsY/s1600/monarco-portela_paulinho.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhB9sVMHwcQY1d-4qfq02P9deaA6Yoct9ghGqEbVSUSOdlA9DGbCVsUvK16OMWRxtbqCHivB4xVpwEirj0m0o8NB0FpuEASCakDuwsZBQgQGAZHNvgaAicLdR4twDkDxkf-VcpLjuNNAsY/s1600/monarco-portela_paulinho.jpg" height="225" width="400" /></a></div>
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Documentário “<i>Roda de Samba com Monarco</i>”, dirigido brilhantemente por Ricardo Santana, traz histórias saborosíssimas desse grande baluarte da nossa música. Portela, Oswaldo Cruz, Madureira, Paulinho, Zeca, Ismael, Paulo da Portela, Cartola, Noel, Martinho, Velha Guarda...sambas históricos, de arrepiar o mais pacato ser humano. <b>Monarco</b> é gênio da raça!</div>
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<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="//www.youtube.com/embed/Og580dy2V_Q" width="560"></iframe></div>
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Coisas do Mundo, Minha Nêgahttp://www.blogger.com/profile/10176436942034049161noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3917296745580674665.post-86866642886895674042015-01-26T21:52:00.000-08:002015-01-26T21:52:05.200-08:00Madureira <iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="//www.youtube.com/embed/K7KpgDc2YLQ" width="420"></iframe><br />
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Grande samba de <b>Arlindo Cruz</b>, esse compositor oriundo da Serrinha e do Cacique de Ramos, que tão bem homenageia esse bairro mágico do Rio de Janeiro: Madureira. Linda poesia, de melodia tão deliciosa. Irretocável:<b> Meu Lugar</b></div>
Coisas do Mundo, Minha Nêgahttp://www.blogger.com/profile/10176436942034049161noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3917296745580674665.post-60875131025763543912015-01-12T09:19:00.003-08:002015-01-12T09:19:26.507-08:00"Marcello! Venha aqui. Apresse-se".<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiC8rFXFsNU4uGhpMSGRML-aYNO-tpfKgYefU55D9aIdILv1vnBcsi8wxA9U9PkKLmpKclBl9QrWPmaZ_WUlcMoCoi6qo2dlUwiWu8Vu_zvVAcDjpIcjsuaznmDxMTTuxDJtJe5Qes72XI/s1600/Dolce_vita.gif" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiC8rFXFsNU4uGhpMSGRML-aYNO-tpfKgYefU55D9aIdILv1vnBcsi8wxA9U9PkKLmpKclBl9QrWPmaZ_WUlcMoCoi6qo2dlUwiWu8Vu_zvVAcDjpIcjsuaznmDxMTTuxDJtJe5Qes72XI/s1600/Dolce_vita.gif" height="253" width="400" /></a></div>
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Os amantes do cinema estão de luto. Morreu a atriz sueca <b>Anita Ekberg</b>, aos 83 anos. A musa, eternizada por <b>Federico Fellini</b>, provoca suspiros até hoje por ter participado uma das mais belas seqüências do cinema. Em “<i>La Dolce Vita</i>”, de 1960, filme dirigido pelo Mestre, Anita (que interpreta uma famosa atriz de Hollywood) banha-se na Fontana di Trevi, em Roma, vestindo um longo preto, sem alças, e colado ao corpo. Com seu jeito doce e irresponsável, convida o personagem Marcello (vivido por <b>Marcello Mastroiann</b>i) para deliciar-se com ela. A reportagem da Zero Hora, que divido aqui com os amigos, diz que a musa teve uma morte triste, longe da fama que um dia a consagrou com uma das mais belas deusas da sétima arte.</div>
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<b>Zero Hora - <a href="http://zh.clicrbs.com.br/rs/entretenimento/noticia/2015/01/o-fim-melancolico-de-anita-ekberg-musa-de-a-doce-vida-4679218.html">O fim malancólico de Anita Ekberg, a musa de A Doce Vida </a></b><br />
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<b><a href="http://zh.clicrbs.com.br/rs/entretenimento/noticia/2015/01/luis-fernando-verissimo-conta-como-foi-a-noite-em-que-viu-anita-ekberg-na-fontana-di-trevi-4679240.html">Luis Fernando Verissimo conta como foi a noite em que viu Anita Ekberg na Fontana di Trevi </a></b><br />
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg5AykE8ghD6Wevx7p1oQAnCTNIv6wOVutSKqHDlc6yPhGlfZmTDrEE7qA8mD7rx7oMIXGVW5MUwr77wEdDQhnEue3C8EnU8Sezgafsv7DjRtdS6M9KNHB0bsnzgBhWSaS5gxvEsdW-1SM/s1600/120779033_01_378415c.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg5AykE8ghD6Wevx7p1oQAnCTNIv6wOVutSKqHDlc6yPhGlfZmTDrEE7qA8mD7rx7oMIXGVW5MUwr77wEdDQhnEue3C8EnU8Sezgafsv7DjRtdS6M9KNHB0bsnzgBhWSaS5gxvEsdW-1SM/s1600/120779033_01_378415c.jpg" height="266" width="400" /></a></div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgd9tPs9XqYhKbeX2Rht5C6-yBxa68iU0uohwYW-vaEuBxovIPmLrBeSVp8E18kgS6unacp6u51brK_WahtNH7Mi0wP9ERTb0YKeJ7YGkO1RQqY01LulyzWGRmugMUV4NQm6U7LioVErnI/s1600/anitaekberg.jpeg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgd9tPs9XqYhKbeX2Rht5C6-yBxa68iU0uohwYW-vaEuBxovIPmLrBeSVp8E18kgS6unacp6u51brK_WahtNH7Mi0wP9ERTb0YKeJ7YGkO1RQqY01LulyzWGRmugMUV4NQm6U7LioVErnI/s1600/anitaekberg.jpeg" height="400" width="400" /></a></div>
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<br />Coisas do Mundo, Minha Nêgahttp://www.blogger.com/profile/10176436942034049161noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3917296745580674665.post-40463599239211523942015-01-08T20:37:00.000-08:002015-01-08T20:46:23.007-08:00"No, pagliaccio non son" PagliacciMaravilhoso Pavarocci.<br />
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<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="//www.youtube.com/embed/-kbi1EMcD3E" width="560"></iframe><br />
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<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="//www.youtube.com/embed/sUe2OnXIBEg" width="420"></iframe>Coisas do Mundo, Minha Nêgahttp://www.blogger.com/profile/10176436942034049161noreply@blogger.com0